A partir de hoje, publico um artigo do César Cabral, dividido
em três partes, onde ele analisa a necessidade do Diploma e/ou Registro para a “profição”
de jornalista. O César é um gaúcho que mora em Fortaleza e que tem o dom de
escrever o que gostamos de ler. Querem uma prova? Leiam a primeira parte do seu
artigo
Não são apenas o Diploma e o Registro, como única condição
para o exercício dessa profição, que faz um jornalista competente.
César Cabral*
se o mesmo se desse com pelo menos um dos meus livros
certamente seria um “best-seller” - são, em geral elogiosos, muitos são gentis
e, verdadeiramente, estimulantes e fazem lá mesmo seus comentários. Porém
aqueles leitores que não gostam, ou não concordam com o que penso por escrito,
usam meu e-mail. Assim não ficam expostos e podem escrever o que mais lhes dá
na cabeça. Alguns chegam a ser ofensivos; uns por discordarem outros por que
não entendem o que está escrito. Mas há também os que colocam em dúvida minhas
afirmações.
De qualquer maneira dou atenção a todos
Um desses comentários se refere ao fato de que critico
sistematicamente “os jornalistas de
hoje”, todos diplomados e registrados. O leitor afirma que
em qualquer profissão existem
bons e maus profissionais tanto hoje como antigamente; e faz
um longo relato. O texto é bem escrito, mas não vai além disso, porém enfatiza
que “sou contra escolas de jornalismo e contra a exigência de diploma para o
exercício da profissão”. Como não sei a idade e a profissão dele, pois não
disse, posso me atrever a supor o que bem entender; inclusive que seja até
mesmo um jovem jornalista ou professor de escola de jornalismo defendendo sua
classe; que é como os jornalistas de hoje denominam as categorias
profissionais. Mas esse leitor defende também a propaganda, que ele afirma ser
totalmente diferente de publicidade, com um trecho colado e arrastado do
Wikipédia. Descobri facilmente. E, finalmente, meu leitor afirma que meus
textos são muito longos. Bem escrevo textos do tamanho que entendo seja
suficiente para dizer o que penso sem as normas e exigências dos textos
jornalísticos e os publico - artigos e crônicas - no Recanto das Letras,
enquanto escrevo livros – daí minhas ausências, às vezes prolongadas, desta
página – e não tenho Facebook nem Twitter onde se escreve bilhetinhos.
Não sou contra quem os tem! Apenas não sei lidar com redes
socais; não sei fazer isso. Mas já me limitei (ou fui limitado) a escrever em
laudas de jornal, uma folha “tamanho ofício” com 30 linhas já impressas e numeradas,
onde cabiam no máximo 70 caracteres; inclui-se aí qualquer sinal gráfico e até
mesmo os espaços entre eles e as palavras. E também já fui obrigado a escrever
notícias com no máximo 20 palavras para os noticiários da emissora de rádio que
trabalhava em Porto Alegre e nas tais laudas para o jornal do grupo
jornalístico, na época quase centenário. E fiz o mesmo em outros jornais. Mas
isso é coisa de um passado muito distante. Além disso, como redator
publicitário que também já fui, por um tempo, tive que “vender” dezenas de
produtos de lojas de varejo em apenas 30 segundos, em rádio e televisão e em
páginas duplas de jornais que os “clientes” achavam que espaço não era
equilíbrio estético, mas, sim desperdício. Portanto, caro leitor, sei o que é
limite de tempo e espaço. Hoje, aqui nesse recanto das letras, me ponho aos
quatro ventos e a meu gosto. E para evitar aquela palavra que não pronuncio,
hoje sou apenas ex.
Não sou contra os que têm diploma de curso universitário! Nem posso!
Não sou contra a exigência de diploma de curso universitário
para quem deseja exercer
qualquer atividade que necessite obrigatoriamente dessa
graduação. Isso porque ser
contra ou a favor, simplesmente, não é o centro da questão.
Acredito que com ou sem
diploma, competentes e incompetentes espalham-se em todas as
profissões, assim como
honestos, éticos, capazes, escrupulosos e seus antônimos. O
que tenho afirmado é que
o diploma de jornalista como única condição para o exercício
dessa profissão não dá competência ao jornalista e nem dá ao indivíduo a
garantia de um bom jornalismo. Ao
contrário de outras profissões, que sem o devido diploma nos
colocam em risco de vida e
expostos a todo o tipo de perigo. Fui jornalista do fim dos
anos 50 do século passado (!) até
quando fui expurgado do jornal e da rádio, do mesmo grupo,
em que trabalhava, por questões políticas e outras divergências; eu e muitos
outros. Sem curso e sem diploma aprendi por gosto e prazer a ser jornalista,
embora nessa época uma faculdade dos meios de comunicação dava seus primeiros
passos. Sem emprego fui ser redator publicitário; e gostei. Mas voltei ao
jornalismo e nele me aposentei depois de 46 anos de muito trabalho sem diploma
nenhum, pois sou de uma geração do tempo em que todos os jornalistas, sem
exceção, sabiam escrever.
Da cobertura da política municipal de Porto Alegre e quando
da renuncia de Jânio Quadros
a Presidência da República, e a resistência de Leonel
Brizola, a época Governador do Rio
Grande do Sul, a ilegalidade que pretendiam cometer contra a
posse do vice-presidente, João Goulart, o Jango, até a deposição dele e tudo o
mais que aconteceu naqueles tempos, fui testemunha; estava lá, recém começando.
Era apenas um jovem iniciante; não era uma estrela brilhante e por isso não
consto da história dos jornalistas que atuaram naqueles episódios. De volta ao
jornalismo, andei por algumas redações de assessorias e gabinetes de imprensa
de governos estaduais e municipais. Na Tribuna do Ceará, de Fortaleza, onde
encerrei meus anos de jornalista, onde, quando quero e a qualquer dia do ano,
vou me refestelar nesse mar de água morninha, certa vez, assim que lá cheguei
um gurizinho recém-alçado a editor, com um esfuziante diploma, num esguicho
legal, resolveu acrescentar antes de meu nome na coluna que eu escrevia a
“ressalva”: "coordenação de Cesar Cabral". Ora, eu não tinha diploma
nem registro! Ciro Saraiva, Diretor de Redação, mandou tirar a sindico ardilosa
observação em respeito a mim, a minha história e, na época, aos meus mais de 40
anos de profissão.
* Jornalista e escritor
- Segunda parte, amanhã (24).
Grande Machadinho, sempre resgatando os bons textos e autores, é um deleite a leitura de Cesar Cabral, coloca termos e circunstancias em seus legítimos lugares - não usa suspeitos e afins, na
ResponderExcluirnomeação de interlocutores - flui um texto brilhante. Ansiedade me acompanha na espera do que
amanhã será publicado. fraterno abraço, leitão.