Mudaram algumas moscas!
Machado Filho
Diante da maior crise política desde que o PT assumiu o
governo no Brasil, os governistas buscam uma estratégia para blindar a
presidente. Ela começa com um discurso que pretende mostrar que Dilma foi a
responsável pela demissão dos ex-diretores e que exige apuração completa dos
fatos. Mais ou menos como se demitindo estivesse absolvendo o culpado e acabando com a sujeira.
A presidente recebeu a informação sobre a ação da Lava Jato,
quando acertava detalhes de sua participação no encontro da cúpula do G 20, com integrantes da
equipe econômica do governo. Enquanto isso, em Brasilia, o ministro da Justiça, José
Eduardo Cardoso, foi acordado pelo diretor-geral da PF, Leandro Daniello, às 6h30, para
ficar sabendo que uma ação muito forte contra os principais financiadores de
campanhas seria feita. Daniello avisou ao ministro que seria escancarado o
esquema de corrupção na Petrobras. Não se sabe a reação de Cardoso, mas não custa lembrar
que, ao ser reeleita, Dilma repetiu que não compactua com a corrupção e que
determinaria investigações profundas, “doa a quem doer”. Presumo, então, que Cardoso deve ter dado todo o apoio.
De qualquer forma o Planalto, com as notícias da
Operação, foi tomado por verdadeira perplexidade. Os assessores de Dilma temem
tudo a partir das prisões, principalmente a possibilidade de que o posicionamento
da presidente acabe por respingar nas gestões de Lula, já que os dois
ex-diretores presos, Paulo Roberto Costa e Renato Duque, foram nomeados quando
ele presidia o Brasil. E como ele e Dilma não sabiam de nada, é preciso ter cuidado para não dizerem o que não devem, mesmo estando bem treinados.
Outro fator preocupante é a entrada do nome de Marice
Corrêa Lima, cunhada de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, na lista dos
investigados. Marice é suspeita de participar do esquema de intermediação do
dinheiro desviado da estatal para os cofres petistas. Ela teria recebido R$ 110
mil da OAS. Nunca é demais recordar que Vaccari Neto, além de tesoureiro do
PT,ocupa uma das vagas de Conselheiro de Itaipu.
O certo é
que um clima nada ameno espera pela presidente em sua volta ao Brasil. Dilma
terá que nomear novos ministros, muitos deles pertencentes ao PMDB e PP, dois
dos partidos mais envolvidos com as denúncias da Lava Jato. Como ainda não
foram divulgados os nomes dos políticos envolvidos, fica mais difícil a missão
da presidente. Afinal, ela pode indicar alguém que acabe sendo envolvido pelas
denúncias. Dilma terá que se preocupar, profundamente, em não atingir Lula e,
ao mesmo tempo, formar um ministério sem corruptos. Uma missão nada fácil.
O que nós,
brasileiros, teremos pela frente, é uma interminável série de desmentidos, de
não tenho culpa, nunca falei com Duque, não sabia, vou provar minha inocência e
tantas outras desculpas esfarrapadas que, faz muitos anos, o brasileiro escuta,
principalmente depois do surgimento do mensalão que, perto do Petrolão, é café
pequeno. Se bem que, pensando melhor, ambos os escândalos andaram quase sempre
de mãos dadas. Pode ter mudado alguma mosca, mas...!
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