Manhas e artimanhas*
Eliane Cantanhêde
Tem razão a ainda presidente Dilma Rousseff ao dizer que
“há uma conjuntura de manhas e artimanhas” no país. Haja manhas e haja
artimanhas! Ela só não tem razão ao fingir que não sabia previamente da
decisão do deputado Waldir Maranhão de tentar anular o processo de impeachment
e criar um caos jurídico com fortes consequências políticas.
A tentativa de anular todo o processo de impeachment
desde a origem é, claramente, um movimento articulado que nasce no Palácio do Planalto
e se expande para outros poderes da República. Apesar disso, é uma tentativa
inútil, que tumultua o ambiente político e cria insegurança, mas no máximo pode
adiar em dias a votação no Senado.
Ainda há muitas dúvidas, mas começa a se formar um consenso
de que o ato de Maranhão não tem efeito, principalmente porque o impeachment
foi aprovado por ampla maioria na Câmara e já chegou ao Senado, onde não pode
ser mais questionada.
Waldir Maranhão, o interino que substitui Eduardo Cunha,
foi a São Luís no fim de semana – aliás, em avião da FAB -, acertou a
estratégia com o governador Flávio Dino (PCdoB e principal aliado de Dilma nos
Estados). De volta a Brasília, bateu o martelo numa reunião com o advogado
geral da União, José Eduardo Cardozo. Logo, não fez sentido Dilma dizer em
solenidade no Planalto que estava surpresa.
As reações são óbvias: os petistas e governistas
comemoram a decisão de Maranhão e a oposição age para derrubá-la rapidamente. O
PSDB, o DEM e o Solidariedade decidiram entrar com mandado de segurança no
Supremo Tribunal Federal, mas o PPS avalia que o mais eficaz seria resolver
tudo no âmbito da própria Câmara. A questão é saber se haverá tempo e condições
para suspender a votação de quarta-feira no Senado.
*Publicado no Estadão.com em 09/05/2016
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