quinta-feira, 23 de abril de 2015

Crônica

Aproveitei o feriado e desasinei

Cesar Cabral*

Aproveitei o feriado de Tiradentes e me “desasinei” temporariamente. Isto é: deixei de ser asno, conforme havia recentemente declarado na minha crônica/artigo Mais gordo, nu e sem pele. Nada de novo. Tudo continua como sempre esteve nesse país que é “um sonho intenso, um raio vívido de amor e de esperança que a terra desce.” E pouco é mais do isso, exceto uma ou outra novidade. Na moda, Gisele Bündchen, a mais elegante, bonita e sensual mulher do mundo deixou as passarelas. Minha conterrânea saiu na hora certa, que é quando se está tocando o teto do mundo com a cabeça. Mas não abandonou o “mundo” da moda. Com os licenciamentos e as grifes ganhou ano passado 48 milhões de dólares; nas passarelas, já não chegava a 10% desse valor.

Já sabia que “self”, palavra inglesa, como havia dito, é o mesmo que por si mesmo – ou de si mesmo – em português e as pessoas continuam tirando suas próprias fotografias e por isso, “fazendo um self”. É a moda; e o que é da moda não incomoda, dizia-se antigamente. Entretanto quando li que um ator famoso “fez um self” achei que o fofo tinha se masturbado. E piorou minha estultice quando soube que já existia “pau de self”. Aí pensei que já é possível tirar fotografias com o próprio pênis; talvez seja um pênis especial, desconhecido para mim.

A imprensa, com tanta notícia, não sabia ao que dar mais destaque neste 21 de abril.  Se a inauguração de Brasília, há 55 anos, ou se a Tiradentes, morto por fuzilamento, depois degolado e esquartejado há 223 anos, quando os pedaços do corpo dele foram espalhados estrada a fora, do Rio a Minas, pelos irmãos portugueses daquela época. Época em que o Brasil sequer existia, não tinha esse nome, era apenas terra portuguesa no novo mundo, também chamado Brasil colonial pelos historiadores. Não havia o país Brasil, nem a pátria brasileira. Não havia uma Nação.

Tiradentes e seus companheiros formavam um grupo de portugueses nascidos na colônia que se revoltou contra os portugueses colonizadores. Proprietários rurais, a Igreja Católica, alguns intelectuais e militares pertencentes à elite econômica, a mais abastada, reclamavam (nem luta houve) em defesa de interesses particulares, de seus negócios e não de todo o povo da colônia. Não entendo o porquê de Tiradentes ser nosso herói, nosso mártir. Talvez a crueldade com a qual os portugueses tratavam seus colonizados tenha enternecido o coração dos historiadores; os portugueses eram brutais, sem dúvida. "O Estado brasileiro é fruto de uma convenção brutal. O colono (e o colonizador) podia escravizar, matar e mutilar os índios além de ocupar suas terras e engravidar as índias. Quando os gentios reagiam à brutalidade portuguesa eram considerados hostis e exterminados ainda mais rapidamente”.Escreve o advogado Fábio Oliveira Ribeiro no CMI Brasil.

Tiradentes foi uma espécie de bode expiatório. De todo o grupo era o menos poderoso, o que tinha menos dinheiro e propriedades. Um simples comerciante; às vezes tropeiro, às vezes minerador, militar, sim, mas apenas um subtenente e “tirava dentes” de quem precisasse livrar-se da dor. Não subestimo o Joaquim José da Silva Xavier por isso. Mas não o reconheço como nosso mártir por ter lutado por uma Nação Brasileira.

Terminado o feriado sem mais nenhum acontecimento, continuei “desasinado” por mais um dia já que a quarta feira prometia, como se diz. Os jornalões digitais e os noticiários de todos os canais de TV me excitavam com a espera da divulgação do balanço auditado da Petrobras. Assunto que 99,95% da população brasilina não tem o mínimo interesse já que não entende bulhufas do significa. Significa que os 21,6 bilhões de reais de prejuízo, obra da má gestão com roubalheira posta na mão de “sindicalistas companheiros” há dez anos, quando Lula, o presidente, aparelhou o Estado com três partidos políticos – PMDB, PP e PT – isto é: partidarizou as empresas estatais, os preços dos combustíveis (incluindo o gás de cozinha) vão aumentar. E com eles os dos produtos e transportes.

Os 54 milhões que acreditavam que estaríamos todos no paraíso com Dilma.2 nem que a vaca tussa, arrastando outros 50 milhões que sabem que vaca não tosse, terão que repor à Petrobras os 21,6 bilhões de reais pagando um preço bem alto resultado de uma simples e populista equação para manter a “popularidade” e ganhar a reeleição e manter o trio de partidos políticos no poder. Assim: compra-se petróleo caro, vende-se gasolina sem aumentar o preço (subsidiado). Agora que o preço do petróleo baixou consideravelmente no mercado internacional, aumenta-se custo da gasolina comprando petróleo barato. Os 21,6 bilhões de reais de prejuízo serão repostos rapidamente e ainda sobrarão alguns bilhões para novas corrupções e pagamentos dos prejuízos das empreiteiras paradas de funcionar com a prisão de seus proprietários. Daí por que a “delação premiadíssima”.

E quando o presidente da Petrobras, Ademir Bendine, disse que “Temos a convicção de que a companhia vai retomar sua capacidade de geração de valor. Nosso maior ativo é o quadro de pessoal. São pessoas engajadas. Estamos revendo ainda o nosso plano de negócios e, sendo aprovados, vamos voltar a publico.” reassumi a minha condição de asno. Até mais!

*Jornalista e escritor

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