Fim de ano com mais
empregos
Quando o Produto Interno
Bruto (PIB) segue uma trajetória de quedas contínuas – como foi o caso da
recessão econômica brasileira em 2015 e 2016 –, a última variável a piorar e
sofrer efeitos negativos é o nível de emprego. Ou seja, o desemprego é sempre um
dos últimos males a se agravar. Essa realidade levou a ex-presidente Dilma
Rousseff a afirmar em várias declarações que, apesar da recessão, seu governo
vinha conseguindo preservar o nível de emprego. Como se viu, era uma declaração
inverídica, dita por ignorância ou demagogia política, ou uma mistura de ambas.
A lógica do fenômeno se repete também no sentido inverso: quando o PIB começa a
se recuperar e a recessão vai sendo deixada para trás, o nível de emprego é uma
das últimas variáveis a serem beneficiadas, e as taxas de desemprego demoram a
cair.
No momento em que o
crescimento é retomado, em geral ocorre alguma reestruturação dos processos
produtivos, especialmente no setor industrial, com a consequência de não haver
recuperação de todos os empregos perdidos na recessão. Ainda que a modernização
e a inovação sejam necessárias, após as recessões a retomada vem acompanhada de
mais automação e incorporação de novas tecnologias que exigem menor número de
trabalhadores. Se esse processo finalizador do ciclo recessivo leva ao aumento
da produtividade (produto por hora de trabalho) e persiste por anos seguidos, o
número de pessoas empregadas aumenta, o padrão médio de bem-estar social
melhora, e em algum momento o desemprego retorna às taxas tidas como normais.
Entre os dados de
estatística econômica mais difíceis de obter com precisão, está o nível de
emprego. Uma das razões é que parte do total de empregos está na economia
informal, na qual a coleta de dados é dificultada justamente por ser emprego
sem registro oficial. Entretanto, há uma correlação entre o emprego formal, com
carteira assinada, e o emprego informal, o que permite identificar
correspondência de desempenho entre ambos. Isto é, se a economia cresce e o
emprego formal aumenta de forma consistente, o emprego informal vai na mesma
direção, não necessariamente na mesma proporção. Os dados sobre o emprego
formal coletados em novembro último surpreenderam até os mais otimistas, ao
identificar a criação de 99,2 mil vagas no mês, com carteira assinada, muito
acima do esperado, que era de no máximo 50 mil vagas.
Os analistas já anunciaram
que estão reformulando suas estatísticas sobre o total de empregos criados em
2019 e, também, alterando para cima a estimativa de empregos para 2020. Há quem
preveja um aumento de até 1 milhão de empregos no próximo ano, sobretudo por já
terem saído estimativas de que o PIB pode crescer até 2,5% no último ano da
década. Se isso ocorrer, o Brasil terá dado um salto importante na direção de
superar o brutal desemprego acima de 12,5% da população economicamente ativa,
que resultou dos anos de recessão, e ampliar significativamente o emprego
formal com registro em carteira.
A taxa de desemprego
considerada normal varia entre 4% e 6% de toda a população em condições de trabalhar
que, segundo o IBGE, já é de 106,1 milhões de pessoas, ou seja, pouco mais da
metade dos 210,1 milhões de habitantes do país, conforme revisão feita pelo
IBGE em 30 de junho passado. A população brasileira continua crescendo e esse
fator, ao lado do elevado desemprego verificado nos últimos anos, requer que o
país tenha crescimento robusto por alguns anos a fim de reduzir, quem sabe, até
a metade da terceira década deste século 21, o desemprego para não mais que 5%.
O ano de 2019 apresentou aumento do nível de emprego de forma sucessiva, que
abrangeu vários setores e se distribuiu bem entre as cinco regiões do país.
O Brasil é um país ainda
muito pobre, com elevada precariedade na composição de seu capital físico
(infraestrutura física, infraestrutura empresarial e infraestrutura social),
renda por habitante em torno de 20% da renda dos Estados Unidos, ou 25% da
renda de países como Alemanha, Inglaterra e Canadá, e eivado de carências
sociais. Ainda há enorme distância entre o nível de desenvolvimento brasileiro
na comparação com os países citados, o que é um grande problema, mas também um
gigantesco leque de oportunidades. O Brasil ainda está por percorrer um caminho
que já foi percorrido pelos 35 países mais adiantados do mundo e, se conseguir
achar o rumo certo e nele persistir, em duas décadas poderá dobrar a renda por
habitante e, quem sabe, chegar a 25 mil dólares de PIB per capita.
Gazeta do Povo - 26.12.2019
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