Um compromisso de última hora fez com que me visse
obrigado a tratar dos assuntos do blog somente agora. Melhor para meus leitores
que ficarão com um dos editoriais do Estado de São Paulo que trata da prisão do
marqueteiro João Santana e sua mulher, Mônica Moura.
É bom ler o editorial do Estadão, principalmente agora
que o presidente Rui Falcão, do PT, já saltou avisando que o partido não tem
marqueteiro e que Santana não é filiado ao PT. Como se isso valesse de alguma
coisa. Boa leitura.
A queda do marqueteiro*
A decretação da prisão de João Santana, o poderoso
marqueteiro das campanhas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma
Rousseff, é um dos desdobramentos mais graves de toda a Operação Lava Jato.
Embora a força-tarefa tenha enfatizado que seu trabalho, ao menos por ora, não
é investigar campanhas eleitorais, o nexo entre Santana e o desvio de dinheiro
da Petrobrás para financiar a eleição de petistas salta aos olhos.
Seja lá que
versão os magos da impostura a serviço do PT inventarão agora para explicar o
que fizeram Santana e seus encalacrados clientes, o fato é que está por um fio
a linha de defesa de Dilma a respeito da lisura de sua campanha – ela insiste
em que o financiamento da campanha eleitoral foi considerado legal pelo
Tribunal Superior Eleitoral e, por essa razão, tudo o mais seria irrelevante.
Tal alegação, como hoje está mais claro do que nunca, faz troça da inteligência
alheia e não pode ser aceita sem ressalvas pela Justiça.
Batizada de
“Operação Acarajé”, em alusão ao termo que alguns investigados usavam para se
referir à propina, a nova redada da Polícia Federal teve como alvos João
Santana e a Odebrecht. A empreiteira teria usado empresas offshore para
movimentar contas ocultas no exterior e depositar US$ 7,5 milhões na conta de
outra offshore, que seria do marqueteiro.
O dinheiro,
pago em diversas parcelas entre 2012 e 2014, seria proveniente da Petrobrás e
serviria para quitar despesas de campanhas do PT de 2008 a 2012. O
intermediário da transação seria Zwi Skornicki, representante do estaleiro
Keppel Fels, de Cingapura, que entre 2003 e 2009 fez negócios com a Petrobrás
no valor total de US$ 6 bilhões. Skornicki, apontado pelo ex-gerente da Petrobrás
Pedro Barusco como o operador do repasse de US$ 40 milhões para diretores da
estatal e para o PT, foi um dos presos na operação.
O cerco a João
Santana leva a Lava Jato a uma nova dimensão. Atinge o estrategista das
agressivas campanhas petistas das eleições presidenciais de 2006 a 2014, que
ajudaram a criar o clima de antagonismo que hoje cinde o País. A cada novo
sucesso de Santana, consolidava-se sua aura de gênio eleitoral e, com ele, a
lamentável certeza de que não se ganha eleição no Brasil sem apelar ao
marketing agressivo.
Foi assim que
Santana amealhou notoriedade. É inesquecível sua estratégia na eleição de 2014,
que Dilma venceu depois de agredir todos os seus adversários.
A arrogância dos
petistas ficou especialmente clara nas palavras do marqueteiro, que declarou,
um ano antes do pleito, que “a Dilma vai ganhar no primeiro turno, em 2014,
porque ocorrerá uma antropofagia de anões” – uma referência aos outros
candidatos. “Eles vão se comer, lá embaixo, e ela, sobranceira, vai planar no
Olimpo”, arrematou Santana, talvez movido pela confiança de quem sabia que a
campanha petista tinha enorme vantagem sobre as demais porque podia contar com
a incalculável pecúnia proveniente da roubalheira na Petrobrás.
Como se sabe,
no entanto, o prognóstico do confiante Santana não se confirmou – Dilma teve de
apelar às táticas de atemorização do marqueteiro para vencer um duro segundo
turno. O custo desse sucesso imoral está sendo pago em dolorosas prestações até
hoje, na forma de grande impopularidade.
Enquanto isso,
Santana continuou a posar de guru dos candidatos “progressistas”
latino-americanos. No momento em que se expediu o mandado de prisão contra o
marqueteiro, ele estava na República Dominicana, onde coordenava a campanha à
reeleição do companheiro Danilo Medina, que desde sempre contou com o apoio de
Lula e cujo governo, logo após uma visita do chefão petista em 2013, entregou
uma obra de R$ 2 bilhões à Odebrecht, com crédito do BNDES.
Medina
provavelmente terá de encontrar outro marqueteiro, porque o poderoso Santana,
principal conselheiro tanto de Dilma como de Lula em momentos de crise, tem
contas a acertar com a Justiça. Desde já, porém, pode-se dizer que a
importância do avanço da Lava Jato contra Santana não está nos apuros desse
personagem, e sim na evidência inapelável de que, nas campanhas eleitorais
petistas, “fazer o diabo” não era mera força de expressão.
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