Tumulto de rua não se enfrenta com bordoadas.
Isso apenas
espalha a baderna.
Cesar Cabral*
Lá pelos anos 60 do outro século, a polícia batia com
cassetetes de borracha em estudantes, operários, marginais...Mas a questão aqui
não é essa; é o cassetete. Eram mais flexíveis, não como são os de hoje feitos
de madeira, de nome “Tonfa”, que se compra pela Internete por mais ou menos R$
50,oo. Segundo Kunhg Fu, um sábio chinês meu amigo há muitos anos, a Tonfa foi
desenvolvida há 8 “séculos atrás(!)” – certamente impedidos de desenvolver o
que quer que fosse há 8 séculos a frente - como uma arma de madeira pelos
habitantes de Okinawa, no Japão, especificamente para uso no caratê.
“Duas Tonfas eram frequentemente usadas simultaneamente,
sendo uma arma muito eficiente contra ladrões. Os movimentos circulares da
Tonfa eram usados como forma de ataque, a parte lateral era usada para bloquear
golpes de nunchakus (aqueles dois bastões presos um ao outro com uma corrente)
e as extremidades para ataques penetrantes. É preciso extrema habilidade para o
uso da Tonfa e um longo e específico treinamento já que cada uma de suas partes
tem uma função. Hoje, substituindo o ultrapassado cassetete de borracha, a
Tonfa se tornou um bastão ainda mais resistente feito de fibra sintética, para
ser usada como arma de defesa policial!” - assim explicou-me Kunhg Fu. Pois o
que se vê não é isso. A polícia usa a Tonfa como se fosse um pedaço de pau pra
dar porrada. Não têm preparo; não sabem usá-la já que não recebem treinamento
adequado – ou nenhum – tanto de manuseio, com suas diversas possibilidades de uso,
quanto um mínimo de preparo psicológico, talvez o idem mais importante para sua
utilização. É o que se vê pela TV. Ao vivo o fiasco é 100%. Se me processarem
por essas afirmações, não me peçam que prove as afirmações, pois terei que eu
mesmo me submeter a uma sessão de tonfadas para provar o que todo mundo sabe. É
claro que levarei o honorável Kunhg Fu para apontar os erros e o despreparo da
polícia das tonfadas que levarei antes de seguir para o serviço de
traumatologia de urgência mais próximo.
Por certo os cassetetes de borracha daqueles anos que já se
vão longe não quebravam - como se quebrou a Tonfa de um policial em pânico numa
dessas passeatas - a não ser as costelas de quem levava bordoadas. Além disso,
o infeliz ficava com um baita hematoma por várias semanas; às vezes varava um
mês.
Nunca levei borrachada nessa época de grandes “distúrbios
populares” como se dizia. Mas vi amigos e companheiros sofrerem sem dó nem
piedade da polícia. Afinal a polícia quando bate, goza.
Corríamos do Mercado Livre, Borges de Medeiros a cima, no
centro de Porto Alegre – ainda não havia a tal de Esquina Democrática – e nos
safávamos das borrachadas. Não porque fôssemos fujões, nem mais espertos do que
os outros protestantes de rua, mas sim por uma questão física. Quem corre mais
rapidamente por cima do piso escorregadio do Edifício Sulacap? A gurizada
calçando Sete Vidas, vestindo uma calça Faroeste e uma camiseta Hering, ou um
brigadiano barrigudo calçando botinas pé-de-porco, 40 anos de idade, 90 kg,
“louco de raiva alheia”, sem uma ideologia juvenil, soldo beirando a esmola,
faminto e apertado de mijo?
Passados mais de 50 anos a polícia continua fazendo a mesma
coisa; usando a mesma tática (!) e estratégia (!). Apenas é que agora usam
Tonfas, e andam fardados como soldados de filme de ficção científica. Parecem
um esquadrão explorando o sul de Plutão, portanto escudos que mais atrapalham
do que mesmo protegem, balas de borracha de ferro, bombas de efeito imoral e
indecente e esprei de pimenta, que já não são mais aqueles do tipo lata de
inseticida para matar mosquito, mas um trambolho de cor preta tamanho de um
extintor de incêndio.E foi só o que mudou. A aparência e não a competência. Ao
invés de combaterem os “vândalos”, que a Globo News já está chamando de
“arruaceiros”, - Black bloc não “pegou” -
agora batem nos professores que estão na primeira fila; numa briga
inglória, corpo a corpo com os escudos feitos de kevlar.
Desde a antiguidade os escudos já eram usados por tropas
militares em campos de batalha. Os soldados formavam uma parede de escudos cada
um lado a lado. Assim cada soldado se beneficiava da proteção do escudo
vizinho. Sendo que o da direita protegia o da esquerda, e assim por diante.
Persas, gregos, romanos e tribos africanas usaram essa tática de guerra, para
defesa e ataque.
Nada mudou como se vê pelos noticiários das emissoras de
televisão e pelas fotografias dos jornais e das revistas. A diferença é que os
“inimigos” de hoje não são soldados de um outro império ou de outra tribo. Não
usam nenhuma tática de guerra e nem têm estratégias de ataque e defesa. Apenas
se juntam, avançam com suas “palavras de ordem” de toda a ordem e se dispersam
sem rumo a fugir das bombas de efeito imoral, das balas de borracha de ferro,
do gás que faz chorar e embrulhar o estômago, das pedradas dos baderneiros de
sempre quebrando vidraças,incendiando lixeiras e sacos de lixo e, mais
recentemente, capotando carros de reportagem da imprensa.
Os da linha de frente, muitos deles, são professores dos
filhos desses soldados policiais. Além das pesquisas que Vulpino Argento o
Demente, 4 º suplente de senador e meu assessor para buscas de informações que
ao fazê-las quase sempre me dão uma baita duma preguiça, tenho algumas fontes e
por elas morro de pé mas não revelo quem são, É justo; jornalista ou escritor
sem fonte não passa de fofoqueiro inútil. Nós temos fontes, policia tem
alcaguete.
Pois entrevistei minha fonte: PM, aposentado, sofrendo com a
gota do joelho e a bursite do ombro direito – que adquiriu de tanto dar porrada
inútil em quem nem sabia o por que.
Nessa entrevista, que reproduzo sem nenhuma correção, vamos nos tratar por eu e
ele.
Eu – Porque a polícia ataca quem protesta, considerando que
protestar é legitimo numa democracia?
Ele – Por que eles nos enfrentam, estão na nossa frente; nos
xingam com palavrões, nos ofendem.Não há uma mãe sequer de um policial que não
tenha sido chama de puta. E nós de seus filhos.
Eu- Mas ataca-los, por isso é coisa de guri ofendido.
Ele – É, mas a gente sente raiva; a gente não quer ser
ofendido. Basta gritá as palavra de orde.
Eu – Mas esse motivo é ridículo; os manifestantes não são
bandidos, não tem armas, não são militares; apenas defendem uma ideia, uma
reivindicação que não compete à polícia decidir se certa ou errada.
Ele – É! Mais a gente sente raiva e tem que obedece a ordem
do Comando.
Eu – E qual é a ordem do Comando?
Ele – Espancar.
Eu – Espancar?
Ele- É a palavra de ordem.
Eu – E qual é a diferença entre bater e espancar?
Ele – Pra nóis é tudo a mesma coisa.
Eu – E por que vocês não batem ou espancam e prendem os
vândalos, baderneiros, agitadores profissionais que sempre se infiltram, em
qualquer cidade do mundo, nesses protestos de rua e estão vestidos de fácil
identificação e além disso formam um pequeno grupo dentro da passeata?
Ele – É aí que tá o pobrema.
Eu – Que “pobrema”?
Ele – A PM2 não colabora. Os vândalo forma um outro grupo
nos tumulto. Dá pra ve pela indumentária; todo mundo sabe. A PM2 tinha que se
vestir igual que eles, sinfiltra e até mesmo quebrar uma vidraça de um banco
qualquer. Ganhá confiança deles que são um grupo de meia dúzia. E na hora agá
prendê, algemá e intregá prum batalhão de choque de suporte na retaguarda.
Eu – Acho que em todo o Brasil desde junho vemos esses
vândalos, virando carros, inclusive da própria polícia, incendiando ônibus,
saqueando lojas e quebrando fachadas de bancos, que são todas de vidro, sem
roubarem sequer um centavo. E enquanto isso a polícia atacava, batia, agredia
pessoas de várias categorias profissionais que protestavam em favor do que
entendiam ser o melhor para eles e para a sociedade brasileira.
Ele – A polícia, que também tem seus vândalo e seus bandido,
não tem nenhum interesse em acabá com essa baderna. A alta cúpla tem interesse
em desviar a atenção do povo para esses tumulto porque eles encobrem a
bandidagem policial. Tem muito vândalo que é da polícia. E até ganham dinheiro
para quebrar orelhão, lata de lixo e vidraça de loja.
Eu - Você pode provar essas terríveis revelações?
Ele – Posso! Mas não viverei 10 minutos.
Um capacete balístico de Kevlar usado pelo Exercito dos
Estados Unidos pode ser comprado por um conhecido site desse mercado livre que
é a internete. Custa R$ 550,oo e pode ser pago em 12 parcelas de R$ 53,16. Um
colete tático, com bolsos e coldre para pistola 45, custa R$ 120,oo. E tem
muito mais; botas, cantis, calças, jaquetas, joelheiras, caneleiras, óculos
para visão noturna e tudo o mais que um “vândalo” precisar para...divertir-se.
Como será que viveremos quando eles trocarem, as camisetas
pretas e as toucas ninjas para esconder o rosto por fardas e equipamentos
semelhantes aos da polícia?
Um coronel PM, mais parecendo um paisano, pela roupa que
trajava, ser encurralado pelos furiosos baderneiros, visivelmente
identificáveis pelos trajes que usam de arruaceiros e desordeiros, não pode
comandar uma tropa e enfrentar um tumulto sem que tenha um rígido treinamento e
um sólido conhecimento de que ações policiais devem ser tomadas nessas
ocasiões. É de se lamentar seus ferimentos, mas é assustador não ter capacidade
policial para não meter-se em arruaças sem o preparo que se espera para a nossa
proteção; sobretudo a dele.
Os tais vândalos estão usando táticas de guerrilha urbana,
enquanto a nossa polícia se comporta como uma meia legião romana em campo
aberto. Tumulto de rua não se combate com Tonfas, escudos, esprei de pimenta,
tiros de intimidação. Isso só espalha a baderna.
*Jornalista e escritor
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