Comentário publicado no Portal G1, nesta quarta-feira (17).
Lula requenta o truque de 2006
Nosso Guia quer confundir a Petrobras com a
gestão do comissariado petista com que aparelhou a empresa
Lula fez uma
involuntária defesa do voto útil, aquele que vai para qualquer lugar, desde que
o PT vá embora. Foi para a frente do prédio da Petrobras e disse o seguinte:
“Já houve três
pedidos de CPI só na Petrobras. Eu tenho a impressão de que essas pessoas pedem
CPI para, depois, os empresários correrem atrás delas e achacarem esses
empresários para ganhar dinheiro. (...) Se alguém roubou, esse alguém tem mais
é que ser investigado, ser julgado. Se for culpado, tem que ir para a cadeia.”
A Petrobras petista
apareceu em várias CPIs. A primeira, de 2005, foi a do mensalão. Duas outras
foram específicas e, com a ajuda do comissariado, deram em nada. Se Nosso Guia
acha (e tem motivos para isso) que, incentivando-as, há “pessoas” achacando
empresários que correm “atrás delas”, não se conhece uma só fala de petista
denunciando achacados ou achacadores. O relator da comissão que está
funcionando é o petista Marco Maia.
O primeiro
comissário apanhado em malfeitorias relacionadas com a Petrobras foi o
secretário-geral do PT, Silvio Pereira. “Silvinho” fez um acordo com Ministério
Público e trocou o risco de uma condenação por 750 horas de trabalho
comunitário. Ele ganhara um reles Land Rover de um fornecedor da Petrobras. Nem
Lula nem o PT condenaram-no publicamente. Se o tivessem feito, teriam emitido
um sinal. Afinal, dissera o seguinte: “Há cem Marcos Valérios por trás do
Marcos Valério.” Ele está na cadeia. Salvo a bancada da Papuda, os demais estão
soltos.
Em 2009, quando foi
instalada a primeira CPI para tratar exclusivamente da Petrobras, o
comissariado disse que a iniciativa tentava tisnar a imagem da empresa.
Resultou que ela tisnou a imagem do instituto da CPI e os petrocomissários
continuaram nos seus afazeres. Paulo Roberto Costa estava na diretoria da Petrobras
desde 2004. Em oito anos, amealhou pelo menos US$ 23 milhões.
A CPI de hoje é
abrilhantada também pelos petistas Humberto Costa, José Pimentel e Sibá
Machado. Nenhum deles, nem Marco Maia, deve vestir a carapuça da fala de Lula,
mas jamais apontaram um achacador. “Paulinho” foi preso em abril pela Polícia
Federal e em seu escritório foram recolhidas abundantes provas de seus
malfeitos. Ele prestou um depoimento à CPI em junho e o senador Humberto Costa
considerou-o “satisfatório”. “Paulinho” disse o seguinte: “A Petrobras não é
uma empresa bandida nem tem bandidos em seus quadros.” Tinha pelo menos um,
hoje confesso: ele próprio.
Nessa comissão,
como na anterior, a bancada governista não se deu conta do risco que corria.
Descobriu-o há poucas semanas, quando “Paulinho” começou a colaborar com a
Viúva. De saída, devolverá os US$ 23 milhões guardados em sua conta suíça,
revelação ocorrida no dia seguinte ao seu depoimento. Nessa faxina não houve a
colaboração do PT.
Durante a campanha
eleitoral de 2006, o comissariado encurralou o tucanato, acusando-o de ter
tentado privatizar a Petrobras. Era mentira, mas deu certo. Passados oito anos,
Lula requentou o truque, mas há uma diferença: uma pessoa de boa-fé podia
acreditar que os tucanos quisessem privatizar a Petrobras, mas fica-lhe difícil
achar que falar em petrorroubalheiras possa prejudicar a empresa.
Elio Gaspari é jornalista
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