Bumlai repetiu mensalão
e beneficiou PT, diz Moro
Declaração consta do despacho que autorizou a prisão do
pecuarista amigo do ex-presidente Lula e principal alvo da 21ª fase da Operação
Lava Jato
A atuação do empresário e pecuarista José Carlos
Bumlai, que utilizou seu nome e as suas empresas para supostamente
viabilizar dinheiro sujo ao Partido dos Trabalhadores (PT), repete o modus
operandi do escândalo do mensalão, o primeiro grande esquema de corrupção do
governo Lula e responsável por levar próceres petistas para a cadeia. A
comparação foi feita pelo juiz Sergio Moro, responsável pelos processos do
petrolão em primeira instância.
Preso preventivamente na manhã de hoje em Brasília,
Bumlai é suspeito de ter atuado diretamente em um esquema de corrupção
envolvendo a contratação da Schahin pela Petrobras para operação do navio sonda
Vitoria 10000. A transação só ocorreu após o pagamento de propina a dirigentes
da Petrobras, ao próprio pecuarista e ao PT. A exemplo do escândalo do
mensalão, o pagamento de dinheiro sujo foi camuflado a partir da simulação de
um empréstimo no valor de 12,17 milhões de reais. "Mais grave em concreto,
o destinatário final da vantagem teria sido, segundo os colaboradores [da Lava
Jato], o Partido dos Trabalhadores, com afetação do processo político
democrático", relata o juiz Sergio Moro no despacho que autorizou a prisão
de Bumlai. "O mundo da política e o do crime não deveriam jamais se
misturar", acrescenta.
No mensalão, dos 32 milhões de reais repassados de forma
fraudulenta pelo Banco Rural ao esquema do publicitário Marcos Valério entre
2003 e 2004, 3 milhões de reais foram destinados diretamente ao PT - num
empréstimo fictício que tinha Marcos Valério, Delúbio Soares e José Genoino
como avalistas e foi renovado dez vezes.
No caso do propinoduto envolvendo a Petrobras, o repasse
de dinheiro sujo por meio do pecuarista, apontado como um operador VIP do
petrolão, foi camuflado por meio de um empréstimo do Banco Schahin, com a
contratação indevida da Schahin pela Petrobras para operar o navio sonda
Vitoria 10000 e na simulação do pagamento do suposto empréstimo com a entrega
inexistente de embriões de gado. Para Moro, a articulação do Bumlai e de seu
grupo revela um "emaranhado financeiro e corporativo, de produção de dezenas
de documentos falsos, em um jogo de sombras para acobertar a verdade".
"As provas indicam que [José Carlos Bumlai]
disponibilizou seu nome e suas empresas para viabilizar de maneira fraudulenta
recursos a partido político, com todos os danos decorrentes à democracia, e,
posteriormente, envolveu-se na utilização de contrato público de empresa
estatal para obter vantagem indevida para si e para outrem", relata Sergio
Moro. Há indícios ainda de que Bumlai promoveu uma enxurrada de saques
expressivos de dinheiro, não raro em valores acima de 100.000 reais, para
evitar que órgãos de controle pudessem rastrear a movimentação financeira
típica de lavagem de dinheiro.
"Releva destacar que modus operandi similar foi
identificado no julgamento da Ação Penal 470 [mensalão]. Com efeito, naquele
caso também identificados empréstimos milionários concedidos pelo Banco Rural a
empresas controladas por Marcos Valério, SMP&B Comunicação, Graffiti
Participações e DNA Propaganda, e que também não eram pagos, nem cobrados, sendo
os recursos destinados igualmente ao Partido dos Trabalhadores, como, aliás,
confessado naquele processo por Marcos Valério e por Delúbio Soares",
destacou Moro ao determinar a prisão do pecuarista. (Com Veja.com/conteúdo)
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