O vira-latas
Por Alexandre Garcia
O tempo passa e nós não
aprendemos. Continuamos subservientes, orelhas encolhidas, rabinho entre as
pernas, com complexo de vira-lata, sobre tudo que o estrangeiro inventa contra
nós. Pior é quando tem aqui dentro a cumplicidade que aplaude e infla a conspiração,
fingindo que não sabe que tudo se trata de business.
Não servem os exemplos de
Pedro Teixeira, que subiu o Amazonas, empurrando para os Andes os que não
falavam a língua lusitana; de Floriano, que ameaçou receber os metidos da
esquadra inglesa à bala; de quando peitamos os franceses, que vinham buscar
lagosta no nosso mar territorial. Hoje eles têm um trigal contínuo, entre o
Sena e o Loire, e ninguém sugere que antes de falar de Amazônia, reflorestem
20% de cada lavoura, como aqui se faz.
No dia do agricultor,
celebrado nesta terça-feira (28), assistimos o país silente, ouvindo ameaças de
estrangeiros que, sabemos, é tudo questão de money, argent, Geld. Querem
atingir o nosso negócio mais próspero, mais atualizado; o nosso futuro de
fornecedor de alimentos para o mundo. Querem pôr esses tupiniquins de Pindorama
no seu devido lugar, de colônia fornecedora.
Nossa soja e nossa carne
crescem em produtividade e, claro, em competitividade - onde já se viu querer
superar os grandes, os adiantados, que têm dinheiro para aplicar aqui?
Os chineses agora alegam
que nossa carne pode levar o corona de volta; nem se preocupam que possamos rir
da ironia de que o vírus saiu de um mercado de animais em Wuhan? E nós nos
encolhemos, mesmo ante a evidência de que eles têm 1 bilhão e 330 milhões de
bocas para alimentar, e precisam de proteína. E vêm banqueiros brasileiros -
brasileiros, gente! - pressionar produtores de carne que já reservam 80% de
suas propriedades como proteção ambiental na Amazônia.
O Brasil é o continente
que é por causa do Pedro Teixeira, Fernão Dias, Juscelino - e de milhões de
brasileiros que semearam suor na vastidão e colhem a comida que vai para as
mesas do Brasil e de boa parte do mundo.
Antes de Cabral chegar,
tínhamos menos de dez por cento das florestas do mundo; hoje temos quase trinta
por cento, porque o mundo destruiu suas matas e agora, como sempre, continua de
olho nas nossas riquezas.
Até se compreende essa
estratégia de negócios. Mas não se pode compreender a cumplicidade de brasileiros
nisso.
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