domingo, 14 de agosto de 2016

BOM DIA!

Eu sou teu sangue, meu velho!

Bem cedo da manhã a gente escutava os passos firmes do pai, muitas vezes mais fortes pelo barulho provocado pelo taco das botas militares, pela casa de soalho de madeira. Ficava no ar o perfume de seu informe impecavelmente limpo e passado, quase que todos os dias, pela mãe que, orgulhosa, levava meu pai até a porta para que ele fosse para o quartel.

Não sei por quantos anos acordei com o barulho do salto do sapato, ou das botas, que meu pai usava quando se preparava para sair de casa. Meu pai era um soldado e jamais deixou de ser exatamente aquilo que aprendeu da rígida disciplina militar.

Mais tarde, quando já era um moço, deixei de ouvir os passos firmes do pai pela casa. Vítima de uma trombose, meu pai deixou o quartel e, no máximo, se escutava o barulho quase imperceptível de sua bengala quando ele ainda tentava caminhar pela casa. Foram muitos anos sem o barulho do salto dos sapatos ou das botas, depois da bengala do meu pai, até que silenciassem definitivamente.

Meu pai, um soldado que nos deixou quando foi promovido a Coronel, já não andava pela casa, mas sua figura nunca deixou de estar presente em nossas vidas.

Hoje, depois de não sei quantos anos, sem ele, sem a Dona Célia, minha mãe, sem meus outros sete irmãos, sinto um vazio enorme dentro do peito quando lembro deles. Um vazio que, eu sei, é a saudade imensa que deixaram na minha vida.

Ficaram as noras, os netos e os bisnetos do meu pai. Ficaram, comigo, meus filhos e meus netos. Eles, de alguma forma, substituem o vazio que o “velho Capitão Machado” deixou.

Sentado no meu escritório, olhando para as fotos que tenho nas paredes, vejo a figura dele, da minha mãe, dos meus filhos, dos meus netos e dos meus irmãos e tenho a certeza absoluta que valeu a pena ter vivido até aqui. Que nunca fiquei sozinho!

Meu pai deixou um exemplo de vida, de superação, de sabedoria, que, de alguma forma, tento sempre passar para meus filhos e peço que passem para meus netos. Não sei se consigo, mas sei que jamais poderei deixar herança maior para eles do que aquilo que me pai me ensinou.

Se neste Dia dos Pais eu tivesse que cantar uma música que define muito daquilo que ficou em mim deixado pelo meu pai, eu cantaria que “Eu sou teu sangue, meu velho, teu silêncio e teu tempo. Velho, meu querido velho”.

Feliz Dia dos Pais!




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