Zé Dirceu promete tomada do poder pelo partido
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Um dos nomes mais poderosos que já esteve à frente do
Partido dos Trabalhadores, José Dirceu, preso três vezes por participar dos
dois maiores escândalos de corrupção da história do Brasil, no Mensalão e
Petrolão, declarou em entrevista ao jornal espanhol El Pais que “é uma
questão de tempo” para os petistas retornarem ao poder, independentemente do
resultado das eleições.
Ao fugir da pergunta se o PT teria participação em um
suposto “momento de ódio” que o Brasil estaria atravessando, Dirceu defendeu
Lula, também condenado por corrupção, e atribuiu o cenário atual ao “golpe”
(impeachment de Dilma) e a Lava Jato. E completou: “De certa maneira, há um
sentimento de que houve uma injustiça com Lula, que o Lula é perseguido. E
quando se diz que alguém é perseguido, você não entra mais no mérito de por que
a pessoa está respondendo por um suposto crime, você parte do princípio que ele
é perseguido”.
O jornal perguntou se existiria a possibilidade de o PT
vencer as eleições presidenciais neste ano, mas “não levar”. Foi quando o
ex-homem forte da esquerda brasileira disparou: “Acho improvável que o Brasil
caminhará para um desastre total. Na comunidade internacional isso não vai ser
aceito. E dentro do país é uma questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós
vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição.”
A entrevista foi dada em meio à campanha de divulgação do
livro com as memórias de José Dirceu. Além disso, o histórico petista se mantém
ativo na política, articulando, por exemplo, o apoio do MDB para a candidatura
de Fernando Haddad. O MDB, é bom lembrar, foi um dos partidos que mais
trabalharam pela deposição da ex-presidente Dilma, fato considerado como
“golpe” por Dirceu e militantes radicais.
Segundo reportagem de Débora Álvares, publicada na
semana passada pela Gazeta do Povo, o ex-ministro petista atua nos bastidores
da legenda trabalhista e mantém conversas com antigos aliados do MDB para uma
futura aliança com Fernando Haddad em eventual segundo turno para presidente.
Os senadores Renan Calheiros (AL) e Eunício Oliveira (CE) estão entre os
preferidos nas conversas, mas também mantém interlocução com Jader Barbalho
(PA) e até os ex-líder do governo de Michel Temer, Romero Jucá (RR). Todos dos
MDB.
Além da contradição de acusar o MDB de golpe ao mesmo
tempo em que costura aliança com o partido, Dirceu não parece disposto a
reconhecer os erros dos governos que apoiou. Disse ao El Pais: “Eles derrubaram
a Dilma independentemente se ela estava certa ou errada, eles iam derrubar. E a
recessão, 70% dela é a crise política. Não aprovaram o ajuste dela e fizeram a
pauta bomba. Criaram uma crise política no país que ninguém comprava, ninguém
vendia e ninguém emprestava”.
Quando questionado se a prisão dos dois maiores petistas,
ele e Lula, não significava nada respondeu: “Estão presas (as cabeças do
partido) mas não param de dirigir, de comandar, de participar”. Mesmo negando
que vá participar diretamente da campanha de Haddad confessou: “Eu ajudo o PT fazendo
o que eu estou fazendo”
Gazeta do Povo (PR)