Matutando debaixo do coqueiral
Cesar Cabral*
Dilmão e sua trupe disseram que pagam suas refeições com o
dinheiro deles. Portanto podem comer o que bem quiserem onde bem entenderem.
Assim o assunto está encerrado e não se fala mais nisso.
Esse é apenas um exemplo do que ocorre num país governado
por um ditador. Numa democracia os
governantes, todos os funcionários públicos, devem satisfação do que fazem
quando estão a serviço do povo e para ele devem prestar todos os serviços
públicos de que precisão, além de prestar contas do que fazem com o dinheiro que
utilizam em suas despesas.
“Eu escolho o restaurante que for porque eu pago a minha
conta”, disse ela à imprensa. Certo, mas só depois que sair do governo.
Enquanto for uma funcionária pública, presidente da república tem direito a
diárias para pagar alimentação estadias,transporte,segurança e outras coisas mais.
Porém tem que provar. Tem que provar; mostra as notas fiscais com os valores
compatíveis e determinados por lei. Se pagou a conta do restaurante com o
dinheiro do salário de presidente da república, está errado. E se fez isso, o
que é inacreditável, porque não vai também ao supermercado em Brasília fazer as
compras da semana e paga com o dinheiro dela? O salário é bom e ninguém no
governo pode ganhar mais do ela; em tese.
É porque não pode; a lei não permite. Além disso, ficaria
muito parecida com o Papa Francisco e seu populismo portenho peronista.
O Brasil é um país de um povo pacífico, ordeiro, acolhedor.
Um povo cristão, e por isso, sem preconceitos de cor, raça, condição social, e
solidário como nenhum outro. Esse é o Brasil oficial; dos folhetos turísticos,
da propaganda institucional do Banco do Brasil, da Petrobras, da Caixa
Econômica Federal, da Vale, do BNDES, entre outras tantas empresas, na
televisão.
O Brasil de verdade é mentiroso, sínico, falacioso. O povo
desse Brasil aponta um negro como bandido e a polícia prende os “suspeitos de sempre”
e 16 dias depois solta o infeliz e fica tudo por isso mesmo. Esse Brasil julga
um bandido, condena e põe na cadeia. Num regime de fresta (sempre achei que
semiaberto é uma fresta; imagine uma porta, uma janela semiaberta! É uma
fresta.) o bandido passa o dia na rua e dorme na prisão. Depois que cumprir 1/6
da pena vai para o sistema albergado (um albergue não é uma prisão lá tudo é
mais “livre”) e a cada três dias de trabalho ele tem um a menos nos anos que
lhe resta da condenação.
Porém o Brasil não tem albergue pra todos – em Brasília não
tem nenhum - o Juiz da Vara de Execução Penal, então, manda o bandido dormir em
casa. Os direitos dos bandidos devem ser respeitados, pois não?
Absolvidos do crime de formação de quadrilha, José Dirceu
vai pra casa em março do ano que vem e em julho de 2016 ganhará a “liberdade” ainda
que condicional; Delúbio Soares sai em Dezembro deste ano e em fevereiro de
2016 ganhará a “liberdade” condicional e José Genoíno, que nunca foi pra cadeia
porque toda hora inventa uma doença no coração,fica em casa a partir de agosto e ganhará a “liberdade”
condicional em junho de 2015.
O Bispo (!) Rodrigues, Romeu Queiroz e Jacinto Lamas passam
para o regime aberto (diabéisso?) ainda esse ano.Kátia Rabelo, do Banco Rural,
sai do regime fechado (agora entendi:tem um regime aberto e outro que é
fechado!) que está agora e vai para o semiaberto em 2016, pra “liberdade”
condicional em setembro de 2018 e pra “liberdade” incondicional, com o fim da condenação, em abril de 2028.
Marcos Valério que pensou que iria se dar bem entre a
bandidagem do PT, fica em regime fechado até 2020 e vai para o semiaberto,
aquele que o bandido passa o dia na rua. Dá até pra fugir já que só em 2026 vai
pro regime de “livramento” condicional. O fim da condenação será em abril de
2051, aí sim estará “livre incondicionalmente”! E totalmente careca sem a
necessidade de raspar a cabeça todos os dias e dar brilho com cera Parquetina.É
a Lei!
O roubo do numero do Cartão de Credito da mulher do
jornalista Machado Filho, quem me acolhe generosamente nesse Blog, é mais comum
do que se imagina. Não que isso seja um consolo e muito menos justifique o
crime; como diz o Lula “se todo mundo faz, o que é que tem?”. Sei de um caso
idêntico de uma conhecida bem próxima. Passava dos 1.500 reais a cobrança da
TIM no Cartão de Crédito. Primeira providência foi registrar queixa numa
Delegacia de Polícia; o que não serviu pra nada. Depois foi a desumana e
humilhante tentativa de falar com alguém da TIM que entendesse, pelo menos, o
“engano”; impossível. Num processo contra a TIM, ai sim a polícia achou um
“suspeito”, prendeu e descobriu que ele havia clonado (sabe-se lá como. A
polícia também não sabe) o Cartão de Crédito e com ele fez milhares de ligações
telefônicas pela TIM. Quem acredita nisso? Mas, um bom, e caro advogado fez a
TIM devolver o dinheiro que sequer deu para pagar o serviço que prestou.
Liguei para a Caixa, pelo numero que consta atrás do meu
Cartão de Débito, e uma voz me disse: “esse número mudou. Se você estiver numa capital
ligue para 30041104.” Liguei e ouvi a seguinte mensagem: “Bem vindo ao
atendimento do Banco Itaú...”. Desliguei. Esse número também está no site da
Caixa.
Não sei se acontece em todo o Brasil, mas aqui a beira dos
verdes mares (nunca entendi o porquê do plural!) nas grandes redes de
supermercado, Carrefour, Extra, Pão de Açúcar e outros regionais com 50/80
lojas pelo nordeste, estão usando uma artimanha criminosa, brasileiríssima. Carnes(peixe,frango,gado),frios(queijos,salames,mortadelas,presuntos,etc.),
pães, tortas, bolos e afins, a data de validade,grudada com uma etiqueta branca
ou seja o último dia para aquele produto ser consumido,é o do dia. Explico: se
hoje, é dia 28 de agosto, por exemplo; esse é o último “dia de validade”. Então
procuro o mesmo produto com um prazo de validade mais distante, que dure pelo
menos uma semana. Não existe.
Todos estão com a mesma data de validade dizendo: “ compre
agora, coma tudo e volte amanhã comprar mais!” Amanhã, o dia seguinte, a data é
trocada na embalagem para...29 de agosto. Entenderam a malandragem, é claro! Os
marquetíferos chamam isso de “marquetim agressivo.”
Morreu Alain Resnais. Tinha 91 anos (o que deve ser
insuportável) não sei de que mal morreu ou se simplesmente acabou-se consumido
pelos anos. Os jornais apenas informam, reproduzindo o mesmo press release distribuído
pelas agências de notícias com a biografia cinematográfica dele. Alain Resnais
morreu no dia errado para o Brasil; em pleno carnaval ninguém ficou sabendo e o
espaço na imprensa é ofensivo de tão pequeno para um homem tão importante para
o cinema mundial. Assisti alguns de seus principais filmes no Cine Guarani ou
no Imperial, na rua da Praia: “Horishima, meu amor”, “O ano passado em
Marienbad” e outros que agora não lembro porque sinto saudades de filmes que
não fazem mais e de salas de cinema de arquiteturas tão imponentes que
lembravam catedrais, e que foram destruídas irremediavelmente. E dei um passeio
por uma Rua da Praia que também não existe mais. Pretensioso que sou, faço como
Carlos Drummond de Andrade fez – e disse – já velho e morando há muitos anos no
Rio de Janeiro de sua mineira Itabira onde nasceu. “Itabira (Porto Alegre) é
apenas um retrato pendurado na parede.”
Ao contrario do que muita gente diz, eu não acho o tal de
“horário político” o programa mais chato da televisão. Acho sim o mais
divertido; e quando a eleição é pra vereadores, não há comediante que superem
os candidatos; lamento que seja apenas de 4 em 4 anos; poderia pelo menos ser
mensal, seria o mais engraçado “stand up” da TV mundial. E o povo elege
qualquer um por uns trocados, uma prenda ou um corte de chitão.
Chato mesmo; insuportável até, são os desfiles de escolas de
samba transmitidos pela TV; sobre tudo pela Globo. Além disso, as escolas de samba
não contam mais histórias. Não têm enredo nem samba; agora fazem homenagem.
Este ano uma escola de samba do Rio homenageou o Boni. A parafernália
tecnológica de última geração que colocaram nos carros alegóricos, não tem nada
a ver com o morro, com a “cultura popular do morro”. E o enredo foi o Boni.
Noutra foi Zico, o galinho de Quintino. Quem o viu jogar, sabe o quanto tudo
mudou no futebol.
Pois o enredo da Imperatriz Leopoldinense foi o Zico;bom de
bola ruim com as palavras:“a relação entre o futebol e o samba é total. Para
jogar bem, é preciso saber se movimentar com flexibilidade, mexer o quadril, como
no samba”.Menos tá, Zico! Menos! Em São Paulo numa escola de samba o enredo foi
Ronaldo, ex-jogador hoje corretor. Em Porto Alegre apenas uma escola de samba
fazendo homenagem foi pouco, e duas foi demais. Na Imperadores do Samba o
enredo foi o escritor Luiz Fernando Veríssimo que, certamente, encantou a todos
com seu contagiante sorriso e provocante gingado, imagino, respeitosamente
surpreso. A escola de samba Imperatriz Dona Leopoldina resolveu homenagear Luiz
Carlos Prestes; que o redator/repórter do jornal Zero Hora descreveu “que teve bom
apoio de sua torcida para cumprir o desfile”. Belo texto! Porém o título do
samba enredo é imbatível: “A Marcha da Imperatriz Prestes a Encontrar Luís”.
Genial! Acabaram-se os enredos, que era o que dava as escolas de samba, sua
melhor originalidade. O enredo era o que fazia a diferença.
Pedi a Vulpino Argento, o Demente, suplente de senador e meu
auxiliar, que estava recostado num coqueiro mais distante que me ajudasse na tarefa
de pesquisar alguns enredos do passado. Prontamente com seu potente Apple de
longa distância encontrou o que eu precisava. Vejam só, que maravilha!- Grande
Rio = “Voilá, Caxias! Liberté, Egalité, Fraternité, merci beaucoup, Brésil! Não
tem de quê!”- Portela: “E por falar em amor, aonde anda você?”- Vila Isabel:
“Neste palco da folia, é a minha Vila que anuncia: Theatro municipal –
centenária maravilha.”- Mocidade Independente de Padre Miguel: “Mocidade
apresenta: Clube literário Machado de Assis e Guimarães Rosa… Estrelas em
Poesia.”- Império Serrano: “Bum bum paticumbum prugurundum.”
E foi de temas assim que saíram sambas enredos memoráveis. A
Beija-Flor com o enredo “O Astro Iluminado da Comunicação Brasileira”, que é o
Boni, tem um verso no samba enredo que diz: “Por isso solte a sua voz, hoje o
artista é você.Clareou e a gente vai se ver de novo. Clareou de azul e branco
nos braços do povo.” E foram necessários 8 compositores, os autores do Samba
Enredo, pra escrever isso.
E antes que um coco despenque sobre a minha cabeça vou dar
um mergulho sentado nessa água morninha desse mar esverdeado, e vou pra casa.
Obs.: mergulhar sentado é entrar no mar com água até os
joelhos, sentar quando a marola chegar perto e levantar quando ela passar por
cima da cabeça. É assim que mergulha quem nasceu antes da metade do século passado.
* Jornalista e escritor
Nenhum comentário:
Postar um comentário