Não dá para virar o disco?
Nos meus tempos de guri, lá em São Gabriel, a gente só
ouvia rádio e, quando a situação financeira permitia, o pai comprava um toca
discos para que a família curtisse as músicas mais tocadas no Brasil. Musica
estrangeira só as argentinas e paraguaias. Naquele tempo, as gravações eram em
78 rotações, em discos que tinham dois lados, cada um com uma música.
Normalmente era um sucesso de um lado e uma música menos tocada, do outro.
Meus irmãos mais velhos compravam os discos e ficavam
escutando, quase sem parar, o lado do disco com o sucesso do momento. Ligavam o
toca discos e colocavam a gravação que escutavam horas e horas, até que meu
pai ou minha mãe chegassem e dissessem: “Não dá para virar o disco?”
A história, que não deve ser só minha, tem tudo a ver com
o que está acontecendo no noticiário de rádio, jornal e televisão,
principalmente nesta última onde temos uma repetição permanente do mesmo
noticiário, com as mesmas imagens, os mesmos repórteres e os mesmos
entrevistados. Na realidade só mudam os apresentadores.
Desde quarta-feira, por exemplo, que só se escuta a
história do estupro de uma adolescente por 36 marginais e as gravações da
delação do Sérgio Machado, entregando meio mundo para, quem sabe, tentar
justificar tudo o que fez de errado na direção da Transpetro.
Adianto, antes que me entendam mal, que sou frontalmente
contrario a qualquer tipo de violência contra mulheres e aceito a delação premiada
como forma de esclarecimento de coisas que nem sempre são possíveis provar durante
uma investigação.
O que não aguento mais, e acho que deve ter gente que
pensa da mesma forma, é ouvir e assistir o mesmo noticiário repetido durante
todo o dia. Basta ligar a televisão ou o rádio para que lá estejam
apresentadores falando no estupro da adolescente e nas gravações do Sérgio
Machado.
No caso da menina agredida, segundo ela, por mais de 30
marginais, e acho que o termo é este, surgem muitas dúvidas, não com relação ao
fato, mas se realmente tudo o que ocorreu e que foi contado pela vítima, é
verdadeiro. Quem pensa assim, corre o risco de ser chamado de machista ou de
preconceituoso, mas o que se sabe é que a polícia não decretou, pelo menos até
agora, nenhuma prisão, embora tenha vários suspeitos.
Já no caso de Sérgio Machado, realmente fica difícil
saber quem não está envolvido nas já manjadas armações que tomaram conta dos
políticos, principalmente no governo petista. Basta lembrar que ele foi operador durante os governos de Lula e Dilma. Nas gravações feitas por ele, sobra para todos os partidos
e correntes.
Hoje, ao ligar o rádio do carro, uma repórter relacionava
todos os gravados e repetia as mesmas conversas que escuto desde quarta
passada. Ao chegar no trabalho, a televisão mostrava aquela já manjada arte com a foto de Sérgio Machado e de quem falava com
ele, colocando o texto (gravação) ao lado.
Foi ai que pensei exatamente na
história do disco de 78 rotações que a gente escutava lá em São Gabriel e
imaginei meu pai, irritado, entrando na sala e pedindo a um de meus irmãos: “Não
dá para virar o disco?”
Tenham todos um Bom Dia!
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