Nota de risco de Angola
foi rebaixada
para garantir propina ao PT
O ex-ministro Antonio Palocci afirmou na CPI do BNDES na terça,
2, que a nota de risco de Angola foi rebaixada para permitir que o BNDES
aumentasse o volume de empréstimos que atendeu a obras da Odebrecht no país
africano.
Aos deputados, Palocci
afirmou que tratava assuntos relativos ao banco diretamente com o
ex-presidente da instituição Luciano Coutinho. O
depoimento à comissão foi feito a portas fechadas e envelopadas para
evitar que o ex-ministro fosse filmado e fotografado. Assessores e imprensa não
tiveram acesso. As declarações foram confirmadas com dois deputados
presentes.
É a primeira vez que
Palocci fala na comissão instalada para investigar o uso do banco de
fomento para alimentar o esquema de corrupção durante os governos do PT. O
ex-ministro esteve à frente da Fazenda, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e da
Casa Civil, no governo da presidente cassada Dilma Rousseff.
Palocci falou por quase
cinco horas e concentrou toda a sua narrativa no caso envolvendo Angola. A
restrição foi acordada com membros da CPI por conta de acordos de colaboração
que o petista negocia com a Procuradoria-Geral da República (PGR). A
procuradora-geral, Raquel Dodge, apontou que o único anexo da delação
relacionado ao tema é o termo de depoimento 21, cujo título é "Negócios em
Angola".
Palocci, de acordo com
deputados, disse que a taxa de risco dos empréstimos para Angola foi
rebaixada por uma "decisão política" que partiu "da Presidência
da República" durante o governo Lula. Os parlamentares relataram que
a manobra, segundo Palocci, teria permitido que um conjunto de
empréstimos saltasse de R$ 600 milhões para R$ 1 bilhão. Os valores teriam
rendido mais de R$ 60 milhões ao PT.
Na semana passada, o Estado mostrou que
a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara criada para investigar
empréstimos do BNDES no exterior já reuniu, em três meses de funcionamento,
informações que apontam para falhas do banco no financiamento de obras na
Venezuela, em Cuba, em Algola e em outros países durante os governos do PT.
Documentos mostram que entre
os principais pontos levantados até agora estão ausência de critérios para
rebaixamento de risco antes de conceder o crédito e a falta de auditoria fora
do País para fiscalizar a aplicação do dinheiro.
O banco sempre negou ter
falhado ao conceder os empréstimos, parte de estratégia das gestões dos
ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff para incentivar a
internacionalização de empresas brasileiras. Adversários, porém, apontam
motivações políticas nas operações, que beneficiaram empreiteiras alvo da Lava
Jato.
Questionado sobre as
contas no exterior usadas pela JBS para propina, Palocci disse que não podia
responder já que o se tratava de um outro anexo de sua delação premiada,
relataram os deputados.
Nesta terça-feira, o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), autorizou o a extensão por 60 dias
dos trabalhos da comissão, que se encerrariam no dia 7 de agosto. Agora, a CPI
vai ser encerrada em outubro.
Fonte/Foto: Estadão
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