Quem
ama, vence o medo e protege!
André
Machado*
A
partir de hoje, o governo federal começa a disponibilizar pela primeira vez uma
vacina contra o vírus papiloma humano. O HPV é considerado a principal causa do
câncer de colo de útero e é transmitido por relações sexuais.
A notícia da aplicação massiva e gratuita da vacina, que tem
98,8% de eficácia na prevenção ao câncer é, no mínimo, uma vitória no campo da
saúde pública, da cidadania. É quase certo que, ao tomar a vacina, a pessoa
fica protegida contra este mal. E, mesmo assim, a medida causa polêmica.
A questão é o público-alvo: meninas de 11 a 13 anos de todas as
classes, de todas as crenças, de todas as tribos. Ou seja, nas redes pública e
privada de ensino. O Ministério da Saúde pretende aplicar as vacinas nas
próprias escolas, e sugere que pais e educadores aproveitem a campanha para
cuidar mais de perto da educação sexual, especialmente no que diz respeito aos
métodos contraceptivos e às doenças sexualmente transmissíveis. Funcionando o
cronograma, a idade mínima baixa para nove anos, em 2015.
Sempre pensei que fosse um preconceito meramente moral. Mas
começo a pensar que se trata de uma barreira mais generalista, cruelmente
democrática, que pode atrapalhar o juízo de muita gente. É uma questão
antropológica.
Talvez seja difícil a muitos pais acompanhar a transição das
filhas de um mundo a outro, dos assuntos de criança ao mundo adulto e seus
riscos. Mais difícil ainda é sabê-las catalogadas dentro da faixa etária que
constitui um público-alvo e ponto.
Isso significa encarar uma realidade que pode ser tão dura
quanto os protocolos das políticas de saúde pública. “Mas é uma menina! Minha
filha ainda não tem nada a ver com isso”, pode-se pensar. Ou, então, “para mim,
minha filha ainda é uma criança e, mesmo assim, já é obrigada a conviver com os
perigos do mundo adulto”. Mais difícil ainda é quando, como neste caso, esses
perigos têm a ver com contato sexual.
Às vezes, dói saber que nossas crianças estão em constante
crescimento. Sei lá por quê. Talvez Freud explique, com o perdão do clichê. Mas
de uma coisa eu tenho certeza: quem ama de verdade vence o medo da passagem do
tempo. Quem ama, educa e protege.
Uma ótima semana.
Aproveite o dia.
*Jornalista
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