A vez de Lula*
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a dizer
que não há ninguém no Brasil mais honesto do que ele. “Tenho tranquilidade.
Duvido que algum procurador, que algum delegado da polícia seja mais honesto do
que eu, mais ético do que eu, nesse país”, declarou o chefão petista em
entrevista à TV Al Jazeera divulgada no dia 11. Assim, pode-se presumir que
Lula não tenha ficado nem um pouco preocupado com a notícia de que o ministro
Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal,
determinou que os processos nos quais o ex-presidente é investigado fossem
remetidos à primeira instância, isto é, aos cuidados do juiz Sérgio Moro.
A decisão de Teori colocou um ponto final na estratégia
petista de conseguir foro privilegiado para Lula, por meio de sua nomeação para
um Ministério do governo de Dilma Rousseff. A nomeação acabou suspensa pelo
Supremo, mas Teori levou mais de um mês para enfim remeter o caso para a
primeira instância – e o magistrado incluiu no pacote enviado para Moro os ex-ministros
petistas Edinho Silva, Jaques Wagner e Ideli Salvatti.
Em outra ocasião, também registrada pela polícia, Lula
diz que “esses meninos da Polícia Federal e esses meninos do Ministério
Público, eles se sentem enviados de Deus” e acrescenta: “Eu sou a chance que esse
país tem de brigar com eles para tentar colocá-lo no seu devido lugar”.
Lula terá essa oportunidade muito em breve. Ontem, havia
informações segundo as quais a Lava Jato preparava três denúncias contra o
ex-presidente, contendo acusações relacionadas ao petrolão. Segundo o site da
revista Época, Lula pode ser denunciado por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro – as penas, somadas, podem chegar a 15 anos de prisão.
Tais acusações não são próprias de quem se diz tranquilo
porque é inocente. Se Lula nada deve, não tem o que temer – afinal, ao
contrário do que o ex-presidente imagina, a Lava Jato só age conforme a lei.
Sérgio Moro já proferiu 105 condenações, e raras foram as que acabaram
revertidas em tribunais superiores. Portanto, o chefão petista terá todas as
condições de mostrar que quando diz ser o homem “mais honesto deste país” não
está apenas roncando grosso.
*Publicado no Estadão.com em 15/06/2016
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