Publicitário relata ameaças de morte
'Ou você se comporta, ou morre', teria dito Paulo Okamotto
em 2005; hoje diretor do Instituto Lula, ele não comentou acusação do
empresário
Visto como um potencial homem-bomba pelo PT por saber como foi
montado passo a passo o mensalão, Marcos Valério Fernandes de Souza disse ter
sido ameaçado de morte por Paulo Okamotto, atual diretor do Instituto Lula e
amigo do ex-presidente. Se abrisse a boca, morreria, disse o empresário no
depoimento à Procuradoria-Geral da República.
"Tem gente no PT que acha que a gente devia matar
você", teria dito Okamotto a Valério, conforme as duas últimas das 13
páginas do depoimento prestado no dia 24 de setembro pelo operador do mensalão
ao Ministério Público Federal. "Ou você se comporta, ou você morre",
teria completado Okamotto. Valério disse à subprocuradora da República Cláudia
Sampaio e à procuradora Raquel Branquinho que foi "literalmente ameaçado
por Okamotto". Procurado, o diretor do Instituto Lula não comentou o caso
ontem.
Valério relatou que Okamotto o procurou pela primeira vez em
2005, dias depois da entrevista concedida pelo então presidente do PTB, Roberto
Jefferson, em que o escândalo do mensalão era revelado. Okamotto disse, segundo
Valério, que o procurava por ordem do então presidente Lula.
Os dois teriam se encontrado primeiro na casa de Eliane Cedrola.
Segundo Valério, uma diretora da empresa de Okamotto. O emissário de Lula teria
pedido que Valério permanecesse em silêncio e não contasse o que sabia.
Da segunda vez, o encontro ocorreu na Academia de Tênis em
Brasília, onde Okamotto se hospedava, conforme Valério. Foi nessa segunda
conversa, cuja data não é mencionada, em que as ameaças expressas teriam sido
feitas.
Okamotto teria dito que os dois precisavam se entender, caso
contrário, Valério sofreria as consequências. Nos vários depoimentos que
prestou à Polícia Federal e ao Ministério Público ao longo da tramitação do
processo do mensalão, Valério manteve segredo sobre essas ameaças e sobre os
detalhes do esquema.
Insinuou várias vezes, porém, que tinha mais informações a dar.
Procurou o Ministério Público para tentar "negociar" uma redução de
pena e sua inclusão no programa de proteção à testemunha. Um fax chegou a ser
enviado por seu advogado aos ministros do Supremo.
Sem proteção. Depois que o Estado revelou,
em 1.º de novembro, a existência do novo depoimento de Valério, o
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou que o operador do
mensalão não chegou a pedir proteção à sua vida. "A notícia que me foi
transmitida foi de que não havia nada que justificasse uma providência
imediata", disse Gurgel em novembro. "Agora, se ele viesse a fazer
novas revelações, esse risco poderia se consubstanciar." Gurgel chegou a
classificar Valério como um "jogador".
Okamotto foi alvo da oposição durante as investigações do
esquema do mensalão no Congresso Nacional. Na época, ele presidia o Sebrae e
entrou na lista de investigados por ter pago uma dívida de R$ 29.436,26
contraída por Lula em empréstimo feito junto ao PT. Passou a ser classificado
como um tesoureiro informal do presidente.
A oposição investigava se o dinheiro do fundo partidário do PT
foi usado por Lula para pagar despesas pessoais. Okamotto disse que os
empréstimos serviram para cobrir despesas feitas por Lula com viagens e diárias
ao exterior em 2001. À CPI dos Bingos, em 2005, Okamotto não explicou por que
assumiu a dívida de Lula.
A CPI aprovou na época a quebra de sigilo de Okamotto. Mas uma
liminar concedida pelo então presidente do Supremo, Nelson Jobim, impediu que
dos dados bancários, fiscais e telefônicos de Okamotto fossem investigados. A
CPI dos Bingos foi encerrada nove meses depois de concedida a limitar sem que
as informações fossem avaliadas.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do
Instituto Lula no início da tarde de ontem. A assessoria do instituto, no
entanto, informou que Lula e Okamotto não "quiseram comentar o
depoimento".
Posteriormente, a assessoria informou que Okamotto responderá às
acusações "quando souber o teor do documento". Por enquanto,
acrescentou a assessoria do instituto, Okamotto não se considera
suficientemente informado para se pronunciar.(Estadão)
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