quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Periscópio

Segue o julgamento do Mensalão


Érico Valduga*

Ontem foram rejeitados, até por unanimidade, os primeiros embargos de declaração; pressão para livrar petistas da prisão, via embargos infringentes

Tá tudo dominado – diz o povo, numa síntese livre que traduz a impunidade no país. Mas não estaria se prevalecesse o estado de direito republicano, em que todos os crimes são punidos, após o devido processo, e não apenas os praticados por ladrões de galinhas. Pois o Supremo Tribunal Federal tenta demonstrar que nem tudo está dominado, e condena à prisão 25 réus, governistas de alto coturno, no histórico julgamento do Mensalão. 

A propósito, no exame dos primeiros embargos de declaração, todos rejeitados, o juiz Barroso fez questão de dizer que a Ação Penal 470 não foi o maior escândalo da história política do país, citando outros, de maior montante em recursos públicos desviados. Opinião aparentemente deslocada, e, por sinal, emitida de graça na véspera da etapa do julgamento dos embargos infringentes (que não são admitidos pela Constituição em matéria penal), por meio dos quais os mensaleiros esperam a redução de penas. Pode haver corrupção maior do que o Executivo comprar, literalmente, e pagar por mês, com recursos públicos desviados, votos no Legislativo?

Também ontem, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse esperar que o julgamento “seja o mais equânime possível, e que, de fato, agora, nos recursos, possa se fazer uma justiça que não se fez no primeiro julgamento”. Estará tudo dominado, mesmo, se Dona Dilma, a sua chefe, não lhe mandar calar a boca, e não se intrometer em processo que é da competência exclusiva do Judiciário. Não interessa se ela pensa igual ou não. 

E, depois, quem é o petista que fala de maneira descarada sobre fazer justiça? É alguém envolvido até o pescoço no pavoroso episódio do prefeito Celso Daniel (PT), assassinado em Santo André em janeiro de 2002, ao tentar evitar que o produto da corrupção no transporte coletivo local acabasse também nos bolsos de companheiros, além de nos cofres do seu partido. Testemunhas do caso relataram, nos processos que se arrastam no Judiciário paulista, que Carvalho transportava pessoalmente as maletas de dinheiro vivo, entregues a José Dirceu, condenado no Mensalão. Naquele ano Lula foi eleito para o primeiro mandato.

*Jornalista – Editor do blog Periscópio
www.EricoValduga.com.br

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