quarta-feira, 15 de maio de 2019






A penúria venezuelana chega a Cuba
Racionamento de produtos, sanções e asfixia econômica refletem o impacto
da falência do regime Maduro na ilha - Foto:Reuters/Reprodução

A reboque da crise venezuelana, o racionamento de produtos está de volta a Cuba, fazendo reverberar pelas redes sociais a hashtag #lacolachallenge (o desafio da fila). São fotos que documentam a saga diária de cubanos em longas filas para conseguir arroz, feijão, frango, ovos e sabão, entre outros itens, que o governo decidiu limitar para cada consumidor.

A penúria agravada pelas sanções dos EUA ao regime da Venezuela provoca nos cubanos a ansiedade e o temor de reviverem o chamado “período especial”. Na década de 1990, após o colapso da URSS, o PIB da ilha caiu 35% em menos de cinco anos, deflagrando outras crises, como a fuga de cubanos em balsas e a repressão aos dissidentes.

Agora a falência do regime Nicolás Maduro também põe em risco a já depauperada economia de Cuba, que importa 60% de seus alimentos e enfrenta há quase seis décadas o embargo comercial americano.

Há um ano como presidente, Miguel Díaz-Canel, o sucessor escolhido por Raul Castro, tenta atenuar seus efeitos, fazendo crer que a falta de liquidez e o racionamento são transitórios. Mas a dependência do petróleo venezuelano e o colapso da PDVSA refletem o contrário.

“Esta é a maior crise dos últimos anos. E limitar o número de produtos para cada consumidor é o primeiro passo do governo para admitir que será longa”, avalia a jornalista cubana Miriam Leiva, autora do blog Reconciliación Cubana.

Ela cita o diálogo que ouviu recentemente entre duas mulheres na qual uma delas constatava o excesso de pessoas nas ruas: “É porque estão todos buscando comida”, esclareceu a outra, segundo Miriam.

O tempo gasto em extensas filas, uma cópia do cotidiano que os venezuelanos enfrentam diariamente, motivou o ativista cubano Norges Rodríguez a criar a hashtag que rapidamente viralizou.

No vértice do triângulo, os EUA exercem pressão sobre ambos os regimes. Na semana passada, o governo Trump estendeu as sanções contra duas companhias e dois navios petroleiros que faziam transporte de petróleo da Venezuela para Cuba. Repetiu, assim, uma medida semelhante, aplicada em abril a 35 cargueiros da PDVSA.

Para setores radicais dos EUA, inflamados por sua base eleitoral, os cortes no fluxo do petróleo entre os dois países caribenhos, contudo, ainda não surtiram o efeito desejado. Senador republicano pela Flórida, Rick Scott propõe um bloqueio naval entre os dois países caribenhos com o objetivo de pôr fim à era Maduro.

O impacto das sanções à Venezuela reflete diretamente na população cubana, avalia, o presidente do think tank Diálogo Interamericano, Michael Schifter.

Paralelamente, a pressão direta dos EUA sobre o regime em Cuba agrava ainda mais a situação – seja restringindo remessas enviadas por exilados ou permitindo, pela primeira vez, ações nos tribunais americanos contra empresas que usam propriedades confiscadas durante a Revolução Cubana.

“Os EUA estão punindo cubanos desde 1962 e isso nunca funcionou. Não vejo por que funcionaria agora. Faria a população sofrer ainda mais”, acrescenta Schifter.

Como efeito dominó, o que acontece na Venezuela repercute em Cuba. As benesses do chavismo, quando o petróleo estava em alta, tiraram o país comandado por Fidel Castro da escuridão causada pelo desmoronamento do império soviético.

Mas os tempos são outros para Cuba e seu maior aliado regional. Além dos efeitos da asfixia econômica, o regime cubano teme amargar as consequências que uma transição na Venezuela traria para a ilha.

Blog da Sandra Cohen
Portal G1

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