Teste de estádio e produto
do
crime para bancar advogado
O Brasil virou campeão da
Copa América, no Maracanã, em mais um teste de estádio do presidente Jair
Bolsonaro. Começou pelo Mané Garrincha, em Brasília, foi para o Morumbi, em São
Paulo, e agora foi para o Maracanã, no Rio de Janeiro.
Nelson Rodrigues dizia que
Maracanã vaia até minuto de silêncio. E, no entanto, antes de Bolsonaro só
havia um presidente que recebia aplausos no Maracanã: o presidente Médici
(1969-1974). Passou pelo teste, levou sete ministros, principalmente Sergio
Moro e Paulo Guedes, que também passaram pelo mesmo teste do estádio.
Na verdade, essa viagem e
o Maracanã foi uma espécie de longa conversa como se fosse uma reunião de
trabalho preparando a semana da reforma da Previdência. Aquilo que ficou para
trás, por exemplo, os policiais federais e uma discussão a respeito disso.
Tanto o governo quanto o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia, acham que já há 330 votos em plenário a
favor da reforma. Faltam apenas dez dias para começar as férias parlamentares e
Maia acredita que pode votar em dois turnos, ou seja, resolver na Câmara a
reforma da Previdência, que é uma proposta de mudança na Constituição. Depois
vai para o Senado.
Se o Senado alterar, vai
ter de voltar para a Câmara - e isso retarda um pouco mais o processo, caso
aconteça. Por isso, estão querendo levar uma coisa mais ou menos pronta para o
Senado para que não haja essa ida e volta.
Produto do crime para
bancar advogado
Também na Câmara começou a
tramitar um projeto de lei da deputada Bia Kicis (PSL-DF) considerando crime de
receptação o advogado que receber produto do crime como pagamento de
honorários. Da mesma forma, um juiz não pode aceitar como fiança produto do
crime.
Equivale ao seguinte:
rouba seu automóvel e vende o carro. O ladrão é preso e, com o produto da venda
do seu carro, paga a fiança para não ficar preso. Ou o advogado que o defende
recebe o produto da venda do seu carro que lhe foi furtado. Acho que a deputada
tem toda a razão. É um assunto que está tendo discussão.
Eu já ouvi discussões
entre amigos sobre isso. Um é advogado e outro é corretor de imóveis. O
advogado dizendo que não tem que dar satisfação pela origem do dinheiro que seu
cliente lhe paga. E o meu amigo defendendo: “Olha, se eu vender um imóvel e a
Lava Jato descobrir que ele foi pago com produto da corrupção, eu vou perder o
imóvel, que vai a leilão”.
Isso é o certo: não se
pode usar o produto do roubo em vantagens. Senão o próprio criminoso vai usar o
produto do roubo para ser defendido e pedir a liberdade.
Outro tema de hoje...
Descobriram que oito
aviões da Funai estão parados, praticamente abandonados em hangares em Itaituba
(Pará), em Brasília, em Goiânia e no Rio de Janeiro. Todos pagando, desde 2012,
R$ 3 milhões em alugueis. Aviões que fazem falta em aldeias indígenas para resgatar,
por exemplo, uma criança, uma mulher, um índio ou um idoso que precisem de
assistência médica e precisem ser hospitalizados.
Aliás, há uma mania no
Brasil de deixar o índio isolado. Enquanto os índios querem, sim, eletricidade,
internet, benefícios da sociedade. Não querem ficar lá abandonados. Perguntem a
eles.
Alexandre Garcia
Gazeta do Povo
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