O ministro do STF Ricardo
Lewandowski mandou prender um passageiro do seu voo de São Paulo para Brasília.
O passageiro havia dito a Lewandowski que “o STF é uma vergonha”. No
desembarque em Brasília, a Polícia Federal já estava a postos para cumprir a ordem
do ministro.
Viu como a Fernanda Lima e
o pessoal da resistência de auditório tinham razão ao gritar contra a ameaça do
autoritarismo? Olha ele aí. A única diferença é que o arroubo autoritário
contra a liberdade de expressão proveio, nesse caso, de um petista fantasiado
de juiz. Aí a resistência de auditório some, porque arbitrariedade companheira
pode.
Ricardo Lewandowski
deveria ter aproveitado seu jato de moralidade e mandado remover, naquele dia
mesmo, todos os espelhos da rua residência. Vergonha nunca mais.
Para quem não está ligando
o nome à toga, Lewandowski é aquele que foi flagrado, ao raiar da Lava Jato,
numa reunião secreta em Portugal com a então presidente da República Dilma
Rousseff. Os comandantes dos poderes Executivo e Judiciário se encontrando às
escondidas do outro lado do oceano, em plena decolagem da maior operação
anticorrupção da história (envolvendo o partido governante), só podia se tratar
de duas coisas: amor ou poesia.
Certamente largaram tudo
no Brasil e se mandaram para Portugal em busca de um pouco de paz para
mergulhar em Fernando Pessoa e Luis de Camões. Navegar é preciso, despistar a
polícia também.
Cerca de um ano depois,
novo momento poético unindo esses dois personagens lendários da vida
brasileira: Dilma Rousseff sofre o impeachment e Ricardo Lewandowski,
transformando a Constituição em poesia marginal (Manual do Covarde, página 34),
mantém os direitos políticos da companheira cassada. Nunca mais despreze o
valor de um passeio discreto a Portugal.
É bem verdade que, se não
fosse o companheiro Lewandowski – o selvagem do avião – você jamais poderia ter
visto a ex-presidenta mulher sendo escorraçada pelas urnas dois anos depois.
Obrigado, Lewa.
À parte esse belo
espetáculo estético-eleitoral, porém, o fato é que a licença para Dilma sair
zanzando pelo mundo de primeira classe contando história triste de progressista
injustiçada foi um doce, romântico e proverbial escândalo. De saída, a lenda do
golpe contra a mulher sapiens foi a maior fonte de outra lenda poderosa – a do
Lula preso político.
E esta foi a base da
operação para tumultuar a eleição presidencial deste ano, com o auxílio luxuoso
de boa parte da imprensa internacional e da picaretagem panfletária pendurada
na ONU.
Lewandowski, o selvagem do
avião, foi visto bem no meio do tumulto eleitoral lutando por uma entrevista de
Lula de dentro da cadeia. Agora, segure a emoção com tanta solidariedade e
pergunte rapidamente ao Google como o companheiro Lewa foi parar no Supremo. Se
estiver em público, esconda os olhos, porque você vai chorar.
O passageiro foi detido
pela PF porque disse que o STF é uma vergonha. Já que a resistência de
auditório ao autoritarismo continua em seu silêncio de chumbo, vamos socorrer o
passageiro amordaçado complementando sua mensagem:
O STF é uma vergonha
porque inocentou a quadrilha do mensalão (Luis Roberto Barroso: “quem está
preso tem pressa”);
O STF é uma vergonha
porque blindou Dilma, de mãos dadas com Rodrigo Janot, e fez assim uma
avalanche de crimes do petrolão morrer na praia;
O STF é uma vergonha
porque tentou sabotar o impeachment com uma intervenção ditatorial (alô,
Fernanda) no Congresso Nacional;
O STF é uma vergonha
porque abençoou, em rito sumário, a conspiração de Janot, Joesley, Miller e cia
para derrubar um presidente no grito e asilar um criminoso confesso em Nova
York;
O STF é uma vergonha
porque tentou evitar a prisão de Lula transformando um julgamento de habeas
corpus em circo, com direito a efeito suspensivo e outras marmeladas,
desmontadas pelo povo na rua;
O STF é uma vergonha
porque soltou José Dirceu na mão grande;
O STF é uma vergonha,
querido selvagem do avião, porque está cheio de petistas como você.
Guilherme Fiuza
Gazeta do Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário