segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Artigo

A partir de hoje, publico um artigo do César Cabral, dividido em três partes, onde ele analisa a necessidade do Diploma e/ou Registro para a “profição” de jornalista. O César é um gaúcho que mora em Fortaleza e que tem o dom de escrever o que gostamos de ler. Querem uma prova? Leiam a primeira parte do seu artigo


Não são apenas o Diploma e o Registro, como única condição para o exercício dessa profição, que faz um jornalista competente.

César Cabral*

Os comentários que recebo nas quase 25 mil leituras que já tem minha página na internet, -
se o mesmo se desse com pelo menos um dos meus livros certamente seria um “best-seller” - são, em geral elogiosos, muitos são gentis e, verdadeiramente, estimulantes e fazem lá mesmo seus comentários. Porém aqueles leitores que não gostam, ou não concordam com o que penso por escrito, usam meu e-mail. Assim não ficam expostos e podem escrever o que mais lhes dá na cabeça. Alguns chegam a ser ofensivos; uns por discordarem outros por que não entendem o que está escrito. Mas há também os que colocam em dúvida minhas afirmações.
De qualquer maneira dou atenção a todos
Um desses comentários se refere ao fato de que critico sistematicamente “os jornalistas de
hoje”, todos diplomados e registrados. O leitor afirma que em qualquer profissão existem
bons e maus profissionais tanto hoje como antigamente; e faz um longo relato. O texto é bem escrito, mas não vai além disso, porém enfatiza que “sou contra escolas de jornalismo e contra a exigência de diploma para o exercício da profissão”. Como não sei a idade e a profissão dele, pois não disse, posso me atrever a supor o que bem entender; inclusive que seja até mesmo um jovem jornalista ou professor de escola de jornalismo defendendo sua classe; que é como os jornalistas de hoje denominam as categorias profissionais. Mas esse leitor defende também a propaganda, que ele afirma ser totalmente diferente de publicidade, com um trecho colado e arrastado do Wikipédia. Descobri facilmente. E, finalmente, meu leitor afirma que meus textos são muito longos. Bem escrevo textos do tamanho que entendo seja suficiente para dizer o que penso sem as normas e exigências dos textos jornalísticos e os publico - artigos e crônicas - no Recanto das Letras, enquanto escrevo livros – daí minhas ausências, às vezes prolongadas, desta página – e não tenho Facebook nem Twitter onde se escreve bilhetinhos.
Não sou contra quem os tem! Apenas não sei lidar com redes socais; não sei fazer isso. Mas já me limitei (ou fui limitado) a escrever em laudas de jornal, uma folha “tamanho ofício” com 30 linhas já impressas e numeradas, onde cabiam no máximo 70 caracteres; inclui-se aí qualquer sinal gráfico e até mesmo os espaços entre eles e as palavras. E também já fui obrigado a escrever notícias com no máximo 20 palavras para os noticiários da emissora de rádio que trabalhava em Porto Alegre e nas tais laudas para o jornal do grupo jornalístico, na época quase centenário. E fiz o mesmo em outros jornais. Mas isso é coisa de um passado muito distante. Além disso, como redator publicitário que também já fui, por um tempo, tive que “vender” dezenas de produtos de lojas de varejo em apenas 30 segundos, em rádio e televisão e em páginas duplas de jornais que os “clientes” achavam que espaço não era equilíbrio estético, mas, sim desperdício. Portanto, caro leitor, sei o que é limite de tempo e espaço. Hoje, aqui nesse recanto das letras, me ponho aos quatro ventos e a meu gosto. E para evitar aquela palavra que não pronuncio, hoje sou apenas ex.

Não sou contra os que têm diploma de curso universitário! Nem posso!

Não sou contra a exigência de diploma de curso universitário para quem deseja exercer
qualquer atividade que necessite obrigatoriamente dessa graduação. Isso porque ser
contra ou a favor, simplesmente, não é o centro da questão. Acredito que com ou sem
diploma, competentes e incompetentes espalham-se em todas as profissões, assim como
honestos, éticos, capazes, escrupulosos e seus antônimos. O que tenho afirmado é que
o diploma de jornalista como única condição para o exercício dessa profissão não dá competência ao jornalista e nem dá ao indivíduo a garantia de um bom jornalismo. Ao
contrário de outras profissões, que sem o devido diploma nos colocam em risco de vida e
expostos a todo o tipo de perigo. Fui jornalista do fim dos anos 50 do século passado (!) até
quando fui expurgado do jornal e da rádio, do mesmo grupo, em que trabalhava, por questões políticas e outras divergências; eu e muitos outros. Sem curso e sem diploma aprendi por gosto e prazer a ser jornalista, embora nessa época uma faculdade dos meios de comunicação dava seus primeiros passos. Sem emprego fui ser redator publicitário; e gostei. Mas voltei ao jornalismo e nele me aposentei depois de 46 anos de muito trabalho sem diploma nenhum, pois sou de uma geração do tempo em que todos os jornalistas, sem exceção, sabiam escrever.
Da cobertura da política municipal de Porto Alegre e quando da renuncia de Jânio Quadros
a Presidência da República, e a resistência de Leonel Brizola, a época Governador do Rio
Grande do Sul, a ilegalidade que pretendiam cometer contra a posse do vice-presidente, João Goulart, o Jango, até a deposição dele e tudo o mais que aconteceu naqueles tempos, fui testemunha; estava lá, recém começando. Era apenas um jovem iniciante; não era uma estrela brilhante e por isso não consto da história dos jornalistas que atuaram naqueles episódios. De volta ao jornalismo, andei por algumas redações de assessorias e gabinetes de imprensa de governos estaduais e municipais. Na Tribuna do Ceará, de Fortaleza, onde encerrei meus anos de jornalista, onde, quando quero e a qualquer dia do ano, vou me refestelar nesse mar de água morninha, certa vez, assim que lá cheguei um gurizinho recém-alçado a editor, com um esfuziante diploma, num esguicho legal, resolveu acrescentar antes de meu nome na coluna que eu escrevia a “ressalva”: "coordenação de Cesar Cabral". Ora, eu não tinha diploma nem registro! Ciro Saraiva, Diretor de Redação, mandou tirar a sindico ardilosa observação em respeito a mim, a minha história e, na época, aos meus mais de 40 anos de profissão.
* Jornalista e escritor


- Segunda parte, amanhã (24).

Um comentário:

  1. Grande Machadinho, sempre resgatando os bons textos e autores, é um deleite a leitura de Cesar Cabral, coloca termos e circunstancias em seus legítimos lugares - não usa suspeitos e afins, na
    nomeação de interlocutores - flui um texto brilhante. Ansiedade me acompanha na espera do que
    amanhã será publicado. fraterno abraço, leitão.

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