Uma reportagem
da Revista VEJA, que circula neste final de semana, mostra o quanto o país
empobreceu nos últimos anos. De uma ilusão criada em 2010, chegamos ao realismo
de uma miséria que se aprofunda em 2016. Acho que devemos ler e refletir.
A piora na vida
dos mais pobres
VEJA revisitou
brasileiros cuja realidade havia melhorado em 2010 e constatou na vida real o
que as estatísticas registram no papel: a fome voltou a rondar as mesas, e os
sonhos, como o de fazer faculdade, deram lugar ao medo do desemprego. Foto:
Antonio Milena/VEJA
A previsão constava de um estudo do Ipea feito em 2010:
em 2016, dizia, a miséria daria traço no Brasil - a pobreza extrema estaria
"praticamente superada" e se transformaria em uma insignificância
estatística. Havia razão para tanto otimismo. Naquele ano, o último do segundo
mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o crescimento do PIB havia fechado em
7,5%, o maior desde 1986. Mais de 13 milhões de brasileiros já tinham
desembarcado da extrema pobreza, e o poder de compra do salário mínimo havia
aumentado quase 10% ao ano, no período compreendido entre 1995 e 2008. Passados
seis anos, no entanto, o Brasil anda de marcha a ré. Novos estudos, estes
coordenados por Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da Fundação
Getulio Vargas (FGV), indicam que os miseráveis - aqueles que não deveriam mais
existir em 2016 - estão, na verdade, prestes a aumentar.
Um dos dados que mostram a iminência desse fenômeno é a
queda inédita e simultânea de dois índices importantes no último trimestre de
2015: o da renda da população e o da "taxa de equidade", que mede
quanto o país está mais igual - e, portanto, menos desigual. Ambos compõem o
índice de bem-estar social da FGV. As duas quedas, da renda e da equidade,
decorrem dos mesmos fatores, afirma Neri: "A inflação leva dois terços da
culpa e a falta de emprego, incluindo o informal, é responsável pelo outro
terço".
Foto: Reprodução |
Até o fim de 2016, a renda per capita dos brasileiros
deve recuar quase 10% em relação a 2014, aponta outro estudo da FGV. Será a
segunda maior queda em 116 anos. Pior que esse tombo, apenas o do triênio
1981-1983, também marcado por uma crise econômica grave. Segundo um estudo da
consultoria Tendências, a derrocada vai levar 7,8 milhões de brasileiros de
volta à pobreza e seu entorno. Se o país não voltar a crescer até 2018, haverá
mais pessoas nessa situação do que em 2005, ainda nos primeiros anos do governo
Lula, prevê a consultoria.
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