Quem tem mais a ganhar mentindo?
Ricardo Pessoa, o delator?
Ou Dilma, o alvo da delação?
Ricardo Noblat
Foto: Givaldo Barbosa/O Globo |
A mente primária e confusa da presidente Dilma Rousseff, capaz
de produzir elogios à mandioca, “uma das maiores conquistas” do Brasil, e de
identificar uma nova categoria na escala humana, a “mulher sapiens”, voltou a
brilhar, desta vez em Nova York.
Para evitar o vexame de comentar o assunto, hoje, quando ela e o
presidente Barack Obama responderão a quatro perguntas de jornalistas, Dilma
correu a dizer o que acha das revelações feitas em delação premiada pelo
empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC.
Apontado como chefe do cartel das empreiteiras que roubaram a
Petrobras e pagaram propinas a partidos e a políticos, Pessoa contou que doou à
campanha de Dilma no ano passado US$ 7,5 milhões. A doação foi legal. A origem
do dinheiro, criminosa, segundo ele.
— Eu não respeito delator. Até porque eu estive presa na
ditadura e sei o que é. Tentaram me transformar numa delatora. A ditadura fazia
isso com as pessoas presas — desabafou Dilma.
— Em Minas (Gerais), na escola, quando você aprende sobre a
Inconfidência Mineira, tem um personagem de quem a gente não gosta porque as
professoras nos ensinam a não gostar dele. Ele se chama Joaquim Silvério dos
Reis, o delator.
Dilma lembrou que a UTC de Pessoa também financiou a campanha de
Aécio Neves (PSDB), que recebeu da empresa doações “com uma diferença muito
pequena de valores”.
Por fim, proclamou-se honesta. E disse esperar que a Justiça
investigasse tudo o que disse Pessoa.
Iluminemos a mente confusa de Dilma.
Se as pessoas que até agora negociaram a delação premiada
compartilhassem das mesmas opiniões de Dilma, a roubalheira na Petrobras
continuaria intocada. Era o que Dilma preferia?
O instituto da delação premiada é reconhecido em quase todas as
partes do mundo. É responsável pela descoberta de verdades que, de outra
maneira, permaneceriam encobertas.
Quem se socorre da delação premiada tenta merecer uma pena
menor. Para isso não pode mentir. E o que diz deve ser confirmado com provas.
Do contrário não vale.
Esse tipo de delação acaba sendo a favor do bem, digamos assim.
É mais fácil para um delator como Pessoa confessar a verdade do que para Dilma,
alvo de uma delação, dizer a verdade.
Se não mentir, Pessoa poderá se salvar. Se falar a verdade,
Dilma poderá ser condenada por ação ou omissão.
A delação na época da ditadura militar era encarada do ponto de
vista político, ideológico. Entregar um companheiro, mesmo sob tortura, era
considerado abominável. Uma traição. Muito diferente.
Dilma tenta confundir tudo quando destaca que seu adversário de
campanha, Aécio, recebeu doações da UTC.
Por que Pessoa, que disse ter doado dinheiro para políticos de
vários partidos, inclusive do PSDB, pouparia Aécio? Por que a origem do
dinheiro que ele doou à campanha de Aécio teria que ser obrigatoriamente
criminosa?
Pessoa repetiu que o dinheiro doado a Dilma foi em troca de
contratos firmados por ele com a Petrobras. Por suposto, Aécio não tinha
contratos a lhe oferecer.
Dilma quer ganhar a parada na base do grito, da manipulação dos
fatos, da argumentação adjetivada e da cara feia. Bobagem. Quem ainda acredita
nela?
Em tempo: a delação premiada está prevista na Lei 12.850,
sancionada por Dilma. Ali ela é chamada de “colaboração premiada”.
Publicado no O Globo/ 30/06/15
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