A recuperação da Petrobras
A semana passada não
poderia ter sido melhor para a Petrobras. Na quinta-feira, o presidente da
estatal, Roberto Castello Branco, esteve em Curitiba para a devolução de mais
R$ 424 milhões, oriundos de dois acordos de leniência e renúncias voluntárias.
Até agora, a força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná conseguiu recuperar,
seja de réus da operação, seja de empresas que firmaram acordos com as
autoridades, um total de R$ 3 bilhões – considerando as devoluções obtidas por
outras unidades do Ministério Público Federal, são R$ 4 bilhões. Dois dias
antes, a Petrobras havia vendido ações da BR Distribuidora, conseguindo outros
R$ 8,6 bilhões; a estatal, que antes tinha 70,3% de participação na empresa,
agora ficou com 37,5%.
Na quinta-feira, Castello
Branco não poupou elogios à Lava Jato. A operação, segundo ele, “salvou a
Petrobras de se transformar numa PDVSA. Hoje é uma companhia forte e saudável”
– a PDVSA é a companhia estatal de petróleo venezuelana, completamente arrasada
graças ao socialismo chavista, apesar de a Venezuela ter as maiores reservas de
petróleo do mundo. De fato, a Petrobras sob o petismo caminhava para um destino
trágico, e não apenas devido ao esquema de corrupção desenfreada instalado na
empresa para sugá-la com o objetivo de perpetuar o projeto de poder petista. A
empresa ainda sofreu com decisões de mercado desastrosas, como a compra da
refinaria de Pasadena e o acerto com os venezuelanos para a construção da
Refinaria Abreu e Lima; e com as interferências palacianas nas políticas de
preços de combustíveis, mantidos artificialmente baixos para impedir que a
inflação aumentasse ainda mais e destruísse as perspectivas eleitorais de Dilma
Rousseff em 2014.
A Petrobras sob o petismo
caminhava para
um destino trágico, e não apenas por causa da corrupção
Depois de uma depredação
tão ampla, o processo de recuperação não seria simples nem rápido. Começou logo
após a cassação de Dilma, quando Michel Temer colocou Pedro Parente à frente da
estatal. Parente imprimiu políticas de mercado à Petrobras, mas deixou a
empresa em junho do ano passado, após a interferência de Temer na definição dos
preços do óleo diesel para apaziguar os caminhoneiros em greve. Ivan Monteiro
conduziu a estatal até o fim de 2018, quando Castello Branco assumiu, indicado
por Jair Bolsonaro.
Os três presidentes da
Petrobras após a era petista se dispuseram a levar a cabo um ambicioso processo
de desinvestimento da estatal, que passará a ter foco apenas na exploração e na
produção de petróleo. A privatização da BR Distribuidora veio logo após a venda
da rede de gasodutos TAG, que rendeu outros R$ 8,5 bilhões à estatal, e será
seguida pelo leilão de oito refinarias, que deve levantar mais R$ 10 bilhões. O
programa de desinvestimentos só não transcorreu de forma mais célere porque, em
meados de 2018, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo
Lewandowski, provocado por sindicalistas e partidos políticos suspendeu
liminarmente a venda de subsidiárias da Eletrobras, forçando a Petrobras a
rever seus planos por temor de contestações semelhantes. Foram necessários
vários meses até o plenário da corte decidir que a venda de subsidiárias de
estatais não precisava passar pelo crivo do Poder Legislativo.
A gestão profissional, o
enxugamento da estrutura da empresa e o combate aos focos de corrupção são
condições essenciais para a Petrobras escapar do buraco negro em que foi
lançada pelo populismo e pela ladroagem petistas. À medida que a Lava Jato
continua recuperando dinheiro desviado da estatal, e com a continuação do
programa de desinvestimento da empresa, a Petrobras pode vislumbrar um futuro
melhor, com endividamento em níveis aceitáveis e maior competitividade.
Gazeta do Povo – 29.07.2019
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