Radicais
atacam de novo
O ESTADO DE S.PAULO
04 Novembro
2014
A
presidente Dilma Rousseff, coerente com seu passado de militância nos
movimentos de esquerda radical que combateram a ditadura militar e
posteriormente nas fileiras brizolistas, tem uma visão claramente
intervencionista do Estado. Nessa questão, alinha-se com a esquerda do PT.
Justiça lhe seja feita, no entanto: tem resistido bravamente, desde seus
primeiros dias como presidente, aos radicais de seu partido que pregam a
censura dos meios de comunicação por meio do que eufemisticamente chamam de
"controle social" da mídia. Periodicamente, porém, os inimigos da
liberdade de imprensa voltam à carga.
O dirigente
nacional do PT Valter Pomar, um dos líderes da corrente minoritária Articulação
de Esquerda, divulgou documento propondo que, na reunião que o Diretório
Nacional do partido realizará na capital federal nos dias 28 e 29 de dezembro
para dar início à discussão das prioridades do segundo mandato de Dilma
Rousseff, seja relançada "a campanha pela reforma política e pela mídia
democrática", temas das "batalhas" que esse grupo promete travar
no Congresso Nacional no próximo ano.
O documento da
Articulação de Esquerda insiste no habitual repertório de temas políticos caros
aos esquerdistas radicais e propõe que o PT lance um "jornal diário de
massas e uma agência de notícias" destinados a dar apoio à atuação do
"campo democrático". É uma ideia típica do voluntarismo inconsequente
e do sectarismo de esquerda, do discurso daqueles para quem a população é
deliberadamente mal informada por uma mídia "burguesa" comprometida
apenas com interesses da "elite".
Mas esse é um problema que se
resolve facilmente, como demonstra acreditar a facção petista, com o lançamento
de um jornal para as "massas", capaz de colocar a elite perversa no
devido lugar.
Esse raciocínio
implica, é claro, a suposição de que as "massas" estejam ávidas pela
maravilhosa perspectiva de que se lhes ofereça um jornal preocupado em divulgar
apenas boas notícias: as façanhas, promessas e diretrizes dos salvadores da
pátria. Uma perspectiva que, mesmo capaz de superar, mediante o investimento de
enorme volume de recursos financeiros, as dificuldades de produção industrial e
distribuição de um diário de tiragem compatível com a demanda da
"massa", certamente terá dificuldades para transformar a leitura diária
de um jornal em objeto de desejo dessa "massa".
Parecem se
esquecer de que o Brasil ainda é um dos países com pior desempenho na área da
Educação, o que resulta na existência do enorme flagelo do analfabetismo
funcional. Valter Pomar e companheiros estariam mais bem sintonizados com a
vida real se ficassem satisfeitos em produzir um jornal para a militância da
Articulação de Esquerda. Felizmente, seus arreganhos totalitários não
obtiveram, até agora, acolhida por parte da presidente reeleita.
De qualquer
modo, não deixa de ser preocupante o fato de que, mais recentemente, talvez
devido à tendência à radicalização da campanha eleitoral, Dilma Rousseff tenha
passado a admitir a regulação econômica das atividades midiáticas, de modo a
coibir os abusos provocados pela concentração da posse de um grande número de
veículos de comunicação nas mãos de grupos econômicos. É óbvio que o monopólio
e o oligopólio são indesejáveis em sociedades democráticas, especialmente numa
área particularmente estratégica como a da comunicação. Não é por outra razão
que em países com instituições democráticas sólidas, como os Estados Unidos,
não existe, por exemplo, a propriedade cruzada de meios de comunicação.
Essa, no
entanto, é uma questão a ser amplamente debatida em todos os foros adequados,
de modo a sintonizar a legislação brasileira com os avanços tecnológicos das
últimas décadas e sua inevitável repercussão no negócio da comunicação.
O que não se
pode admitir é a tentativa de manipulação desse debate, como foi tentado por setores
radicais do PT que, ao apagar das luzes do governo Lula, promoveram um encontro
nacional para definir um projeto de "controle social da mídia" que,
apresentado a Dilma Rousseff nos primeiros dias de seu governo, foi
prudentemente engavetado. Em benefício da liberdade de imprensa, é bom que esse
projeto permaneça onde a presidente o colocou.
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