Senadores torram dinheiro em autopromoção,
viagens,
restaurantes, correios. E você paga
Por Lúcio Vaz
Quem analisa a página de transparência do Senado Federal
pode imaginar que os senadores têm poucos gastos com divulgação do mandato.
Foram R$ 2 milhões em 2019 – o equivalente à metade da despesa com escritórios
(R$ 3,8 milhões) e muito menos do que gastam com passagens aéreas (R$ 7 milhões).
Na verdade, a maior parte das despesas com divulgação (R$ 4,1 milhões) está
camuflada no item “Serviços de apoio ao parlamentar”. No total, são R$ 6,2
milhões torrados em autopromoção.
A gastança com a cota para o exercício da atividade
parlamentar – o “cotão” – somou R$ 23,3 milhões no ano passado. Fora da
cota, os senadores ainda gastaram mais R$ 1,9 milhão com viagens
internacionais, a mesma quantia com correios e R$ 400 mil com material de
consumo. Ao todo foram R$ 27,5 milhões – tudo bancado pelo contribuinte. Três
senadores provaram que é possível exercer o mandato sem as verbas do “cotão”.
Passaram o ano inteiro sem gastar um único centavo com essas mordomias.
Não estão computados no levantamento as despesas com
salários de assessores dos gabinetes – algo que tem uma “transparência” turva
no Senado. Para apurar esses valores, é preciso abrir individualmente os dados
de 2.867 assessores, depois de passar pelo “captcha” – aquelas letrinhas tortas
que diferenciam um ser humano de um computador. Levantamento feito pelo blog no
final de 2017 mostrou que os assessores, incluindo gabinetes, lideranças
partidárias, comissões e cargos da Mesa Diretora custam meio bilhão de reais
por ano.
Em 2019, o maior cabide de empregos foi promovido por
Izalci Lucas (PSDB-DF). Em maio, ele já tinha 78 assessores, ao custo mensal de
R$ 527 mil. Entrevistado pelo blog, admitiu que não estava satisfeito: “Se
tiver oportunidade, vou ter 100”. Está a caminho de cumprir a meta. Encerrou o
ano com 86 assessores, com despesa mensal de R$ 648 mil. Se apenas mantiver
essa média, gastará R$ 8,5 milhões em um ano. Cinco dos seus assessores são
servidores de carreira, com salário médio de R$ 34,6 mil.
Campeões de gastos com dinheiro do contribuinte
O campeão de gastos é o líder do PT, Humberto Rocha (PE),
que desembolsou R$ 656 mil em um ano. Sua maior despesa é com “locomoção” –
torrou R$ 151 mil. São deslocamentos pelas bases eleitorais, o que exige
aluguel de carros, combustível, hospedagem, e alimentação para ele e seus
assessores. A segunda maior despesa é curiosa: R$ 135 mil com serviços postais.
O gabinete explicou o motivo: o senador mandou imprimir
um Vade Mecum, que reúne 11 das mais importantes leis do país, entre elas a
Constituição, o Código Civil e o Código Penal. O compêndio possui um total de
839 páginas, em razão de que é muito pesado. Assim, o envio pelos correios
custa mais caro.
A maior despesa com divulgação foi feita pelo líder do
MDB, Eduardo Braga (AM). Foram R$ 374 mil – R$ 73% da sua cota – declarados na
categoria “Serviços de apoio ao parlamentar”. As empresas contratadas, a um
custo mensal de R$ 32,5 mil, prestaram consultoria para produção de conteúdo
multimídia (áudio, foto, vídeo, animação) e monitoramento de mídias online
(sites, blogs, redes sociais), além de assessoria e serviços de apoio ao
mandato. Ele ficou em terceiro lugar no ranking do total de gastos, com R$ 582
mil.
Omar Aziz (PSD-AM) gastou R$ 325 mil com a empresa de
Jefferson Coronel para divulgar o seu mandato. A empresa faz consultoria em
comunicação e marketing, com monitoramento, pesquisa de conteúdo, redação
postagens e design para o meio digital, redes sociais, assessoria de imprensa,
estrutura de produção, redação e edição de vídeos.
Aviões, escritórios e restaurantes sofisticados que você
paga
Ciro Nogueira (PP-PI), conhecido por gastos excessivos
com viagens internacionais, aluguel de jatinhos e restaurantes de luxo, gastou
R$ 277 mil em “locomoção”. Em 2019, ele alugou apenas um avião, em agosto, por
R$ 14 mil, para acompanhar uma visita do presidente Jair Bolsonaro a Parnaíba
(PI), onde inaugurou uma escola com padrão militar. Ainda assim, Nogueira gastou
R$ 101 mil com combustível para aviação.
O senador abandonou as viagens internacionais, mas
continua fazendo refeições caras. Em março, gastou R$ 1.013 no restaurante
Kawa, em Brasília. A refeição custou 15 reais a mais do que o salário mínimo.
Em junho, bancou cinco rodízios na SB Churrascaria, ao custo de R$ 646. Em
agosto, custeou um banquete no Favorito Grill, em Teresina, no valor de R$ 402.
Os convidados comeram um bife de tira, uma picanha na brasa, filé e dois
galetos. Em setembro, pagou a conta de um almoço para 16 pessoas em Parnaíba.
Tudo por conta do contribuinte.
O deputado Roberto Rocha (PSDB-MA) gastou R$ 182 mil –
45% da sua cota – com os escritórios de apoio em São Luís e Imperatriz. Além do
aluguel na capital, o Senado pagou despesas com segurança e vigilância nas duas
cidades e contas de água, luz e internet. As contas de luz ficaram em média R$
2 mil por mês.
O ex-craque Romário (Podemos-RJ) investiu dois terços da
sua cota, ou R$ 252 mil, em passagens aéreas. Segundo afirmou o seu gabinete,
muitos dos voos são necessários porque assessores que trabalham com emendas
parlamentares moram no Rio de Janeiro. Eles recebem e visitam prefeitos do
estado, mas também precisam se deslocar a Brasília para reuniões em
ministérios, onde liberam verbas federais para os aliados do senador. Em
Brasília, os ministérios ficam a um quilômetro de distância.
Gastos em viagens pelo mundo
O “novo” Senado mais que dobrou os gastos com viagens
internacionais em 2019. A despesa ficou em R$ 1,9 milhão. Os maiores gastos
foram feitos pelo senador Jaques Wagner (PT-BA), que gastou R$ 157 mil – R$ 61
mil com diárias e R$ 96,5 mil com passagens. A viagem mais cara foi para a
China, sendo R$ 38 mil apenas com a passagem em classe executiva. Ele integrou
uma missão oficial do Governo da Bahia.
Antônio Anastasia (PSDB-MG) gastou R$ 147 mil com viagens
internacionais, sendo R$ 94 mil com passagens. Em abril, esteve em Doha, no
Catar, para participar de Assembleia da União Interparlamentar e de sessão do
Grupo de Parlamentares da América Latina e do Caribe. Em outubro, participou de
nova reunião do Grupo de Parlamentares da América Latina, dessa vez em
Belgrado, na Sérvia. Seria mais econômico realizar essas reuniões na América.
Os econômicos, mas nem tanto
O senador Reguffe (Podemos-DF) inaugurou no Congresso a
prática de não utilizar a cota para o exercício do mandato. Ele já fazia isso
quando era deputado federal, e continuou fazendo no Senado. Mais do que isso,
ele abriu mão do plano de saúde, da aposentadoria especial de parlamentar, do
carro oficial, de viagens internacionais, de diárias, e gastos com correios. A
única despesa que fez em 2019 foi com material de consumo, como água, papel,
caneta, lápis, material de limpeza – num total de R$ 500. Em um ano, comprou
apenas 1 quilo de café e 1 quilo de açúcar.
Leila Barros (PSB-DF), a Leila do Vôlei, também não usou
o “cotão”, mas gastou R$ 3,5 mil com serviços postais e R$ 4,1 mil com material
de consumo. Ela também conta com carro oficial e usa combustível do Senado.
Jorge Kajuru (Cidadania-GO) é outro que “zerou” a cota para o exercício do
mandato e abriu mão do carro oficial, mas gastou R$ 2 mil com material de
consumo.
Eduardo Girão (Podemos-CE) ingressou no grupo dos
senadores econômicos nos primeiros meses de 2019, mas acabou gastando R$ 6 mil
com divulgação e R$ 14,5 mil com passagens aéreas. Fora da cota, utilizou R$ 5
mil em material de consumo e R$ 13,8 mil com correios. As duas despesas
totalizaram R$ 39,4 mil.
Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) também fez gastos
moderados, um total de R$ 83 mil. As maiores despesas foram com aluguel de
escritório e taxa de condomínio (R$ 51 mil), e passagens aéreas (R$ 23,3 mil).
Vanderlan Cardoso (PP-GO) também prometeu usar
minimamente o “cotão”, mas não resistiu aos encantos das mordomias do Senado. A
conta fechou em R$ 123 mil, sendo R$ 49 mil em passagens, R$ 49 mil em
escritórios, R$ 32 mil em locomoção e R$ 31 mil em divulgação.
Fonte: Gazeta do Povo - 24.01.2020
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