Essa é uma história muito
antiga no futebol. Principalmente aqui no Rio Grande do Sul onde, na realidade,
temos apenas dois times. Aqui, quem não é colorado é gremista e vice versa.
Alguns afirmam que torcem pelos times de suas cidades, mas todos são, de alguma
forma, gremistas ou colorados.
A realidade é que, sem
nenhuma dúvida, um depende do outro. Quando um está em alta, o outro está em
baixa. E assim tem sido por todos os tempos. Mas é inegável que a grandeza de
um está proporcionalmente ligada à grandeza do outro. Não existiria o Grêmio se não existisse o Internacional, bem como não existiria o
grande Inter se não existisse o grande Grêmio.
Pois foi da instabilidade
de um e de outro que surgiu a expressão “a flauta é livre”. Existem torcedores,
e não são poucos, que torcem muito mais pelo fracasso do adversário que
propriamente pela vitória do time do coração. Pelo menos foi o que, mais uma
vez, tive oportunidade de viver na noite de ontem.
Fiquei no meu escritório
assistindo ao jogo do Internacional contra o Atlético Mineiro, duas equipes que
demonstram a cada partida que não passam de times médios, sem craques e que já
alcançaram, pela mediocridade de suas equipes, um patamar mais alto do que o
merecido.
Aliás, o futebol
brasileiro está em nível muito baixo como um todo. Se a senhora ou o senhor
pensar um pouco, sem colocar o coração no lugar do cérebro, vai concordar que não
temos, pelo menos até aqui, um grande time, um conjunto de destaque no
Brasileirão. Salva-se o Palmeiras, que gastou muito e tem um plantel acima do
razoável. O resto...
Ontem os dois times de
Porto Alegre perderam. Derrotas que se explicam por si só. O Inter no Beira Rio
e o Grêmio no Maracanã. Normal, pelo que apresentaram ou pelo que não
apresentaram no campo. O colorado, então, deixou de ganhar a partida duas vezes
por absoluta falta de um matador, de um centro avante que decida na hora que
precisa. Já o tricolor gaúcho, repetiu os mesmos defeitos de sempre e, tirando
a voluntariedade demonstrada sob o comando de Renato, que muito mais reclama e
passa a culpa para o time, repetiu os erros de sempre e a dependência de um ou
outro jogador que, caso não consiga jogar bem, prejudica todo o time.
Mas voltando ao título da
crônica de hoje, logo após a derrota do Inter, gremistas da minha rua
festejaram, gritaram soltaram foguetes e comemoram a derrota colorada como se
festejassem a vitória do seu time. Esqueceram que o Grêmio jogaria logo a
seguir.
A festa da torcida
gremista murchou aos poucos e, aos poucos, o silêncio foi tomando conta dos que
gritavam e soltavam foguetes. Quando o Flamengo fez o segundo, muitos devem ter desligado a
televisão e o rádio.
É a história da flauta
livre. É a confirmação de que a derrota do adversário tem um sabor maior do que
a própria vitória do time do coração. Foi o que aconteceu ontem: primeiro a
festa, depois o silêncio.
Uma frase ficou na minha
lembrança. Quando os gremistas soltaram os foguetes após o segundo gol do
Atlético, alguém foi para a janela, certamente um colorado, e perguntou: “os
foguetes sobraram da Libertadores?”
Definitivamente, na
vitória ou na derrota, a flauta é livre!
Machado Filho
Nenhum comentário:
Postar um comentário