terça-feira, 15 de maio de 2012

Opinião

Na edição de ontem (14) publicamos artigo do cientista Marko Petek, contestando os que afirmam que o aquecimento global não existe. A origem da discussão está em artigo de Janer Cristaldo publicado no Blog do Prévidi. Hoje, estamos publicando a segunda parte do artigo do Petek. A intenção é única e exclusivamente, esclarecer aos leitores sobre um assunto tão importante. Tanto, que o Blog está à disposição do Janer Cristaldo se julgar importante responder ao Petek. Boa leitura
Machado Filho

Como dói mudar, especialmente para os velhos

Marko Petek*

Dizem por aí que o ser humano age movido por apenas duas razões: evitar a dor e ter prazer. Sendo que evitar a dor tem prioridade. Fácil de entender, se você está faminto vai engolir o que aparecer primeiro e não pedir que lhe sirvam um caviar.
Mudar dói. Mudar dói muito. Significa sair da zona de conforto a que nos acomodamos. Significa abrir-se para o novo, abandonar convicções arraigadas e por aí vai.
Mas a mudança é a única constante no universo: “tudo se move” já dizia Galileu. Tudo muda.
Exceto algumas pessoas !
Esta mensagem é para aquelas pessoas que ainda mantém a capacidade e a alegria de aprender. Que querem aprender-mudar-crescer.
Eu lembro dos anos 60. Lembro até bem. Naquela época a impressão que eu tinha era que o mundo estava ruindo. Vejam só alguns fatos marcantes: revolução dos jovens em Paris, chegada do homem a lua, Concílio Vaticano II, Hippies, Pilula anticoncepcional,  Televisão ao vivo via satélite, Computador (ou melhor “cérebro eletrônico”).
Hoje quando olhos para os 60 fico entusiasmado. Em termos históricos é uma década como poucas ao longo da história. Claro que não há como concordar com tudo, mas é inegável que foram os anos que mudaram tudo.
Como diz um professor meu da Ufrgs, muito querido: “Pobres dos que vivem em tempos de mudança”.
Toda esta introdução é devida a recente onda de revolta contra o assunto “Aquecimento Global” aí no Brasil. Mais uma vez a sociedade brasileira exibe uma tendência em tomar a direção errada que é preocupante.
Lembro uma vez que ouvi o dono das Botinas Zebu, ao ser entrevistado sobre a razão do seu sucesso declarar algo como: “sempre que preciso tomar uma decisão escolho o caminho mais difícil, porque é onde tem menos gente”. Sabias palavras. Palavras que tem tudo a ver com a resistência do ser humano a mudança porque esta dói. E nós fugimos da dor.
Enquanto a Europa inteira toma medidas concretas para preservar o meio-ambiente o Brasil dá uma de Avestruz e enfia a cabeça na terra. Típico: “se eu não olhar não existe”. É como o paciente que não vai ao médico com medo de que este descubra algo errado.
Confesso que tenho até vergonha da polêmica caipira sobre as sacolinhas de supermercado. Como é que tem gente que ainda consegue defende-las? Aqui já foram abolidas a anos! São um veneno para a natureza. Mas o problema é que mudar algo dói e ....
O que é importante entender é que não estou aqui pregando que a terra vai aquecer 50 graus, os oceanos vão invadir o planalto (se bem que não faria mal algum darem uma chegadinha na Praça dos 3 poderes), nada disto. O ponto é que não é necessário um aquecimento de 50 graus. Um ou dois graus extras (além dos que a natureza já vai comandar) são suficientes para causar quebras de safras, aumento do consumo de energia elétrica (iluminação, resfriamento ou aquecimento), enfim piorar a vida de milhões e milhões de pessoas.
Mas brasileiramente que somos preferimos imaginar que isto é bobagem. Nos vestimos todos de cientistas e bradamos em alta-voz que os reais cientistas estão errados. Porque se eles estiverem certos, teremos que mudar hábitos e mudar dói.
Preferimos acreditar que o petróleo é eterno. E empanturramos oligarquias produtoras de petróleo com toneladas de dólares porque é mais confortável pagar qualquer preço que nos peçam do que buscarmos soluções alternativas, limpas e que não financiem pessoas com as quais você não casaria a sua filha. Isto é racional? Ou é confortável?
Todo o ponto está aí. No medo do ser humano em mudar. E este medo aumenta com a idade.
Eu que já não sou jovem começo a entender isto melhor. Quando era guri tinha uma agilidade grande, reflexos afiados,  vitalidade. Agora tudo me dói. É a idade do Condor: com dor no pescoço, com dor nas costas e por aí vai. Então para me mexer eu sei que vou sentir dor. E aí o meu instinto me diz para ficar como estou. Quietinho.
Lembro de minha primeira aula de física na Engenharia da Ufrgs. Já lá se vão mais de 30 anos. O professor nos disse: “a partir de agora esqueçam tudo o que aprenderam sobre ciência em jornais, revistas e televisão”. Aquilo me calou fundo.
Ao mesmo tempo eu amo a natureza. Eu escalo montanhas, esquio, nado, caminho sempre junto a natureza. Ja criei cachorro, passarinho, hamster, pombas, tartarugas, peixes e por aí vai... ou seja, adoro a natureza. Não de uma maneira fanática. Por exemplo, eu amo roupas de pele natural. E quem já sentiu um casaco de pele de foca sabe o que isto significa. Nada se compara a maciez de uma foca. Também acho o pessoal do PETA um porre. São uns chatos, xaropes.
A natureza foi dada ao homem para usufruir dela. Mas não podemos fazer como ganhadores da loteria que gastam tudo que ganharam em um ano e morrem na miséria. Que é exatamente o que muitos querem fazer hoje.
Eu lembro que ao cursar o primeiro ano do colegial no Rosário, fiquei escandalizado ao saber que iríamos estudar ecologia nas aulas de biologia. “Como assim ecologia?”. Ecologia era coisa de esquerdinhas, comunas, hippies. Não cabia em um colégio de segundo grau ensinar isto aos alunos.
Mas felizmente aqueles ecochatos do passado fizeram o que fizeram. Hoje não há cidade no mundo que não controle os impactos ambientais. Hoje há uma consciência generalizada de que  é sim preciso cuidar da natureza. Hoje as pessoas caminham em parques, cuidam da saúde, etc. Por causa daqueles chatos de antigamente.
Sempre foi assim na história da humanidade, os extremistas nunca atingem seus objetivos (felizmente), mas nem tudo que eles falam é ruim ou errado. E a própria sociedade se encarrega de depurar os discursos ficando com o que é razoável e descartando o resto. Mas se não houvesse o exagero, provavelmente nada restaria.
Enfim, juntando tudo o que disse acima, minha conclusão é que
Ecochatos são muito chatos. A meu ver só há uma coisa mais chata que eles: um velho chato!

ps1: falam muito dos jovens, talvez por eles terem uma visão mais ampla das coisas do que nós mais velhos. É o que se chama de visão sistêmica, do todo. Deveríamos agradecer a dois jovens americanos de Stanford, Sergey Brin e Larry Page criadores do Google que mantém gratuitamente o site que permite a publicação deste meu texto. Valeu aí gurizada;

ps2: em vez de lerem notícias na televisão ou em portais de internet, aproveitem outro serviço maravilhoso oferecido pelo Google, um banco de dados de artigos científicos. Para facilitar a vida segue o link

http://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&q=%22global+warming%22&btnG=Pesquisar&lr=&as_ylo=&as_vis=1

Tem 546.000 artigos sobre Aquecimento Global. Leia apenas os mil primeiros e depois venham conversar comigo (lógico que me refiro aos céticos).
*Marko Petek é gaúcho, cientista e mora na Suíça.

Um comentário:

  1. O Petek é, além de uma grande figura, um cara muito estranho. Se diz anti-petista, mas adora um "sofisma esquerdista" para justificar aquilo em que acredita. Age como aqueles petistas que dizem: "Vocês estão errados!! Foi a Ford que não quis se instalar no RS!!".
    O Petek é um liberal de esquerda?
    Pode? Claro, leia o texto com atenção e acompanhe o que está no www.previdi.com.br, postado desde sexta passada. Hoje mesmo, ele usa argumentos para defender aquilo que acredita que cita até os banners que estavam nos sites/blogs até 2010!!
    Eu gosto muito do Petek!!

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