Lava Jato 2.0
O Supremo Tribunal
Federal embarcou num truque dos advogados da bandidagem e atentou contra o
próprio Poder Judiciário. Usar uma premissa sobre o cronograma dos processos –
não amparada em lei – para tornar sem efeito condenações já sentenciadas é muito
grave. O STF é uma vergonha maior do que você supunha.
E agora? Agora, nada. Tudo
igual. Esse truque específico ainda não tinha sido tentado pelos supremos
companheiros, mas várias outras cascas de banana e malandragens do direito
tarja preta, já tinham sido lançadas contra a operação Lava Jato. Inquéritos
sobre a Odebrecht já foram fatiados pelo STF, por exemplo, para que saíssem das
mãos do então juiz Sergio Moro na eterna tentativa de aliviar Lula. Não
adiantou nada.
Algumas investigações
acabam sendo prejudicadas ou retardadas com essas rasteiras, puxões de cabelo e
dedo no olho praticados por suas excelências togadas. Mas a Lava Jato é a Lava
Jato – e não qualquer das outras forças-tarefa que não chegaram aos seus pés –
porque seu padrão de investigação é impecável. A forma como Sergio Moro
sentenciou Lula é uma aula de estratégia. Foi um longo cerco, porque uma alma
honesta como a do ex-presidente conta com inúmeras coreografias acima da lei,
montadas por seus advogados milionários e executadas com a ajuda de muita
coação e pressão política.
Se a Lava
Jato não morreu na praia com Lula, não morre mais.
O STF confirmando em
definitivo a decisão surrealista do caso Bendine – mandando os processos
retrocederem para a defesa poder ler as alegações dos outros réus antes de
apresentar as suas – uma série de punições serão prejudicadas. Por outro lado,
a força-tarefa tem uma infinidade de frentes de investigação abertas e várias
delas, a todo momento, chegam a termo para novas condenações – desses mesmos
réus e de outros comparsas que ainda não tinham entrado no radar da operação. O
STF é uma vergonha, mas não tem o poder mágico de apagar crimes (embora
desejasse ter).
Se o processo do sítio de
Atibaia voltar à primeira instância, por exemplo (um escândalo), Lula ficará
sem a pena recebida em sua segunda condenação – 12 anos e 11 meses a menos. Um
retrocesso em termos de justiça, sem dúvida. Mas ele é réu em outros oito
processos, com alguns chegando a termo – como o que envolve corrupção em Angola
via BNDES – e aí está o que importa: a elucidação do assalto ao Estado
brasileiro e a punição dos criminosos prosseguirá. Não apenas desmascarando
esse populismo cleptocrático travestido de progressismo, como vacinando as
instituições contra o sequestro político.
Com um detalhe importante:
Lula vai ganhar tempo no caso de Atibaia, mas vai ser condenado de novo – pelo
simples fato de que é ladrão e isso está solidamente demonstrado no processo.
Passará a poder ler as delações dos outros réus antes de apresentar suas alegações
finais? Divirta-se, vai pegar cana do mesmo jeito. E aí não vai mais adiantar
pedir para voltar o filme.
Atibaia e o Triplex do
Guarujá são duas provas visíveis da corrupção de Lula associado a um cartel de
grandes empreiteiros para roubar o Brasil, mas há várias outras – e os agentes
da Lava Jato têm uma multidão de dados sobre a ação da quadrilha e suas
ramificações. A delação-chave de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, por
exemplo, traz uma massa colossal de informações que vão gerar novas linhas de
investigação e de acusação. Essa devassa não tem volta.
O povo continuará indo às
ruas contra a picaretagem do STF – o que até aqui dissuadiu o circense tribunal
de soltar Lula na mão grande – e os integrantes da Lava Jato ganham uma
motivação adicional. Uma alta corte agindo em conluio com advogados nadando em
dinheiro roubado é uma razão de viver para qualquer verdadeiro homem da lei.
Que esse escárnio seja transformado em oportunidade para fortalecer as
investigações onde elas foram constrangidas – como no plano de fuga de Cerveró,
que envolve gente graúda do assalto ao pré-sal e não teve as devidas punições.
A Lava Jato já mostrou ao
Brasil – e vai mostrar de novo – que o Padrão Moro veio para ficar.
Guilherme Fiuza
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