Eu sou teu sangue, meu velho!
Bem cedo da manhã a gente escutava os passos firmes do
pai, muitas vezes mais fortes pelo barulho provocado pelo taco das botas
militares, pela casa de soalho de madeira. Ficava no ar o perfume de seu
informe impecavelmente limpo e passado, quase que todos os dias, pela mãe que,
orgulhosa, levava meu pai até a porta para que ele fosse para o quartel.
Não sei por quantos anos acordei com o barulho do salto
do sapato, ou das botas, que meu pai usava quando se preparava para sair de
casa. Meu pai era um soldado e jamais deixou de ser exatamente aquilo que
aprendeu da rígida disciplina militar.
Mais tarde, quando já era um moço, deixei de ouvir os
passos firmes do pai pela casa. Vítima de uma trombose, meu pai deixou o
quartel e, no máximo, se escutava o barulho quase imperceptível de sua bengala
quando ele ainda tentava caminhar pela casa. Foram muitos anos sem o barulho do
salto dos sapatos ou das botas, depois da bengala do meu pai, até que
silenciassem definitivamente.
Meu pai, um soldado que nos deixou quando foi promovido a
Coronel, já não andava pela casa, mas sua figura nunca deixou de estar presente
em nossas vidas.
Hoje, depois de não sei quantos anos, sem ele, sem a Dona
Célia, minha mãe, sem meus outros sete irmãos, sinto um vazio enorme dentro do
peito quando lembro deles. Um vazio que, eu sei, é a saudade imensa que
deixaram na minha vida.
Ficaram as noras, os netos e os bisnetos do meu pai.
Ficaram, comigo, meus filhos e meus netos. Eles, de alguma forma, substituem o
vazio que o “velho Capitão Machado” deixou.
Sentado no meu escritório, olhando para as fotos que
tenho nas paredes, vejo a figura dele, da minha mãe, dos meus filhos, dos meus
netos e dos meus irmãos e tenho a certeza absoluta que valeu a pena ter vivido
até aqui. Que nunca fiquei sozinho!
Meu pai deixou um exemplo de vida, de superação, de
sabedoria, que, de alguma forma, tento sempre passar para meus filhos e peço
que passem para meus netos. Não sei se consigo, mas sei que jamais poderei
deixar herança maior para eles do que aquilo que me pai me ensinou.
Se neste Dia dos Pais eu tivesse que cantar uma música
que define muito daquilo que ficou em mim deixado pelo meu pai, eu cantaria que “Eu sou teu sangue, meu velho, teu silêncio e teu tempo. Velho, meu querido velho”.
Feliz Dia dos Pais!
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