O ataque às finanças do
PCC
Em apenas uma semana, duas
grandes operações da Polícia Federal e da Força Integrada de Combate ao Crime
Organizado (Ficco, que inclui a PF e outros órgãos de segurança) atingiram o
bolso do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das principais organizações
criminosas do país, atuando dentro e fora das prisões brasileiras. Na
terça-feira, dia 6, a Justiça do Paraná autorizou a Operação Cravada, com 55
mandados de busca e 30 de prisão em sete estados, além do bloqueio de 400 contas
bancárias suspeitas; na sexta-feira, dia 9, foi a vez da Operação Caixa Forte,
autorizada pela Justiça mineira, abrangendo cinco estados e cumprindo 52
mandados de prisão preventiva, 48 de busca e apreensão e 45 de sequestro de
valores e bloqueio de contas bancárias.
As duas operações buscam
desarticular o núcleo financeiro do PCC, responsável por lavar dinheiro do
tráfico de drogas e financiar a compra de armamento para os membros da facção
criminosa. As investigações, em curso desde 2018, mostram o grau de organização
dos bandidos, com seções estruturadas dignas de grandes organizações: a Geral
do Progresso, por exemplo, cuidava da lavagem de dinheiro, enquanto o Resumo
Integrado do Progresso dos Estados e Países fazia toda a contabilidade, com
direito a recebimento de comprovantes.
Os órgãos de segurança
poderiam estar fazendo
muito mais se o Congresso não estivesse
segurando o
pacote anticrime do ministro Sergio Moro
As centenas de contas
bancárias utilizadas pela facção, muitas delas em nome de pessoas que
aparentemente não tinham vínculo algum com os criminosos, eram necessárias para
que as movimentações não fossem tão frequentes e envolvessem valores grandes o
suficiente para chamar a atenção do Coaf, o órgão do governo que monitora
atividades financeiras suspeitas. Nas contas investigadas pela Operação
Cravada, circulava cerca de R$ 1 milhão por mês; nas investigações da Caixa
Forte, a movimentação encontrada desde novembro de 2018 superou os R$ 7
milhões.
A inteligência para
desarticular as fontes de financiamento das facções criminosas é uma das
principais ferramentas do ministro Sergio Moro para cumprir uma de suas missões
à frente do Ministério da Justiça: o combate ao crime organizado. Não à toa os
bandidos estão impacientes com o ministro, como revelam interceptações
telefônicas feitas durante a Operação Cravada e obtidos pelo jornal O Estado de
S.Paulo. Moro “veio para atrasar” e “já começou o mandato mexendo (...)
diretamente com a cúpula” do PCC, afirmam os bandidos grampeados – em fevereiro,
22 chefões do grupo, incluindo o líder máximo Marcola, haviam sido transferidos
da prisão paulista onde cumpriam pena, sendo espalhados em vários presídios
federais para impedir sua comunicação.
Apesar do incômodo dos
chefes do PCC, talvez o estrago feito pelas duas operações desta semana nas
finanças do grupo não seja tão grande – em junho de 2018, o faturamento da
facção era estimado em R$ 400 milhões por ano. Mas os órgãos de segurança estão
no caminho certo, e poderiam fazer muito mais se o Congresso não estivesse
segurando o pacote anticrime enviado por Moro ao Legislativo no início de
fevereiro, e que contém vários dispositivos que facilitariam o combate ao crime
organizado, incluindo o estrangulamento financeiro das facções.
Compreende-se que a
prioridade do governo esteja nas reformas macroeconômicas – e o próprio
presidente Jair Bolsonaro pediu “paciência” a Moro recentemente, argumentando
que a rejeição de alguns parlamentares a trechos do pacote (rejeição esta que
tem motivos amplamente conhecidos, dados os problemas de muitos deputados e
senadores com a polícia e a Justiça) poderia transbordar para outras propostas
do governo, incluindo a reforma da Previdência, e que não se pode “pressionar
isso aí e atrapalhar, tumultuar lá”. Mas não há motivo válido para o pacote de
Moro ainda estar sendo analisado a passo de tartaruga por um grupo de trabalho,
uma fase prévia à formação de comissões. Não é uma questão de prioridade e
protagonismo – e nem parece ser a intenção de Moro que sua proposta passe à
frente das reformas macroeconômicas –, mas de entender que o pacote é
importante para ajudar a resolver uma das grandes mazelas do país.
Gazeta do Povo –
10.08.2019
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