Militares ficam ao lado de
Bolsonaro
no embate com presidente da OAB
Diferentemente de outras
ocasiões em que declarações de Jair Bolsonaro, consideradas acima do tom,
preocuparam ou foram até vistas com restrições por oficiais militares, desta
vez, no embate com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe
Santa Cruz, a avaliação generalizada é de que o presidente agiu corretamente.
Militares acham que
Bolsonaro acertou ao questionar pública e veementemente a veracidade dos
documentos produzidos pela Comissão da Verdade, criada pela então presidente
Dilma Rousseff (PT), ainda que, para isso, tenha atingido duramente Felipe,
cujo pai, após ser preso em 1974 pelo governo militar, foi dado como
desaparecido.
A Comissão Nacional da
Verdade é, até hoje, tida pelos militares como “uma espinha atravessada na
garganta”. O colegiado, composto por sete membros nomeados por Dilma, tinha por
finalidade “investigar as graves violações de direitos humanos ocorridas entre
1946 e 1988, no Brasil ou no exterior por agentes públicos, pessoas a seu
serviço, com apoio ou no interesse do Estado brasileiro”. A comissão foi
instalada durante uma solenidade no Palácio do Planalto, em 16 de maio de 2012,
à qual compareceram todos os ex-presidentes da República.
“Ele [Bolsonaro] sabe em
quem está batendo e sabe o que está fazendo”, comentou um militar sob a
condição de anonimato. A comissão sempre foi considerada pelos militares como
“um revanchismo mal disfarçado” e o fato de ter sido criada e instalada por
Dilma – que sempre se apresentou como uma presa política – agravou, à época, o
sentimento de que o trabalho não era direcionado ao resgate da verdade, mas que
era “pautada na ideologia marxista e no desejo de criminalizar uma reação legal
contra as organizações terroristas que tentavam comunizar o país”.
Além disso, desavenças
entre o presidente Bolsonaro e Santa Cruz são antigas. Há pelo menos oito anos
que os dois entram em confrontos verbais. Desta vez, o motivo foi que, no
entender do presidente, a OAB dificultou e não teve interesse em que se
descobrisse quem seriam os mandantes do ataque feito por Adélio Bispo contra
ele, em Juiz de Fora (MG).
Bispo esfaqueou Bolsonaro
durante um ato público e o presidente, que quase morreu por causa dos
ferimentos, se emociona até hoje ao falar sobre o atentado. "A OAB não
quer que se chegue aos mandantes da tentativa de homicídio minha. Tanto é que
entraram com uma ação e o telefone dos advogados está lacrado. Porque se chegar
lá, com certeza vai se chegar aos mandantes. Não é muito estranho, quatro
advogados? Um chega de helicóptero em menos de 24 horas", disse o
presidente, apontando a entidade como uma das responsáveis pelo encerramento
das investigações, uma vez que a Polícia Federal concluiu que Adélio, que teria
problemas mentais, era inimputável e agiu sozinho.
No governo também há
outros motivos de contrariedade e preocupação com a OAB. A entidade, segundo
fontes, exagera no corporativismo e impede a revista de advogados que entram e
saem dos presídios. Muitos desses advogados atuariam como mensageiros de
organizações criminosas.
Embora essas questões
também sejam importantes no apoio dos militares ao novo confronto com Santa
Cruz, a questão da contestação ao relatório da Comissão da Verdade foi
decisiva. "Você acredita em Comissão da Verdade? Você acredita no PT”,
perguntou, nesta terça-feira (30), o presidente Jair Bolsonaro aos jornalistas,
negando que pretenda contestar oficialmente os documentos da comissão e
chamando o relatório de “balela”. Bolsonaro afirmou também que não existem
documentos que possam comprovar como se deu a morte do pai do presidente
da OAB.
Fonte: Gazeta do Povo
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