terça-feira, 23 de outubro de 2018

➤COMENTÁRIO

Nelson Matzenbacher Ferrão*

 

Nunca me imaginei dizendo isto, mas... Pois neste momento que o País atravessa, em que se testemunha um movimento popular nunca visto até agora - sem entrar em considerações ou juízos de valor sobre suas motivações sócio-político-ideológicas, pois não é isto o importante -, me trouxe uma desagradável revelação: alguns dos grandes grupos de mídia estão, definitiva e celeremente, se encaminhando pro fim.

E a razão é simples: como qualquer fornecedor de serviços ou produtos, perderam a confiança de grande parte de seus consumidores. A sucessão de manipulações de notícias, seja por destacar algumas e esconder outras, por titular matérias de forma propositadamente errada, por não dar a devida e necessária relevância a determinados acontecimentos - por exemplo, ao que aconteceu no país neste domingo -, enquanto mancheteiam informações graves que não se sustentam em evidências, são a prova disto.

Os jornais impressos e seus sites se "acanharam" em mostrar as multidões nas ruas. O mesmo fizeram nos canais de TV aberta ou fechada. Destacam como verdadeiros boatos e, no dia seguinte, sequer os suítam. Manchete num dia, nem nota de rodapé no outro.

Estas decisões "editoriais" equivocadas e claramente tendenciosas ou "covardes" acabam potencializando os confrontos entre apoiadores dos dois candidatos e elevando perigosamente a temperatura das eleições. Isto, pra qualquer observador que tenha o mínimo bom senso, revela falta de ética e irresponsabilidade.

Não importa nem mesmo saber o que os levou a agirem assim, se foi por ideologia política ou se por conveniência financeira dos seus negócios, mas alguns dos até então grandes jornais e redes de televisão se apequenaram.

Viraram folhetins, pasquins! E, com isto, não cumpriram seu compromisso com a sociedade, que é fornecer uma informação acurada, íntegra, o mais perto possível da perfeição. 

Era sabida e reconhecida a disruptura do negócio jornal/papel, sufocado no seu modelo ultrapassado pelas novas tecnologias da informação.

Mas o que se pode observar hoje é muito mais do que isto: é uma crescente e, quem sabe, irreversível crise de confiança em relação a certas grandes empresas de produção de conteúdos jornalísticos. Em quaisquer plataformas.

Quantos de nós já não se informam por meios "alternativos", nos quais encontramos o que procuramos com um grau de confiança elevado? As redes sociais são avassaladoras, pro bem ou pro mal! Importante ter consciência disto! Mas elas estão substituindo em uma velocidade inesperada os veículos "tradicionais".

 Aí fica uma questão extremamente delicada em aberto: e o jornalismo de verdade - não este que se vê aí criando climas, incentivando o conflito, distorcendo fatos -, aquele protagonista fundamental nos regimes democráticos, como se sairá desta? Torço, como cidadão, que empresários e sociedade organizada encontrem um caminho. E rápido! O "vácuo" não pode ser ocupado por uma alternativa ainda pior do que as que temos hoje...

*Jornalista

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