Lula e seus bons
amigos
O ESTADO DE
S.PAULO
22 Fevereiro 2015
Conforme foi amplamente noticiado,
advogados de empreiteiras sob investigação no escândalo da Petrobrás tentaram
obter a interferência política de Luiz Inácio Lula da Silva a favor de seus
clientes. Essa informação foi confirmada pelo amigo e sócio do ex-presidente
Paulo Okamotto, que preside o Instituto Lula. Por outro lado, a presidente
Dilma Rousseff, questionada sobre o episódio pelos jornalistas no Palácio do
Planalto, garantiu: "Nós iremos tratar as empresas tentando principalmente
considerar que é necessário criar emprego e gerar renda no Brasil. Isso não
significa de maneira alguma ser conivente ou apoiar ou impedir qualquer
investigação ou qualquer punição a quem quer que seja. Doa a quem doer". A
presidente fez ainda uma clara distinção entre as empresas, seus gestores e
seus acionistas.
É compreensível que as empreiteiras
acusadas de alimentar o propinoduto do petrolão estejam empenhadas em minimizar
as consequências da lambança em que se meteram. Mas a consciência cívica do
País jamais admitirá que interesses políticos predominem sobre o império da
lei. O julgamento do mensalão, em 2012, foi um marco histórico do qual é
impossível retroceder sem provocar uma grave fratura institucional. E Dilma
Rousseff parece se dar conta disso.
Dessa perspectiva, é essencial que
todos os fatos fora da esfera policial e judicial relacionados a esse processo
sejam tratados com transparência por autoridades ou figuras públicas. As
repercussões políticas negativas das trapalhadas do ministro da Justiça na
frustrada tentativa de manter em sigilo a audiência que concedeu a advogados da
Odebrecht teriam sido evitadas se tivesse havido transparência, em vez de uma
deliberada e, como se viu, inútil omissão na agenda do ministro do nome da
empreiteira e do assunto a ser tratado na audiência.
Pois é exatamente diante dessa
demanda democraticamente irrecusável - a de agir com transparência quando se
trata de assunto de interesse público - que Lula se encontra depois da firme
manifestação da presidente da República e de Paulo Okamotto ter feito sua parte
e admitido o assédio por parte das empreiteiras. É claro que nenhum empresário
procura Okamotto para elogiar seu belo trabalho na presidência do instituto que
leva o nome do ex-presidente. Na maior parte dos casos, aliás, Okamotto recebe
as pessoas a pedido do próprio Lula. E é de imaginar que, dependendo do assunto
a ser tratado, Lula prefira receber com maior discrição, fora de sua base
oficial, as pessoas que lhe solicitam "um particular". O
ex-presidente é muito bem relacionado nos altos escalões da iniciativa privada,
onde cultiva muitos e bons amigos e chega a privar da intimidade de alguns
deles.
Por esse motivo conviria ao próprio
Lula vir a público para esclarecer como se posiciona diante do assédio de
alguns bons amigos cujos interesses estão ameaçados pelo escândalo da estatal
petroleira. É claro que semelhante postura contraria frontalmente a prática por
ele consagrada de se fechar em copas e fingir-se de morto quando o perigo
ronda. E deve-se levar em conta também que, se vier a público para declarar-se
indignado com o escândalo e defender a "rigorosa punição de todos os
culpados", Lula estará correndo o risco de, como aconteceu no caso do
mensalão, ser levado a desdizer-se mais adiante e proclamar que tudo não passou
de "uma farsa" que ele próprio, com seus superpoderes, se encarregará
de desmontar.
De qualquer modo, o próprio Lula há
de convir - especialmente depois das declarações da presidente Dilma Rousseff -
que hoje a situação é muito mais complicada e grave do que no caso do mensalão,
do qual saiu ileso. E é exatamente a gravidade da situação, principalmente
quando considerada do ponto de vista do lulopetismo e de seu projeto de poder,
que pode levar a suspeitas de que se tente armar um grande esquema político destinado
a tirar do forno o que seria a maior pizza da história da República.
Afinal, muitos dos empreiteiros do
País estão sendo levados, uns, ao desespero, e outros, à desesperança pelas
provas já colhidas dos delitos que praticaram e pelas ameaças implícitas nas
negociações em curso para mais delações premiadas. E a tanto desalento se
juntará, dentro de mais alguns dias, o de políticos também corruptos, que serão
denunciados no Supremo Tribunal Federal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário