Recomendo a leitura do Editorial do jornal Estado de São
Paulo, edição de hoje. Uma análise sobre o esquema de corrupção que se instalou
na Petrobras e que foi denunciado pelo ex-diretor da estatal, Paulo Roberto
Costa, preso na Operação Lava-Jato.
Um pré-sal de lama
O
ESTADO DE S.PAULO
09 Setembro 2014
É ainda muito pouco - e incerto - o que
acaba de vir a público do esquema de corrupção na Petrobrás, a partir das
informações que o ex-diretor de abastecimento da empresa Paulo Roberto Costa
teria repassado ao Ministério Público e à Polícia Federal desde que começou a
contar o que saberia sobre o pré-sal de lama na petroleira. Ele se tornou
delator na esperança de escapar a penas que podem somar 50 anos de prisão por
suas traficâncias com o doleiro Alberto Youssef, desarticuladas pela Operação
Lava Jato em março último. Youssef teria branqueado R$ 10 bilhões. No setor de
seu parceiro, as maracutaias podem ter custado à Petrobrás R$ 3,4 bilhões em
propinas pagas a autoridades, políticos e empresários, estima o jornal Valor, à
razão de 3% de cada contrato assinado.
Segundo o Estado, pelo
menos 32 figurões - entre parlamentares, um governador e um ministro - teriam
se beneficiado. O jornal citou o presidente do Senado, Renan Calheiros. Para a
Folha de S.Paulo, seriam 62 os envolvidos. Já a revista Veja fala em 36, dos
quais nomeia 12. Notadamente, além de Calheiros, o ministro de Minas e Energia,
Edison Lobão; o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves; a governadora do
Maranhão, Roseana Sarney; o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, todos do PMDB;
e o pernambucano Eduardo Campos, que comandava o PSB. Os demais incluem o
ex-ministro das Cidades Mário Negromonte e o senador Ciro Nogueira, ambos do
PP. Os petistas são o deputado Cândido Vaccarezza e o tesoureiro do partido,
João Vaccari Neto. Não se informou o que teriam praticado.
Mas o que se publicou foi suficiente para
obrigar os principais candidatos ao Planalto a repensar as suas estratégias, a
menos de um mês do primeiro turno. Esta insólita campanha já tinha mudado de
rumo depois da morte de Eduardo Campos. Antes dominada por Dilma Rousseff e
Aécio Neves, a disputa virou de ponta-cabeça. No lugar do ex-governador, Marina
Silva disparou nas pesquisas, em prejuízo do tucano e ameaçando a reeleição da
petista. Agora, o clima tende a mudar. O tema da corrupção migra da periferia
para o centro do debate - tendo como foco o que se cometeu, desde a ida do PT
ao poder, na maior e mais estimada empresa nacional.
Não bastará Dilma alegar que o noticiário
"não lança suspeita nenhuma sobre o governo, na medida em que ninguém do
governo foi oficialmente acusado", para dissipar as suspeitas - anteriores
aos depoimentos de Costa, mas potencializadas pelo que a imprensa lhe atribui -
de que ela olhou para o outro lado enquanto prosseguia a predação da Petrobrás,
iniciada nos anos Lula. A hipótese se ampara na lógica e nos fatos. Se o
mensalão consistiu no suborno de deputados para que aprovassem os projetos
tidos como essenciais pelo então presidente, o assalto tolerado à petroleira
decerto servia, na esfera política, para satisfazer os membros, não raro
influentes, da base aliada, de modo a assegurar a coligação eleitoral que daria
à candidata quase a metade do tempo do horário de propaganda. Se assim é, Dilma
tirou da roubalheira proveito material - contabilizado, no caso, em minutos e
segundos.
Os fatos, por sua vez, apontam com mais
firmeza ainda o dedo para o Planalto. Em dobradinha com Calheiros, a presidente
asfixiou a investigação parlamentar sobre a estatal, cujo ponto de partida era
o caso da Refinaria de Pasadena, e cujo ponto de chegada poderia ser um
terremoto político comparável à sangria a que o patrimônio da Petrobrás foi
submetido nos anos recentes. Dilma argumentou que a CPI pretendida pela oposição
- afinal, foram criadas duas, desfibradas - era "eleitoreira". Agora,
ironia das ironias, as confissões atribuídas ao ex-diretor apadrinhado pelo PP,
endossado pelo PMDB e avalizado por Lula podem fazer mais estragos para Dilma
do que uma CPI cujos membros buscam antes o voto do que as verdades a apurar.
Pode sobrar também para Marina devido à
menção do político pernambucano a que se achegou para ser a sua vice (não
bastasse a história dos laranjas do avião cedido à campanha). Já Aécio,
enquanto nada incriminar qualquer dos dirigentes dos nove partidos que o
apoiam, se lançará à chance de voltar a subir nas pesquisas.
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