quarta-feira, 6 de maio de 2015

Artigo

Cercamento ou redenção?

Sebastião Melo*


O cercamento da Redenção é um pêndulo que vai e vem nos últimos 25 anos da história da Capital. Agora mesmo, nossos vereadores aprovaram um projeto de lei propondo um plebiscito para aferir a opinião dos porto-alegrenses. Para não fugir à regra, o tema ganhou contornos de “grenalização”.

Porque, colocado um assunto tão complexo na modalidade de escolha do “sim” ou “não”, retomamos a tradição do confronto e aprisionamos a moderação, atitude que nos permite entender uma questão sob vários ângulos, sobretudo aquele que desvela o significado de redenção, “o ato ou efeito de redimir, de tirar do cativeiro”. Assim, a antiga Várzea do Portão ganhou o nome de Campos da Redenção, em comemoração à precoce abolição da escravatura na cidade.

À época da Várzea do Portão, Porto Alegre era protegida por fortificações. O portão servia para proteger os citadinos e controlar a entrada dos “outros”, estranhos aos costumes locais. Nas duas razões, o sentimento de medo e a ansiedade pela segurança.

Ciente das razões apontadas pelos defensores do cercamento, impossível não reconhecer um testemunho verdadeiro. Porque é fato que muitas vezes o parque está sujo, que seus monumentos e recantos são vandalizados e que há deficiências sérias na segurança.

Entretanto, não podemos esconder que os problemas não são gerados pelos “de fora” e que só a cooperação entre o poder público e a sociedade poderá superar essa situação.

Dar um destino adequado ao lixo individual e orientar aqueles que insistem em jogá-lo no chão; proteger os patrimônios histórico e ambiental do parque e denunciar quem os agride, essa é a parte da sociedade.

Ampliar e modernizar a iluminação da Redenção – como estamos fazendo –, dar continuidade ao cercamento eletrônico, reforçar o policiamento em toda a sua extensão, propiciando a convivência urbana diurna e noturna, fecham o círculo da responsabilidade compartilhada e que deve ser estendido para os demais parques da cidade.

Assim, entre o cercamento e a Redenção, penso que vale o esforço de manter o parque integrado à paisagem urbana, semeando a cultura do cuidado com a cidade.

*Vice-prefeito de Porto Alegre

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