Se foi pra desfazer, por que é que fez?
O verso do samba Cotidiano nº 2, de Vinicius de Moraes,
define perfeitamente o impensado e incoerente ato do presidente interino da
Câmara Federal, deputado Waldir Maranhão, do PP do Maranhão, determinando a
anulação da votação que autorizou o processo de impeachment da presidente Dilma
Rousseff (PT).
Sem consultar ninguém, numa atitude absolutamente
monocrática, Maranhão decidiu aceitar o pedido da AGU e anulou a sessão onde
367 deputados aprovaram a abertura do processo que foi encaminhado ao Senado,
encerrando a participação da Câmara.
Analisando a ação de Maranhão, vamos encontrar uma série
de indícios que justificam sua atitude solitária e extemporânea. A começar por
sua viagem ao Maranhão no final de semana. Lá, depois de encontro com o
governador Flavio Dino (PC do B), seu padrinho político e fiel aliado de Dilma,
voltou para Brasília, em avião da FAB, trazendo o governador de carona. Na
Capital Federal, jantou com o governador, com o advogado-geral, José Eduardo
Cardozo, e outros políticos interessados em barrar o impeachment. Durante a
janta foi tramado, e provavelmente redigido, o documento que ele assinou ontem
(9) de manhã, anulando a votação na Câmara.
O encontro foi admitido pelos participantes, o governador
do Maranhão e o advogado-geral que, inclusive, não pouparam detalhes afirmando
que realmente trataram da questão.
Flávio Dino, inclusive, disse que havia oferecido a
candidatura ao Senado pelo Maranhão, em 2018, ao presidente interino da Câmara.
Disse, também, que Maranhão poderia ser convidado a ocupar uma secretaria em
seu governo.
A comemoração entre os governistas foi enorme, só que durou pouco, pois não
contavam com a reação do presidente do Senado, Renan Calheiros, que
simplesmente ignorou a “brincadeira com a democracia” feita por Waldir Maranhão.
Sob protestos dos senadores defensores de Dilma, Renan determinou o prosseguimento
da ação e mandou ler o relatório do senador Anastasia que votou pelo
impeachment.
Ontem, quase na madrugada, Waldir Maranhão, novamente
sozinho, assinou um comunicado de cinco linhas informando que anulava o ato
assinado pela manhã. E, como antes, não deu maiores explicações, quem sabe por
não ter o que dizer.
Agora terá que arcar com as consequências da bobagem que
fez, pois seus companheiros de partido já anunciaram que pedirão sua expulsão
do PP. A reunião está marcada para hoje. Ao mesmo tempo, vários deputados
prometem acionar a Comissão de Ética tentando a cassação do mandato de
Maranhão.
Volto ao verso de Vinicius e fico pensando na trapalhada
provocada pelo insignificante e obscuro deputado e que, durante toda a tarde,
levou o Brasil para as manchetes de jornais de todo o mundo, que desdenharam da
situação crítica, para não dizer cômica, dos brasileiros. E me pergunto: “se
foi pra desfazer, porque é que fez?
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