Braço erguido prova que PT não aprendeu
nada
Josias de Souza*
O PT tem um ex-presidente e um
ex-tesoureiro, José Dirceu e Delúbio Soares, encarcerados no presídio da
Papuda. Tem outro ex-presidente, José Genoino, em prisão domiciliar. E tem um
ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, prestes a ser recolhido ao xadrez.
Todos condenados por corrupção pela mais alta Corte do país. Pelo estatuto do
partido, deveriam ser expulsos. Em vez disso, recebem solidariedade, proteção e
vaquinhas.
O partido se
dividiu: os 90% que erguem o braço e cerram o punho —física ou metaforicamente—
dão aos 10% que permanecem mudos e imóveis uma péssima reputação. Nesta
segunda-feira, 3, em plena cerimônia de reabertura do Congresso, o
vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), repetiu em plenário a coreografia dos detentos. Fez isso ao lado do
visitante Joaquim Barbosa, presidente do STF. Uma, duas vezes. Vargas
justificou-se vagamente:
“Muitos se cumprimentam com positivo,
sinal de vitória. No PT, é tradicional cumprimentar com L do Lula. E a gente
tem se cumprimentado assim [com o punho erguido]. Foi o símbolo de reação dos
nossos companheiros que foram injustamente condenados. O ministro está na nossa
Casa. Na verdade, ele é um visitante, tem nosso respeito. Mas estamos bastante
à vontade para cumprimentar do jeito que a gente achar que deve.''
O companheiro
comete dois erros. Num, trata como sua a Casa do povo brasileiro. Noutro, ignora
a opinião dos verdadeiros anfitriões. No final de 2013, o Datafolha informou que, para 86% dos brasileiros, Barbosa agiu bem
ao mandar prender os mensaleiros em 15 de novembro, feriado da Proclamação da
República. Estratificando-se o dado por preferência partidária, verificou-se
que o apoio às prisões foi ligeiramente maior entre os simpatizantes do PT:
87%.
A desenvoltura de André Vargas indica
que deve haver, escondida nos subterrâneos do PT, uma escola de desfaçatez com
especialização em cinismo. Não é possível que tantos petistas já nasçam com
tamanho conhecimento das mumunhas. Quando Lula diz que logo, logo vai explicar
a “farsa” do mensalão, quando Rui Falcão, atual presidente do PT, declara que o
Supremo julgou sob pressão da mídia golpista, eles não se tornam bons exemplos.
Mas viram extraordinários avisos. Avisam que o PT não toma jeito. Quando Dirceu
e Genoino se autoproclamam inocentes “presos políticos”, fazem lembrar as
virgens de Sodoma e Gomorra.
Ninguém tem o direito de se meter na
vida do PT. Mas já que a banda muda do partido não parece disposta e ninguém
mais se habilita, por que não procurar alguém alheio à legenda para
restabelecer a ordem? Um nome emerge instantaneamente como o mais indicado:
Luiz Inácio Lula da Silva. Aquele sindicalista do ABC, muito respeitado por
todos, que se lançou na política, foi deputado federal por São Paulo, farejou a
existência de 300 picaretas no Congresso e chegou a presidente da República.
Esse Lula remoto, defensor
intransigente da ética, de quem nunca mais se ouviu falar, seria algo de novo
no PT. Impossível imaginá-lo recorrendo à compra de apoio político com verbas
do contribuinte, ao fisiologismo e a outras práticas pouco assépticas. Ele
daria atenção prioritária a um pedido de desculpas do PT, antes que não
adiantase mais nada.
O único problema do PT seria descobrir
o paradeiro desse Lula e convencê-lo a assumir as rédeas da agremiação. Como se
sabe, o personagem desapareceu misteriosamente por volta de 2005, tendo sido
substituído por um sósia. Ou o PT encontra o velho Lula ou vai passar à
história como único partido do mundo em que os ratos botam a culpa no queijo. E
ainda erguem o braço para similar uma revolução.
*Blog do Josias - UOL
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