A nobreza fake
A reação exasperada do
presidente Jair Bolsonaro, em vídeo, à notícia que o envolvia na investigação
do assassinato de Marielle provocou outras reações exasperadas. Ainda antes da
declaração do Ministério Público do Rio de que o porteiro havia mentido, vozes
civilizadas clamaram por compostura no exercício da presidência da República.
De fato, compostura é sempre bom.
Então vejamos como ela vai
(a compostura). A melhor forma de aferir isso é observar os personagens que
representam indiscutivelmente a civilidade, a educação e as boas maneiras –
enfim, a compostura. Destacamos a seguir alguns dos expoentes do comportamento
impecável e suas ações mais recentes:
Emmanuel
Macron
Presidente da França,
um dos principais centros da
civilização ocidental, Macron atraiu para si as atenções internacionais nos
últimos meses espalhando fake news sobre a Amazônia, incluindo premissas
cientificamente absurdas e fotografias com datas falsas. Ele queria tentar
isolar o Brasil diplomaticamente – com todas as consequências graves para o
povo brasileiro – para fingir que estava combatendo o nazifascismo. Emanuel
Macron é um hipócrita que não perde a linha.
Fernando
Henrique Cardoso
Sociólogo, ex-presidente
da República, nunca foi visto dizendo um palavrão em público. Sua ação mais
notada nos últimos tempos foi um apelo na TV para que Sergio Moro, principal
símbolo do combate à corrupção no Brasil, renunciasse ao cargo de ministro da
Justiça – no qual vem anunciando a queda de absolutamente todos os índices de
criminalidade. Fernando Henrique quis com isso alimentar uma das muitas crises
artificiais criadas diuturnamente no Brasil contra Moro e Paulo Guedes para
tentar desestabilizar o governo ao qual faz oposição sistemática, predisposta,
conspiratória e burra – tentando inclusive fingir que o contingenciamento de
verbas para educação significava um garrote obscurantista. É a compostura que
passarinho não bebe.
João Dória
Empresário educado e
articulado, atual governador de São Paulo, de estampa bem cuidada sem nenhum
fio de cabelo desgarrado da maioria, tem se destacado por seus movimentos
arrojados para conciliar Alexandre Frota e Fernando Henrique Cardoso em nome da
resistência democrática e civilizatória. Eleito na chamada onda “bolsodória”, o
governador passou a atacar o presidente no dia seguinte – valendo defender as
girafas da Amazônia contra o incêndio fascista e fazer coro com a politicagem
petista da OAB contra Sergio Moro. Está chocado com as maneiras rudes do
presidente e levou Alexandre Frota para o PSDB como esperança de civilidade e
gentileza.
Armínio Fraga
Economista brilhante,
ex-presidente do Banco Central, ajudou a salvar o Plano Real de uma de suas
piores crises. Homem altamente polido e atencioso, de sólida bagagem
intelectual, tem usado suas credenciais para tentar sabotar o governo federal –
insistindo em afirmar à imprensa nacional e estrangeira que o Brasil está
vivendo um “retrocesso democrático”. A fundamentação da tese envolve uma
mistura alegre e descontraída dos bordões supracitados – incluindo as fake news
amazônicas e educacionais que arrebentaram nas paradas da resistência
cenográfica em 2019. Armínio Fraga só desarma sua simpatia e urbanidade para
fazer cara de nojo para a agenda reformista que ele sempre defendeu – mas que
agora não serve mais. Com todo esse rigor e compostura, em 1999 ele teria
deixado o Brasil valendo 1,99.
Faça você mesmo os
verbetes dos demais lordes e ladies da nobreza nacional – esses que têm usado
sem parcimônia sua sofisticação para tentar sabotar a reconstrução do país em
nome da mais ordinária politicagem.
A moral da história – e
bota moral nisso – é a seguinte: o homem comum votou exatamente contra essa
afetação virtuosa que lhe passou a mão no traseiro (aguenta firme e sobe o som
do churrasco) em nome da democracia – a democracia particular dos humanistas de
butique. Assim que a compostura deixar de ser contrabando de cinismo, os modos
no salão melhoram imediatamente. Façam essa experiência, senhoras e senhores,
não vai doer nada.
Guilherme Fiúza