O poder da terra
Por Alexandre Garcia
Nesses tensos tempos
pergunta-se às bolas de cristal como e quando vamos nos recuperar desse caos, a
não ser que se repita, em território brasileiro, o milagre da ressurreição em
Jerusalém, quase dois mil anos depois. Paulo Guedes certamente gostaria de
acertar a previsão de que virá do investimento privado.
Investidores teriam que
ter sobras, depois da pandemia, para apostar na compra de estatais, ou em
concessões. Acreditando no futuro, estão os investidores em renda variável, os
operadores de bolsa. Alguma coisa já cheiraram no ar, porque depois de despencar
de 120 mil pontos para 60 mil, o índice da B3, ex-Ibovespa, já está chegando de
novo aos 100 mil pontos. Penso que sentiram cheiro de terra e a recuperação
está em enterrar dinheiro - literalmente.
É da terra
que vai sair a recuperação do Brasil
Na recessão da Dilma, o
agro segurou o PIB e as contas externas; agora não apenas vai segurar, na beira
do abismo, como também vai indicar o novo rumo, a vocação do país que tem solo,
tem clima e tem tecnologia para ser um grande produtor mundial de
alimentos. E não é apenas o que vai para a nossa mesa; com a nossa terra, já
podemos alimentar uma boa parte da população do planeta. Além disso,
agropecuária brasileira gera uma cadeia econômica que vai muito além de suas
porteiras.
Imaginemos a indústria de
veículos de carga, máquinas agrícolas, implementos, adubos, fertilizantes,
combustíveis; a construção de silos e armazéns, além do processamento de
alimentos, algodão, celulose, fibras - uma gama sem fim de produtos de origem
vegetal e animal.
Sem falar na demanda de
mais capacidade de infraestrutura de transporte e escoamento: rodovias, pontes,
ferrovias, portos, navios, trens, mais aviões na exportação de frutas.
Estimula-se a indústria e também os serviços, setores que tanto têm sofrido com
a quarentena: comércio exterior, atacado e varejo. E os benefícios ao
consumidor, com preço mais barato do alimento, com reflexo na economia
doméstica e nos restaurantes.
A pesquisa, a tecnologia,
a biotecnologia, a ciência - mais vagas para técnicos e cientistas voltados à
produtividade, às variedades, à genética vegetal e animal. A valorização das
profissões no campo cada vez mais informatizado, os agrônomos, veterinários,
operadores de máquinas… um mundo novo brota no solo do Brasil. Basta que o
governo não atrapalhe, proteja o direito de propriedade e que o agro e seus
representantes políticos, no Congresso, nas assembleias e câmaras, estejam à
altura do poder e da oportunidade que estão recebendo nesta pandemia.
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