Oportunismo na hora mais difícil
André Machado*
Eles já viveram seis, sete, oito décadas. Cresceram
num mundo diferente, menos consumista, bem anterior à internet. Pais, avós,
bisavós. São mais de 23 milhões de brasileiros que, somados, escreveram, nos
seus cotidianos, a maior parte da história nacional contemporânea. E, no
momento em que mais precisariam de atenção, são muitas vezes vítimas da
ganância, do desamor e do inescrupuloso oportunismo dos próprios familiares.
Reportagem investigativa
publicada ontem (16/02) no jornal O Globo aponta o crescimento assustador das
ações de interdição que tramitam nas Varas de Família do Poder Judiciário em
todo o país. A medida é prevista em lei como uma forma de proteção ao idoso,
quando este chega a uma fase em que se torna incapaz de discernir, de decidir
sobre os próprios direitos e deveres. Ou seja, de cuidar da própria vida.
Deveria ser assim. Mas a realidade, muito triste, é outra.
Na maioria dos casos, as reais
motivações têm a ver com dinheiro e patrimônio dos idosos. São filhos e netos
tentando impedir novos relacionamentos afetivos dos pais ou avós, de olho no
acesso aos empréstimos obtidos de forma nada transparente, ao gerenciamento de
pensões, cartões de débito e até numa macabra espécie de antecipação de herança
enquanto os velhinhos estão pra lá de vivos, firmes e fortes.
Os malandros consultam ONGS,
peticionam na Justiça como se estivessem preocupados, tudo sem o menor
constrangimento. A reportagem fala em uma elite mais visada, a dos funcionários
públicos que chegaram à velhice com altas aposentadorias. E, embora decisões
recentes mostrem que a Justiça tenta avaliar cada caso com rigor, as bem
sucedidas aumentam num ritmo aterrador. Há 14 anos no Senado, por exemplo, um
servidor aposentado era interditado a cada ano. Hoje, a média é de um a cada 52
dias.
Que tal se olhássemos mais de
perto para este problema? Se você é militante, converse com a direção do seu
partido político e veja o que há de políticas públicas para os idosos entre as
pautas em debate e os programas de governo. Pesquise no site da prefeitura da
sua cidade e saiba se o município está fazendo a sua parte. Contate seu
vereador, seu deputado, e peça informações.
Mas, mais do que tudo isso, faça
a sua parte. Como cidadão, como familiar, como ser humano. Trate os idosos do
seu círculo de convívio com carinho, respeito, prestando-lhes a assistência de
que necessitam. Se você não tem idosos na família, pense nos vizinhos, nos
conhecidos. Há dois momentos na vida em que todos nós, invariavelmente,
precisamos de atenção especial. Já passamos por um, a infância. E, com sorte,
logo chegaremos à segunda parte. Como você gostaria de ser tratado, quando a
hora chegar?
Uma ótima semana.
Aproveite o dia!
*Jornalista
*Jornalista
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