O
que está acontecendo?
Adeli
Sell*
Será uma nuvem passageira? Prenúncio de algum
tsunami no Brasil? Afinal, "o que está acontecendo?". A pergunta vem
de todos os lados. As manifestações são legítimas. As reivindicações e os
métodos para expressá-las é que devem ser analisados.
Os milhares de manifestantes que tomaram as
ruas nos últimos dias deram um recado claro aos governantes de todas as
instâncias. Os gritos mostram que há algo no ar. Porém é salutar escutar seus
tons. Há vários tipos de gritos, aparentemente no mesmo tom e direção.
Ledo engano. Cada um tem o seu problema. Não são mais as DIRETAS. Não é mais o FORA
COLLOR.
Temos aqueles que exigem respeito e qualidade
no transporte público, com uma passagem que não lhe arranque o olho da cara.
Temos o grito da mãe em busca de atendimento do filho num posto de saúde. Temos
também aqueles que lutam contra as mais variadas formas de corrupção e
ilicitudes. Há os que sentem insegurança todos os dias. Mas temos também o
grito do jovem que rodou no Enem ou do que fez vestibular numa universidade
pública e ficou para trás. Tem as vaias de novos torcedores em novos estádios que
nunca tinham ido antes. Tem o protesto daquele que ficou de fora dos estádios
de luxo e entradas com valores proibitivos. Tem de tudo, tanto no Brasil, como
no mundo afora.
Eu gritei muito e ainda sapateio contra as
injustiças. Lutei contra a ditadura. Fui um dos mentores e líderes na maior
greve da construção civil, que parou mais de 50 mil pessoas. Fui parar na
cadeia da Polícia Federal. Valeu a pena, hoje temos liberdade e
democracia. Mas não toleramos a Polícia truculenta, seja a daqui ou a
paulistana.
Gritos são muitos. É preciso saber escutar
aqueles que contam de fato. Fizemos mil e uma passeatas, greves, protestos, sem
nunca fechar a rua toda. Fazíamos questão de deixar o cidadão ir para casa,
tentávamos com isto sim, ganhá-lo à nossa causa. Nunca praticamos vandalismo e
mesmo assim derrubamos uma ditadura. Lutamos assim pelas Diretas, gritamos
muitas vezes Fora o FMI e vencemos o dragão da inflação de então. Botamos um
presidente a correr.
Não queremos corrupção. Queremos imprensa
livre. Queremos que os movimentos continuem e estamos com eles. A bandeira
por um país mais justo e melhor, levantada por milhares de jovens, coincide com
o que o PT defende e tem motivado nossas lutas na condução do Brasil. O uso das
redes sociais nos debates políticos e na mobilização nos mostra a
essencialidade de um tema: a democratização dos meios de comunicação.
Temo pelos poucos que vandalizam e que estão
ganhando destaque na mídia. O grito destes não pode ser confundido com o apelo
social pela coisa certa e justa. Aqui, em Porto Alegre, está acontecendo o
inusitado, os anarquistas estão na "direção" de várias ações,
inclusive nas violentas. Afora, os infiltrados de plantão e outros que devem
estar a serviço de causas escusas.
Os governantes não podem vacilar. Ouvir as
vozes das ruas é dever de todos os Poderes, para mudar práticas e aprofundar o
processo de transformações em busca de uma sociedade moderna, justa,
democrática e com igualdade de oportunidades para todos, sem deixar de mostrar
que é o vandalismo e a depredação dos espaços são intoleráveis.
*Adeli Sell é escritor e consultor.
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