Cabral descobriu a cadeia
Primeiro foi o navegador português, Pedro Alvares Cabral,
descobridor de nossa Terra de Santa Cruz, mais tarde repaginada para Brasil em
homenagem a uma árvore que brotava em abundância por aqui, a incentivar seus navegadores a negociarem com os índios. Como naquela época
não havia dinheiro para acertar contas, os índios, verdadeiros donos da terra “descoberta”,
acabaram recebendo espelhos, pentes e
outras quinquilharias. Começava ali, logo na chegada de Cabral, a ser institucionalizada
a propina. Pode ficar, mas me dá algo em troca, devem ter dito os índios para
os navegantes. A partir dali, não parou mais.
Ontem (16) a PF prendeu o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, por comandar um esquema de
compra de votos na eleição passada e, certamente, em outras. Na verdade,
segundo o juiz que determinou a prisão, Garotinho era quem dava as cartas na
prefeitura comandada por sua mulher, dona Rosinha, embora fosse apenas
secretário de Governo.
Garotinho foi para a prisão, prestou depoimentos e, de
repente, sofreu um ataque de alta de pressão arterial. Imediatamente, a pedido
de seu advogado e de médicos de plantão, foi conduzido para o Hospital Souza Aguiar.
O causídico que defende Anthony, disse que ele corre o risco de sofrer um AVC,
então entrou com pedido de habeas corpus que foi de pronto negado. Quando
deixar o hospital, Garotinho deve voltar para a cela da Polícia Federal.
Hoje pela manhã, mais um ex-governador do Rio de Janeiro
foi preso. Sérgio Cabral, do PMDB, foi levado para a carceragem da PF em mais
uma ação da Operação Lava Jato, acusado de chefiar um esquema criminoso que
movimentou mais de 200 milhões de reais em propinas a agentes estatais em obras
executadas com recursos federais. A ação foi montada com base na delação
premiada do dono da Delta Engenharia, o empreiteiro Fernando Cavendish, e em
relatos de diretores da Carioca Engenharia e Andrade Gutierrez. São investigados os
crimes de organização criminosa, corrupção passiva, corrupção ativa, lavagem de
dinheiro, entre outros.
Quando falei, lá no começo, que a troca de quinquilharias
oferecidas pelos navegadores aos índios dava início a institucionalização da
propina, imagino que todos tenham se dado conta que, no Brasil, nada é feito,
em se tratando de administração pública, sem que alguém ganhe alguma coisa por
fora. São milhões em sobre preço, propinas, agiotagem, presentinhos que
escorrem dos cofres públicos, ou seja, dos nossos bolsos, para os bolsos dos
espertinhos que, finalmente, parece que estão sendo levados para a cadeia.
É claro que nem todos os governantes, nem todos os
políticos, são corruptos, mas que a grande maioria tem culpa no cartório, podem
acreditar. Dificilmente se houve falar em algum setor da administração, em alguma
prefeitura do mais escondido rincão do Brasil, em que não haja um esquema de
desvio de verbas públicas.
Os espelhinhos, os colares, as quinquilharias de 1500,
agora valem milhões. Naquele ano, Cabral descobriu o Brasil, agora, 516 anos
depois, Cabral acaba de descobrir a cadeia da Polícia Federal. Tomara que não tenha esquecido um espelho para poder se pentear todas as manhãs.
Tenham todos um Bom Dia!
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