Dodge tem 15 dias para
decidir se denuncia Temer
O ministro Edson
Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), enviou para a Procuradoria-Geral da
República (PGR) o relatório final da Polícia Federal aponta haver indícios de
corrupção passiva e lavagem de dinheiro contra o presidente Michel Temer no
episódio do jantar com executivos da Odebrecht no Palácio do Jaburu, em 2014.
Segundo as investigações,
Temer recebeu da empreiteira propinas de ao menos R$ 1,43 milhão, por meio do
coronel João Baptista Lima, seu amigo pessoal. Também são investigados no mesmo
inquérito os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Minas e
Energia), também presentes no jantar.
No despacho encaminhado à
PGR, Fachin dá prazo de 15 dias para a procuradora-geral da República, Raquel
Dodge, decidir se oferece denúncia ou não no caso. Como a Constituição prevê
que o presidente não pode ser responsabilizado por atos alheios ao exercício do
mandato, o MP terá que avaliar se isso se aplica ao caso. Os fatos do inquérito
se referem ao período que Temer não era presidente.
A PGR pode decidir pelo
arquivamento ou pode denunciar e deixar o caso parado para continuidade na
primeira instância quando Temer deixar a função. Também pode deixar eventual
denúncia para análise dos procuradores que atuam na primeira instância.
O inquérito foi aberto
após delatores da Odebrecht relatarem que, num jantar no Palácio do Jaburu,
acertaram com Temer e aliados o repasse ilícito de R$ 10 milhões em recursos em
2014. O relatório também implica outros investigados, como o candidato do MDB
ao governo de São Paulo Paulo Skaf.
Detalhes do inquérito
No caso do presidente
Temer, a PF mapeou a entrega de R$ 1,4 milhão para João Baptista Lima Filho, o
coronel Lima, amigo do emedebista. Para sustentar a tese, a PF ouviu o doleiro
Alvaro Novis, responsável pelas entregas, e anexou uma conversa de telefone em
que o próprio Lima aparece em ligação para a empresa de Novis em um dos dias
das entrega dos valores.
Pelo teor da conversa, resta inconteste que,
ao ser informado sobre a chegada da encomenda, João Baptista Lima Filho
informou que estava distante do local, solicitando que o horário fosse
remarcado para as 15h, informação essa que acabou se refletindo nos diálogos
mantidos via Skype”, diz trecho do relatório sobre a conversa.
A ligação para a empresa
do doleiro se deu às 10h25 de 19 de março de 2014. Cerca de uma hora depois, às
11h35, Lima ligou para um celular em nome de Temer e dois minutos depois de
falar com presidente, às 11h37, o amigo de Temer recebeu outra ligação da
empresa do doleiros responsável pelas entregas de valores.
Segundo a PF, esta última
ligação teve como “finalidade de confirmar a alteração do horário daquele dia,
assim como de ajustar os horários das entregas subsequentes, restando
estabelecido o intervalo entre 12h e 13h.” Logo após esta conversa, às 11h51,
Lima voltou a ligar para Temer com quem falou cerca de 5 minutos.
“Tais evidências indicam
fortemente que, no episódio, os valores foram recebidos pessoalmente por João
Baptista Lima Filho, na sede de sua empresa, a Argeplan”, diz a PF. Além na
entrega no dia 19, a PF mapeou outras duas realizadas nos dias 20 e 21. Em
todas, os investigadores confrontaram a versão de Alvaro Novis com as ligações
do coronel Lima para a empresa do doleiro.
A PF ainda encontrou uma
outra ligação entre Lima e um funcionário da empresa de Novis. na conversa, o
funcionário questiona Lima se as três “reuniões” haviam sido realizadas
corretamente. “Tudo bem, tudo bem. A última, a da sexta feira, em que foi
entregue ai ao Silva as atas, elas não foram iguais às atas anteriores, né?
Ficou um pouco abaixo”, respondeu Lima
“A eloquência dos indícios
acima colacionados torna imposítiva a conclusão de que João Baptista Lima
Filho, no interesse do Exmo. Sr. Presidente da República, Michel Temer, recebeu
os valores encaminhados pela Odebrecht em atenção à solicitação do Ministro
Moreira Franco”, concluiu a PF.
Sobre Skaf, o relatório da
PF aponta que o candidato ao governo de São Paulo recebeu R$ 5.169.160,00 entre
agosto e outubro de 2014 por meio de Duda Mendonça como forma de custear gastos
em sua campanha eleitoral. De acordo com a PF, os valores foram omitidos na
prestação de contas à Justiça Eleitoral, o que enquadraria Skaf no crime de
“caixa 2”, previsto no artigo 350 do Código Eleitoral.
Gazeta do Povo