Vergonha! Vergonha!
O Estado de São Paulo*
Após ter praticado um autêntico golpe de Estado em favor de seu
mentor, Lula, Dilma Rousseff deu mais um tapa na cara dos brasileiros ao
decretar que devem calar a boca aqueles que se insurgem nas ruas contra seu
governo, acusando-os de agir sob o efeito de emoções artificialmente criadas e
assim se tornarem instrumentos de uma conspiração armada contra os interesses
do povo. Essa investida, que sinaliza a estratégia a ser seguida doravante pelo
lulopetismo na tentativa de manter-se no poder, foi o ponto alto do comício,
com direito a ruidosa claque, armado dentro no Palácio do Planalto a pretexto
de dar posse a Lula no cargo de ministro que lhe garantiria foro especial na
Justiça. O ato serviu a uma tentativa canhestra da presidente da República de
desmentir as palavras que deixou na gravação de um telefonema feito na
quarta-feira, comunicando a Lula que estava lhe encaminhando o documento de
nomeação, para ser usado “em caso de necessidade”.
Nessa encenação acintosamente partidária que presidiu na sede do
governo de todos os brasileiros, Dilma assumiu uma atitude agressiva, só
atenuada quando fazia exortações vazias à união nacional. Em sintomática adesão
ao estilo populista de seu guru, Dilma dialogou com a claque petista – o que em
vários momentos deixou indisfarçavelmente constrangidos políticos e autoridades
na plateia – fornecendo as deixas para as ruidosas manifestações de que “não
vai ter golpe” e de ataques à “mídia golpista”.
A estridência de Dilma Rousseff nas ameaças, nem sempre veladas,
aos inimigos que vê por todos os lados, especialmente no Judiciário, não
ocultou a humilhação por que passava a outrora voluntariosa presidente. Naquele
momento, ela abria mão do respeito a si mesma e fingia continuar sendo a chefe
de governo e de Estado, mesmo já tendo entregue o poder de fato a seu mestre e
criador. Ou alguém duvida de que – mesmo com o litígio judicial a respeito da
validade de sua nomeação – toda e qualquer decisão governamental relevante
estará sujeita, a partir de agora, à iniciativa ou aprovação de Lula?
A encenação petista serviu também para Dilma apresentar o
argumento que derrubaria definitivamente a versão de que este seu conluio com
Lula configura uma tentativa de obstrução da Justiça, pois pode ter o efeito
prático de transferir a jurisdição das investigações que ameaçam o
ex-presidente de Curitiba para Brasília. Trata-se do tal termo de posse que
mandou entregar a Lula, com a recomendação de que só o usasse se fosse
necessário. Ou seja, ela achava que um termo de posse, sem a sua assinatura,
valeria como salvo-conduto. O espantoso é que nem numa situação extrema como
aquela em que achava que enfrentava com seu mentor ela foi minimamente bem
assessorada.
Esse episódio mais a divulgação das gravações feitas com
autorização da Justiça das conversas telefônicas de Lula prestaram ao País o
importante serviço de mostrar exatamente o que o chefão do PT, a presidente
Dilma e seus interlocutores pensam a respeito do atual cenário político. Graças
à iniciativa do juiz Sergio Moro de levantar o sigilo das gravações, os
brasileiros puderam constatar, de maneira indesmentível, que com essa gente não
há “conversa republicana”. Nem são eles capazes de inventar tretas que resistam
à revelação de um telefonema.
A posse de Lula na chefia da Casa Civil acabou suspensa por um
juiz federal e o governo, como era de esperar, recorreu da decisão liminar.
Assim, a questão ficará sub judice, por quanto tempo não se sabe. Mas esta não é
uma questão jurídica. É uma questão eminentemente moral. Daí o grito de
protesto dado por um deputado presente à encenação palaciana, que lhe custou a
imediata expulsão do recinto: “Vergonha! Vergonha!”.
Não têm vergonha na cara pessoas que usam o poder que lhes foi
conferido pelo povo, primeiro, para surrupiar o dinheiro de todos e, depois,
para proteger parentes e amigos das consequências legais da roubalheira.
Como dizia, premonitoriamente, o chefe dessa malta: “No Brasil é
assim: quando um pobre rouba, vai para a cadeia; mas quando um rico rouba, vira
ministro”.
*Publicado no Portal do Estadão em 18/03/2016
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