Novos partidos
A esquerda articula um partido contra o PT,
mas o
fundamental é a reforma política
Eliane Cantanhêde
Enquanto políticos, analistas e meros mortais não temos
ideia para onde – e para quem – a monumental crise está nos levando, surge o
primeiro movimento claro de reaglutinação de forças, e é à esquerda. As
articulações projetam, inclusive, um novo personagem nesse atual cenário vazio,
desolador: Guilherme Boulos.
Lula é réu cinco vezes e está às vésperas da primeira
sentença do juiz Sérgio Moro, por causa do triplex. O PT vem de duras derrotas
e seus principais líderes caíram, um a um, como castelo de cartas. Dilma
Rousseff, abraçada à ruralista Kátia Abreu, abafou o MST. Quem entrou no vácuo
foi o MTST. A esquerda rural anda em baixa, a esquerda urbana está em alta.
Alguém tem ouvido falar de João Pedro Stédile? Ele
mobilizou a militância do MST e, por motivos diferentes, conquistou vitórias e
amplos espaços na mídia nos anos FHC e Lula, mas a reforma agrária andou para
trás com Dilma e, sabe-se lá por quantos outros motivos, ele foi sumindo,
sumindo...
Enquanto isso, Boulos foi ganhando musculatura. É
interlocutor assíduo de Lula, tem tropa leal e enche as ruas para endeusar ou
infernizar quem e quando quer. Como Stedile, é inteligente e tem liderança. A
diferença é que Stedile parece paralisado num passado que desmoronou e Boulos
acena com o futuro. Não necessariamente como candidato, mas certamente como
ator político.
Segundo a repórter Cátia Seabra, Boulos participou de
reunião, nesta semana, com representantes da esquerda do PT, do PSOL e de
movimentos alinhados, para discutir a criação de um partido, capaz de virar a
página do PT, que virou caso de polícia, recuperar o ideário e a credibilidade
da esquerda.
Participaram Tarso Genro, ex-ministro da Justiça de Lula,
ex-governador do Rio Grande do Sul e um dos ideólogos do PT, e o senador
Lindbergh Farias, ex-presidente da UNE nos bons tempos e agora preterido para a
presidência do PT pela senadora Gleisi Hoffmann, apoiada por Lula.
E quem não participou? Lula, com um detalhe dado pela
repórter: a reunião foi na segunda e Lindbergh se encontrou com Lula na terça,
mas não falou nada sobre ela. Consta que Lulinha Paz e Amor ficou uma fera.
Com a Lava Jato fazendo a maior faxina política da
história, com a casa e os partidos de pernas para o ar e os políticos feito
baratas tontas, o momento é ideal para identificar sobreviventes e novas
lideranças e reaglutinar as forças de esquerda, centro esquerda, centro, centro
direita e direita.
Surgirá daí o equilíbrio político do País, com um aceno
importante, e equilibrado, do procurador-geral da República, Rodrigo Janot: pau
puro para quem roubou, corrompeu e foi corrompido na “lista Janot-Fachin”, mas
punição calibrada para os que aderiram à cultura das campanhas e doações, mas
não enriqueceram com ela.
Com isso, dá para passar a peneira e abrir novas
perspectivas para o País, lembrando sempre que a democracia é intocável e que
todos os políticos têm direito de atuar, mas dentro das suas regras. Assim como
a esquerda se rearticula, as demais forças também. Entretanto, a extrema
direita defender a volta da ditadura militar não é articulação, é ameaça.
Reaglutinação implica novas lideranças, debates sobre o
País e reunião de pessoas que veem o mundo, o Brasil, a política, a economia, o
papel do Estado e a força do setor privado sob a mesma ótica. É fundamental
nesse processo excluir os condenados pela Justiça e os que criaram falsos
partidos só para levar vantagem. Logo, reaglutinação partidária sem reforma
política é chover no molhado.
Trio
improvável. Gilmar,
Lewandowski e Marco Aurélio votam juntos. Quem diria?
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