João Domingos
A carta do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, na qual ele faz um apelo à união das candidaturas de
centro para deter a “marcha da insensatez”, parece ter vindo tarde demais.
Faltam apenas 15 dias para o primeiro turno da eleição. Uma virada agora, se
não impossível, parece pouco provável quando se leva em conta o resultado das
pesquisas sobre intenção de voto. Mesmo que as pesquisas sirvam apenas como
parâmetro para as campanhas, pois quem decide eleição é o eleitor, suas
projeções de resultados são feitas em bases científicas. Não dá para
desconhecer que a situação do centro é ruim.
Levando-se em conta a
liderança que tem, o poder de convencimento de sua famosa lábia e a defesa que
faz da democracia, é de se lamentar que Fernando Henrique tenha demorado para
levantar essa bandeira. Desde antes de junho, quando foi lançado o manifesto “Por
um polo democrático e reformista”, todo mundo já tinha uma ideia de que poderia
haver uma polarização da eleição pelos extremos.
Se errou ao demorar a
fazer o apelo pela união do centro, Fernando Henrique errou também ao sugerir,
pelo Twitter, que a liderança do processo seja entregue a Geraldo Alckmin, que
é de seu partido. Isso fez com que logo a candidata da Rede, Marina Silva,
respondesse a ele pela mesma rede social: “Ninguém chama para tirar as medidas
com a roupa pronta.” Ciro Gomes, do PDT, que como Fernando Henrique foi
ministro da Fazenda de Itamar Franco, está em melhor situação do que Geraldo
Alckmin nas pesquisas sobre intenção de voto. Se fosse pelo critério de melhor
posição, poderia ser ele o escolhido. Nesses casos, é preciso trabalhar com a
realidade do momento, diz o pragmatismo político.
A necessidade de se conter
a “marcha da insensatez” à qual Fernando Henrique se refere foi reforçada ontem
por um manifesto de intelectuais do PSDB. Eles também defenderam a formação de
uma força-tarefa para tornar Geraldo Alckmin competitivo. O que passa a ideia
de que, tudo bem, deve-se fazer a união do centro, mas a força hegemônica é o
PSDB. Difícil atrair apoios assim, em que a negociação se dará em cima de algo
que já está decidido.
Portal Estadão – 22/09/2018
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