Muito barulho
A inflação de 2019 foi de
4,31%, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA),
levantado pelo IBGE. A meta do Conselho Monetário Nacional ficava entre 2,75%
no mínimo e 5,75% no máximo. A inflação ficou, portanto, no centro da meta.
O centro da meta,
rigorosamente, era 4,25%. A diferença de um acerto no centro absoluto do alvo
foi de 0,06 – seis centésimos de ponto percentual. Se fosse um concurso de tiro
ao alvo, a política monetária receberia uma medalha. E a causa de o tiro ficar
seis centésimos acima do centro absoluto do alvo é justa: foi a pressão da
demanda de dezembro, mostrando um reaquecimento da economia. Quer dizer, só
boas notícias.
Por que então fizeram
tanto barulho, abrindo manchetes a dizer que o dragão da inflação voltou, que
ultrapassou a meta e outros catastrofismos? Suponho que seja pelo princípio do
“o que é ruim a gente mostra; o que é bom a gente esconde; se não houver ruim a
gente inventa”.
Num tempo em que se
condenam as fake news, isso é um risco sério para quem depende de credibilidade
para ter leitores e audiência. Mas é a síndrome do escorpião: afunda junto com
o sapo que ferrou, mas é da sua natureza. Tentar apagar o otimismo renascente é
ato de masoquismo, porque se não houver a força da economia, todos faturam
menos, pagam menos e quebram mais.
No mês de dezembro, a
inflação de 1,15%, a maior de um mês para o ano, é um termômetro do aquecimento
que entra 2020, com meta de inflação fixada em 5,5% no máximo e 2,5% no mínimo,
com centro em 4% a.a.
Em meus anos de repórter
de Economia, lembro-me bem dos efeitos de uma inflação de 84% ao mês e 5.000%
ao ano. Hoje, menos de 5% a.a. é uma demonstração do que o Brasil pode fazer.
Também poderemos crescer como na década dos anos 70, na média anual de 8,78% ao
ano – um crescimento chinês, de novo na base do otimismo e do entusiasmo.
É cheia de consequência
políticas e eleitorais a advertência do assessor de Bill Clinton, na campanha
vitoriosa de 1992: “É a economia, estúpido”. Quando a economia vai bem, a
população vai bem, o país vai bem e o governo recebe os méritos. Identificado
esse fator, os opositores precisam reduzir seus efeitos, mesmo com o sacrifício
do país, procurando reduzir o otimismo, fazendo o barulho que fizeram.
Shakespeare, há quase 500
anos, escreveu “Muito Barulho por Nada”. Foi a mais divertida comédia do Bardo.
Quando gente, como o escorpião, quer afundar nesta travessia o barco em que
todos estamos, fica parecendo mais uma comédia.
Alexandre Garcia