Lula lá, no Nordeste*
Depois de um bom tempo sem aparecer, Lula deu longa
entrevista hoje, à Rádio Jornal, de Pernambuco, tentando fazer graça com suas
agruras na Lava Jato: “Incomoda. É como coceira, coceira de carrapato”. O tom
foi de candidato, desenvolto, irônico, deixando em aberto a possibilidade de
concorrer em 2018: “Só não serei candidato se o Brasil der certo”. Apesar
disso, escapuliu da pergunta sobre o governo interino e não deu uma palavra
sobre erros, acertos e perspectivas de Michel Temer.
Dúbio, Lula elogiou as operações para o combate à
corrupção, mas criticou “abusos de autoridade”. Disse que “ninguém está acima
da lei”, mas reclamou da “invasão” à sua casa, quando sofreu condução
coercitiva para depor. Gabou-se de ter fortalecido a Polícia Federal e o
Ministério Público nos seus governo, mas condenou “a pirotecnia, quando as
pessoas são condenadas pelas manchetes de jornal”. Por fim, voltou a ironizar
as investigações sobre seus filhos: “Dizem que meu filho é dono da Friboi, da Casa
Branca, da Torre Eifel…”
Quanto a Dilma: Lula criticou duramente a crise
econômica, o desemprego etc…, e chegou a dizer que “as pessoas perderam os
sonhos”. Parecia líder de oposição, parecia se referir a 13 anos de outro
partido, não do PT, parecia esquecer que foi ele quem forçou a eleição de Dilma
Rousseff e parecia negar que a crise é resultado direto dos erros e da
arrogância da sua pupila.
Ele, aliás, só fez rápidas referências a Dilma Rousseff.
Uma, quando disse que Temer não deveria ter mudado tudo, porque o processo no
Congresso continua e “Dilma pode voltar”. Outra, quando disse que jamais
gostaria de ter vivido o dia em que ela foi afastada da Presidência. “Eu disse
a ela: ´Você pode ter cometido todos os erros do mundo, mas não o crime pelo qual
está sendo acusada. Eles estão cometendo um crime contra você´”.
De “todos os erros do mundo”, porém, Lula só reconheceu
um em Dilma: ela ter sido reeleita com um discurso e depois ter anunciado o
ajuste fiscal, ter feito “a política dos adversários”. Em nenhum minuto, ele
admitiu todos os grandes erros de Dilma durante o primeiro mandato, na
economia, na política, na ética.
O erro não foi propor o ajuste, foi ter criado
todos os desajustes. Aliás, para Lula, a crise econômica é basicamente
resultado de uma coisa: as desonerações fiscais, que desequilibraram as contas
públicas. Foi pouco mea-culpa para muita culpa.
A entrevista foi para o âncora Geraldo Freire, ao vivo,
direto de Petrolina (PE), onde Lula lidera a “Caravana da Democracia”, com
manifestações contra o impeachment de Dilma Rousseff.
*Publicado no Blog da Eliane Cantanhêde em 12/07/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário