Foto: Agência Reuter |
Acuada pela oposição, por aliados
hostis e pelas críticas vindas das ruas ─ inclusive de seus próprios eleitores
─ a presidente Dilma Rousseff enfrenta a maior crise desde que chegou ao
Planalto, há pouco mais de quatro anos: tem diante de si a árdua tarefa de
superar o isolamento e restaurar a confiança da população em meio a um
escândalo de corrupção de grande monta, uma economia fragilizada e ânimos cada
vez mais polarizados.
A BBC ouviu lideranças sociais,
cientistas políticos e parlamentares para entender como a petista pode vencer a
prova de fogo por que passa seu governo e assegurar a governabilidade de seu
segundo mandato, principalmente após os protestos, a grande maioria a favor de
seu impeachment, no último domingo (15).
Segundo eles, a solução passaria por
um tripé que inclui recuperar a confiança do seu eleitorado, ampliar o diálogo
com a base aliada e retomar o crescimento da economia ─ este último pilar,
acreditam, não erradicaria, mas atenuaria as fortes críticas que vem recebendo,
sobretudo, de opositores.
"Dilma montou uma "cilada" para si mesma
durante a eleição, ao prometer que não mexeria em algumas das conquistas
socioeconômicas ocorridas nos últimos anos. Agora, mudou o discurso e tem
dificuldade de explicar o ajuste fiscal que, invariavelmente, se viu obrigada a
executar, especialmente, para os seus eleitores", afirmou à BBC Carlos
Melo, cientista político e professor-adjunto do Insper.
Apesar de ter sido chamado nos
bastidores de "Blinda Dilma", pelas manifestações de apoio à presidente
e por ter ocorrido dois dias antes dos protestos de domingo, o ato do dia 13
não foi "nem a favor nem contra o governo", afirmaram lideranças à
BBC.
"Queremos registrar nossa
insatisfação com o rumo que o governo está tomando. Achamos que é necessário
fazer ajustes fiscais, mas sem mexer no direito dos trabalhadores. A presidente
pedir paciência não resolve o nosso problema. A saída é o diálogo. Não vamos
pagar com nosso emprego essa crise que a presidente diz que existe. Ela tem um
compromisso assumido conosco durante as eleições", disse à BBC Adi dos
Santos Lima, presidente da CUT-SP, que defende a retirada das MPs (Medidas
Provisórias) 664 e 665 que alteraram as regras de acesso a benefícios sociais,
como seguro-desemprego, auxílio-doença, pensão por morte, entre outros.
Para a UNE, o protesto de
sexta-feira foi uma forma de "pressionar o governo" para rever
algumas das medidas tomadas recentemente.
"Nós fomos às ruas e
conquistamos essa vitória. Agora seguimos em frente por mais direitos para
garantir os 10% do PIB para a educação e para aprovar uma reforma universitária
democrática no nosso país", afirmou a presidente da UNE, Vic Barros, após
a manifestação.
Segundo Ricardo Ismael, cientista
político da PUC-Rio, Dilma precisa "urgentemente" reconhecer que
"errou", mas ainda tem dificuldades sobre qual estratégia de
comunicação adotar junto à opinião pública.
"A presidente Dilma não
conseguiu explicar por que mudou o discurso de campanha nem por que a população
deve se submeter a tantos sacrifícios. A insatisfação popular não é pelo
terceiro turno; ela é objetiva: o governo está tomando medidas impopulares e
não resta dúvida de que isso gera uma reação negativa da população", disse
ele à BBC.
A dificuldade de Dilma em dialogar
também é motivo de críticas no universo político.
"Uma das principais falhas da
presidente é, sem dúvida, a falta de articulação política. Sem apoio no
Congresso, Dilma não consegue tomar medidas que possam garantir sua
governabilidade, o que acaba impactando sua popularidade", afirmou à BBC Paulo
Baía, cientista político e professor da UFRJ.
"Ela precisa repactuar sua base
aliada, que está completamente fragmentada, e ter como interlocutor o
vice-presidente Michel Temer, que é um homem de bom trânsito em todos os
setores do Parlamento. Mas ela não o usa como deveria em grande parte devido a
seu estilo de governar", acrescentou.
*Matéria produzida pela BBC
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